Sandro Cunha dos Santos *
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Mário Machado Cunha, meu avô materno, nasceu em Ribeirão Preto em março de 1913 e completaria 110 anos se estivesse vivo. Filho de mãe italiana e de pai ausente, viveu a pobreza extrema na pele e obviamente começou a trabalhar muito cedo e teve que abandonar os estudos para sustentar a família. Ainda solteiro ajudou os irmãos e sobrinhos a sobreviverem e sempre teve o reconhecimento desses pelo seu carinho e atenção à família.
O apelido de Ventania, disse ele, conquistou quando era goleiro e voava para pegar a bola. Para nós o Ventania era uma característica do gênio dele, impetuoso, lutador e sábio, pois sabia muito bem que para comer arroz e feijão não precisava se matar. Como todo ser humano, Ventania era paradoxal, temperamental e às vezes agressivo, mas tinha um coração do tamanho do universo.
A ironia e o bom humor eram suas marcas principais. Nas sextas no final da tarde ele passava na pensão da minha mãe para me levar com ele e passar o fim de semana na Vila Branca. Eu adorava a companhia dele. Me punha na garupa da bicicleta e bora comprar carne, salsicha e linguiça no Oranges. Tudo comprado ele parava no bar do Marino e cerveja pra ele e pastel e guaraná pra mim. De lá seguimos o périplo dos botecos e até chegar em casa eu comia três pastéis, dois doces e três guaranás….kkkk.
Homem generoso era o Ventania, e tinha o principal, amor à família e empatia. Devo a ele a minha formação, pois com seus trabalhos na pintura para o dono da Papelaria Viana, ele conseguiu comprar meu material escolar e do meu irmão para podermos estudar o primário. Fico feliz, pois no final da sua vida e até a sua morte pude ser um companheiro para ele. Nos entendíamos muito bem e pudemos viver e interagir com amor e muito carinho. Saravá, vô Ventania! Axé!
* Professor e músico do grupo Os Etanóis