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Eduardo Molina: O futuro econômico da cidade

FOTOS: ALFREDO RISK

Eduardo Molina, primeiro a comandar a recém-criada Secre­taria de Inovação e Desenvolvi­mento Econômico de Ribeirão Preto, afirma que a cidade tem condições para se consolidar como uma das mais importantes metrópoles do país. Para isso, o governo tem investido em várias frentes para gerar desenvolvi­mento econômico. Uma delas, a Lei de Parcelamento, Uso e Ocu­pação do Solo com o objetivo de viabilizar novas regiões reserva­das para as empresas, criando as condições para o município ter “um mercado com preços com­petitivos com o de outros”.

Tribuna Ribeirão – A Secre­taria que o senhor comanda é nova. Quais são os seus princi­pais projetos?
Eduardo Molina – É im­portante registrar que a cria­ção da Secretaria de Inovação e Desenvolvimento foi um passo importante, dado pelo prefeito Nogueira, no sentido de estrutu­rar as bases para uma política municipal de Desenvolvimen­to Econômico e de Inovação. A primeira e talvez mais impor­tante prioridade é atuar para melhorar o ambiente regula­tório, facilitando a atração de novos investimentos e também o progresso das empresas já instaladas. Isso é fundamental porque novos investimentos significam mais trabalho, em­prego e renda, melhorando a vida das pessoas.
O ambiente regulatório-, ou seja, as leis-, é fundamental para a decisão de instalação das empresas, pois ele é que determina como os funcioná­rios da Prefeitura irão tratar os projetos de investimento que buscam a cidade.
E mudar leis não é simples. Elas são o fruto de uma constru­ção feita ao longo de décadas, in­corporando a visão dos agentes públicos, eleitos e funcionários de carreira, e também da parcela mais ativa da sociedade.
Em função disso, em cola­boração com as Secretarias de Planejamento e Meio Ambien­te, estamos propondo apri­moramentos na Lei de Par­celamento, Uso e Ocupação do Solo, no Código do Meio Ambiente e em outros regra­mentos no sentido de elimi­nar exigências desnecessárias e simplificar processos, com o objetivo de agilizar as licen­ças sem perda da qualidade da análise. Também estamos pro­pondo a ampliação das regi­ões do território do município que podem receber indústrias e projetos de logística.
Outro trabalho nesse sentido é que criamos uma Central de Atendimento ao Empreende­dor (está no site da Secretaria), com foco em apoiar o trâmite de novos investimentos. Nesses 9 meses já nos reunimos com quase uma centena de empresas e ajudamos dezenas de proje­tos. Esse trabalho com certeza irá crescer conforme a Secre­taria se tornar mais conhecida.

Tribuna Ribeirão – Em épo­ca de pandemia o que o poder público pode fazer para mini­mizar os efeitos da crise econô­mica na cidade?
Eduardo Molina – É im­portante destacar que quem tem mais poder de fogo para minimizar os efeitos de uma crise, como a da pandemia, é o Governo Federal, pois ele, com autorização do Congresso pode emitir moeda para apoiar os mais necessitados o que em par­te acabou ocorrendo com os be­nefícios que foram dados para a população mais carente e linhas de crédito para empresas.
Como os Estados e Municí­pios são obrigados a cumprir o orçamento, por não terem esse poder de emitir dinheiro, é na­tural que sua capacidade de atu­ação seja mais restrita. Lembro que as consequências da crise batem principalmente na porta dos prefeitos, pois é nas cidades que as pessoas vivem e ganham o seu sustento.
Ribeirão Preto teve durante a pandemia, e continua tendo nesta fase de retomada, um de­sempenho em empregos me­lhor do que a maioria das cida­des. Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desem­pregados), divulgado esta sema­na, foram 17.731 novos empre­gos nos últimos 12 meses e 1.944 vagas só no mês de agosto.

Tribuna Ribeirão – Que projetos e ações estão sendo implantados em relação à ge­ração de empregos?
Eduardo Molina – Prin­cipalmente desde maio, em parceria com entidades e o Governo do Estado viabi­lizamos cursos voltados à geração de renda. Até o final do ano serão mais de 1.000 pessoas atendidas. Esse traba­lho irá continuar ao longo dos próxi­mos anos.
Estamos dialogando com várias empresas que querem investir em Ribeirão Preto e com outras que já estão aqui, mas querem ampliar. Mas isso demora um pouco, pois a deci­são de investir depende de ter confiança no crescimento do mercado, disponibilidade de re­cursos e um bom tempo entre a decisão, projeto, aprovações, construção e operação.
Temos muitas notícias nes­se sentido, pois apesar da crise, houve vários anúncios de no­vos investimentos nesses últi­mos dois anos. Alguns exem­plos são o projeto da LOG CP, um grande empreendimento logístico com potencial de ge­rar milhares de empregos, a concessão do Aeroporto que irá atrair novos investimen­tos, três Street Malls, vários novos supermercados e ata­cadistas e um centro médico importante no Jardim Olhos D’Água, entre outros.
Mas tem um dado que nos preocupa muito que é o cresci­mento do desemprego estrutu­ral, aquele gerado pelo fato de em muitas profissões o conhe­cimento dos trabalhadores estar se tornando obsoleto em função das novas tecnologias. Há vagas que não são ocupadas porque os trabalhadores não têm os co­nhecimentos que elas exigem e do outro lado não há vagas para os conhecimentos que os traba­lhadores possuem.
Esse fenômeno é mundial, mas traz um enorme desafio para as pessoas e para a sociedade. É urgente criar oportunidades para que os adultos tenham acesso a novas oportunidades de forma­ção, direcionadas para a obtenção de trabalho e geração de renda em modelos diferentes dos atuais. Cursos mais curtos, práticos, e que ofereçam qualificação sequencial em um processo de educação ao longo de toda a vida, com atuali­zações frequentes.
Nesse sentido estamos tra­balhando para ampliar ainda mais esse número de vagas. Isso na Secreta­ria de Inovação e Desenvolvi­mento. Lembro que a Prefeitura tem equipamen­tos que também fazem esse pa­pel.
Na qualificação de pessoas Ribeirão é uma cidade privi­legiada, pois também temos um grande Sistema S, com SE­BRAE, SENAI, SENAC, SENAT e SENAR e inúmeras Ongs e outras instituições públicas e privadas que realizam trabalho de formação. Entretanto, apesar disso acreditamos que teremos que fazer ainda mais para dar conta do desafio.

Tribuna Ribeirão – Ribei­rão Preto sempre foi conside­rada uma cidade com vocação para a prestação de serviços. Existem projetos e parcerias para otimizar essa vocação?
Eduardo Molina – Ribeirão Preto é uma cidade pujante, com caráter cosmopolita. Entendo que temos várias vocações e a ci­dade ganhará se explorar todas elas, pois isso dará maior estabi­lidade à sua economia. Quanto mais cestas com os ovos, menor será o risco de eles se quebrarem ao mesmo tempo.
Por que digo isso, a trans­formação digital, acelerada pela pandemia, está mudando inúmeros setores. Cresce o En­sino à Distância, cresce a tele­medicina, cresce o comércio eletrônico e inúmeras profis­sões, principalmente no setor de serviços, são afetadas pela automação e robotização, tra­zendo grandes mudanças. Um dos nossos próximos passos é começar a construir um Plano Municipal de Desenvolvimen­to Econômico e Inovação.
A primeira base, que hoje é o principal fator de desenvol­vimento, é o capital humano e para o Brasil estamos bem po­sicionados: somos uma cidade grande, com mais de 720 mil habitantes e uma população com indicadores de educação superiores à média brasileira. Precisamos fortalecer isso ainda mais, educando cada vez melhor as crianças e jovens e também requalificando os adultos para as novas profissões.
A segunda grande base é que temos fortalezas para as quais devemos dar mais visibilidade, pois irão atrair ainda mais inves­timentos e clientes para Ribei­rão. Como exemplo de algumas dessas fortalezas cito a qualidade dos nossos serviços de saúde, a qualidade do nosso ensino téc­nico e superior, nossos serviços de gastronomia e hotelaria e o nosso comércio, varejista e ata­cadista, diversificado e sofisti­cado. Também possuímos um importante ecossistema de ino­vação, com centenas de startups.
Possuímos também uma base industrial importante e te­mos vocação e potencial para ampliá-la ainda mais, bem como temos uma vocação enor­me, que pode ser melhor explo­rada, para empreendimentos de logística e distribuição. Outras vocações já instaladas e com enorme potencial de crescimen­to são o comércio eletrônico, o desenvolvimento de tecnologias e as empresas de hard science, como as de biotecnologia.

“É urgente criar oportunidades para que os adultos tenham acesso a novas oportunidades de formação, direcionadas para a obtenção de trabalho e geração de renda em modelos diferentes dos atuais. Cursos mais curtos, práticos, e que ofereçam qualificação sequencial em um processo de educação ao longo de toda a vida, com atualizações frequentes”

Tribuna Ribeirão – Em re­lação a trazer novas empresas para a cidade, como o poder público municipal pode ajudar nesse processo?
Eduardo Molina – Em al­guns setores não recebemos mais investimentos porque não criamos ainda as condições para que eles ocorram. O primeiro passo para atrair investimentos é ter locais adequados para as em­presas se instalarem e quem co­nhece bem a vida econômica de Ribeirão percebe que os distritos empresarias mais tradicionais, como o da Lagoinha, o Quito Junqueira, o Avelino, que são privados, e o distrito da Prefeitu­ra, estão praticamente tomados e por isso muitas empresas têm dificuldades de encontrar terre­nos e áreas com padrão adequa­do para se instalar, em especial terrenos grandes.
Pensando em grandes e médias empresas, com empre­endimentos mais complexos, o poder público também pode ajudar muito se conseguir agi­lizar o trâmite de licenciamento dos projetos de instalação e ope­ração, pois os investimentos são definidos em função de cená­rios de mercado e de custo que mudam com o tempo. Muitas cidades têm na agilidade do li­cenciamento o seu principal di­ferencial para atração de novos investimentos. Nesse sentido é que o prefeito Nogueira nos pe­diu, que em conjunto com ou­tras secretarias, priorizássemos o ambiente regulatório.
Se conseguirmos isso: lo­cais adequados e agilidade de licenciamento as coisas acon­tecerão por si só. Temos qua­lidade de vida, boa infraestru­tura, bons serviços públicos e capital humano. Daí bora a minha Secretaria atender os interessados e bater perna atrás de novos investimentos.

Tribuna Ribeirão – Ribei­rão Preto tinha até 14 de se­tembro, segundo dados, da Secretaria da Fazenda, 35.568 MEIs ativos. Existem ações públicas para qualificar e fazer com que estes empreendedores possam progredir?
Eduardo Molina – Na ver­dade o número que temos, da Receita Federal, é ainda maior, 60.953 MEIs em 31 de agosto, o que significa que parte deles não tem cadastro na Prefeitura. Temos clareza de que dos MEIs surgirão uma grande parte das empresas do futuro. Muitos de­les estão crescendo rapidamente.
Vários estudos apontam que muitas das dificuldades desses empreendedores estão em conhecer mais sobre técni­cas de venda, marketing digi­tal, gestão de pessoas, organi­zação financeira, etc.
Faz vários meses que esta­mos articulando um projeto para apoiar os MEIs, principal­mente na sua qualificação. Esse projeto envolve várias institui­ções, porém tendo como par­ceiro principal o Sebrae. Está no forno e creio que teremos novidades logo.

Tribuna Ribeirão – Empre­sários e comerciantes cobram da Prefeitura a isenção de im­postos e ações para o setor em função da crise causada pela pandemia do coronavírus. Que avaliação o senhor faz des­tas reivindicações?
Eduardo Molina – Parte significativa dos empresários sofreu muito com a pandemia, como o resto da população. Não só com o aspecto econômico, mas também porque sentiram a mesma angústia e impotência que todos nós sentimos diante da pandemia dessa doença. As reivindicações dos empresários são legitimas como as de outros setores, mas é uma questão de caixa. Olhando os números é possível perceber que não havia como atender essas demandas sem comprometer as finanças do município e prejudicar os serviços prestados à população. Em todos os países quem lide­rou essa ajuda foi o Governo Federal, justamente porque é o único com o poder legal de expandir a oferta de moeda, de dinheiro. Alguns países fizeram mais e outros menos, mas em poucas situações os governos lo­cais tiveram recursos para cum­prir esse papel.

Tribuna Ribeirão – Ribei­rão Preto é um bom lugar para se investir? Por quê?
Eduardo Molina – Ribeirão Preto é uma excelente cidade para investir e é uma porta de acesso a um grande mercado consumidor, mas pode ser ain­da melhor se aprimorar o seu ambiente regulatório, para que ocorram mais investimentos, trazendo mais impostos, empre­gos e renda. Temos que diver­sificar mais a nossa economia para nos tornarmos uma cidade ainda mais resiliente e assim en­frentar com mais tranquilidade as enormes mudanças que virão nas próximas décadas.
Temos que pensar no que fazer hoje e no ano que vem e ao mesmo tempo pensar em como plantar e adubar as se­mentes dos setores portadores de futuro, que serão o motor do nosso desenvolvimento da­qui a algumas décadas.

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