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O homem e sua caminhada

Minhas caminhadas matinais no condomínio onde resido são de duas ordens : as acompanhadas por companheiros constantes ou eventu­ais, devidamente protegidos pela distância, quando pomos em dia nosso papo, discutimos filmes, livros, comidas, fornecedores de queijo e vinho. E as solitárias, quando me atraso em decorrência do meu home office e os companheiros já estão com seus percursos cumpridos.

Nestas caminhadas, sozinho, aproveito para observar a exube­rante flora que circunda os caminhos, algumas flores neste período de inverno, ouço o canto de várias aves invisíveis no verde e o latido de um cão distante. Pouco a pouco vou me perdendo em pensa­mentos e divago sobre o papel do homem frente à natureza, gigante por dominá-la e, ao mesmo tempo, um ser tão frágil. De onde viemos? Para onde vamos?

Minha mulher, que é bióloga, me contou outro dia que a alface tem 40% dos nossos genes. O rato mais de 90% e o porco está por aí. Portanto, todos os seres viventes na Terra tivemos uma origem comum, mas nos desenvolvemos de maneira diferente, povoando o mundo com milhões de espécies. Algumas, nossos companheiros, como os bichos, as plantas, as pedras. Outros, invisíveis a nossos olhos, mas que vivem e às vezes nos ameaçam de morte, como agora a covid-19 que se abate sobre todos.

À medida que a velocidade da caminhada aumenta, eu reviso a grande aventura do homem, desde quando o Sapiens saiu da África em direção ao Crescente Fértil, depois Europa e Ásia e finalmente às Américas, quer aqui tenha chegado pela ponte de neve que unia a Eurásia, quer por barcos, como dizem as duas teorias para o fato.

Caçadores e coletores e, portanto nômades, os homens des­cobriram que poderiam plantar os grãos que comiam, nascendo assim a agricultura. Com ela, veio a domesticação de animais que aumentavam a capacidade produtiva. Surgiram as cidades e os grandes impérios. Assírios, babilônios, egípcios, mongóis que foram transformando a vida dos homens. Politeístas, criavam sempre um deus para explicar o que não conseguiam entender, mas, desde logo passaram a pensar a razão de sua existência: o que somos, de onde viemos, para onde vamos.

Percebo que encantado na divagação diminuí a marcha e volto a apertar o passo da caminhada. E continuo divagando. Os gregos aperfeiçoaram a filosofia e nos legaram fundamentos sobre nós e o mundo até hoje válidos. Os romanos, com seu pragmatismo, dominaram o mundo então conhecido. O Cristianismo e o Islã revolucionaram com seu Deus único. Na Europa, a civilização cresce sob a influência das palavras do Cristo, embora em seu nome mais tarde se produzam barbaridades, como a evangelização forçada, que deságua na Inquisição.

Florescem os grandes pensadores, como Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Averróis, Abelardo e que ajudam a consolidar o que seria conhecido como civilização ocidental. A Idade Média, que muitos chamam de A Noite dos 10 Séculos, na realidade é um fértil período de concretização de novas ideias. Começam as grandes na­vegações, novos mundos são descobertos, cai a ideia de que a Terra é plana e centro do universo.

À aceitação do conhecimento evangélico, sobrepõe-se o domínio da ciência. Começam os tempos do Iluminismo e Renascimento, os ho­mens são valorizados e começam a fermentar ideias de que todos somos ou deveríamos ser iguais. A Revolução Industrial é também uma revolu­ção social, abrindo caminho para novas formas de produção e pavimenta a entrada das democracias. O relógio me avisa que já completei os meus cinco quilômetros diários. Retorno ao meu exercício e meu caminho de volta é povoado pelas árvores, pelas flores e pelos pássaros.

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