A universalização do ensino no Brasil nunca foi prioridade no Segundo Império. Os gabinetes que se sucediam e que chegavam ao governo graças às manobras do Imperador eram todos fisiocratas, ou seja, acreditavam que a única atividade econômica legítima era a exploração da terra, feita, no Brasil, pelo uso da mão de obra escrava e analfabeta. Mesmo para a elites, o ensino não merecia muito interesse e as escolas se limitavam a pessoas instruídas que ofereciam o aprendizado das primeiras letras, em domicílio ou em pequenas escolas. Em 1889, quando terminou o Império, o percentual de analfabetos do país atingia 83 % da população.
Com o advento da República, influenciadas pela teoria positivista de Augusto Comte, surgiram as ideias de estender o ensino ao maior número possível de jovens, com o objetivo de combater o analfabetismo e reconhecendo a educação como forma de desenvolvimento do País.
O Estado de São Paulo foi, mais uma vez, pioneiro desta ideia e, em 1893 (quatro anos de República) criaram-se os Grupos Escolares, que reuniam num só ambiente as classes municipais dispersas da cidade, subordinadas a uma única diretriz de ensino e desenvolvimento dos professores. Era um projeto renovador e ousado.
Para a materialização e padronização das instalações, recorreu-se ao arquiteto belga José van Humbeck , que estandardizou as plantas escolares e plantou escolas pelo estado; na nossa região em mais de oito cidades. Assim, o prédio e a escola passaram a representar um passo importante para a preparação dos jovens.
O Grupo Escolar Guimarães Júnior de nossa cidade, nosso primeiro Grupo Escolar, participou desse projeto e foi a nossa primeira escola pública estadual. Criado em 1º de julho de 1895 (seis anos de República), existe uma controvérsia entre os historiadores locais quanto a data efetiva do início de seu funcionamento. Há os que dizem que o Grupo Escolar se instalou logo em seguida à criação, em prédios provisórios cedidos pela Prefeitura e outros que datam o 1º. de julho de 1901 como este início, também em prédios provisórios.
Acho esta hipótese a mais plausível. O prédio atual do Guimarães Jr. só foi inaugurado em 1920, em terreno doado ao Estado pelo fazendeiro Arthur Diederichsen.Durante os anos vindouros, sofreria várias reformas e acréscimos que descaracterizaram o projeto original belga.
O primeiro Grupo Escolar recebeu a denominação de Dr. Guimarães Jr., em homenagem a João Alves Guimarães Júnior, médico nascido em Jacareí, neste estado e fazendeiro em Cravinhos. Chefe político da região, foi eleito para o Senado Estadual de São Paulo (a Constituição estabelecia duas Câmaras, mesmo a nível estadual), cuja presidência exerceu por várias legislaturas. Foi um dos fundadores do Partido Republicano Paulista e, juntamente com Luís Pereira Barreto, fundamental para a criação e instalação da primeira escola pública estadual de Ribeirão Preto.
Pelo Guimarães Jr. passaram várias gerações de ribeirão -pretanos. Seu ensino sempre foi modelo para nossa cidade. Seus professores, valorizados durante muito tempo, foram fundamentais para o desenvolvimento de nossa comunidade. Hoje, nesta onda de desvalorização do ensino público que apareceu no Brasil já a bastante tempo, a escola não tem mais o prestígio de ontem. Mas, vive na memória e na gratidão dos que tiveram o privilégio de frequentá-la, nos quais se inclui este cronista.