As feiras livres fazem parte do cotidiano do ribeirão-pretano há exatos 64 anos. Criadas por lei, em 1948, pelo então prefeito José Magalhães e implementadas, de fato, em 1954, pelo prefeito Condeixa Filho, elas tiveram seu primeiro ponto de funcionamento na Praça Sete de Setembro, região central da cidade. Ao longo das décadas se transformaram em referência, ponto de encontro para muita gente e ajudaram quase todos os feirantes a conseguirem fazer o chamado “pé de meia” e possibilitar com que seus filhos pudessem cursar uma faculdade.
Na década de oitenta o sucesso das feiras era tanto que a cidade chegou a ter cerca de 450 feirantes cadastrados pelo município. Entretanto, com a concorrência dos supermercados e varejões, que ganharam força a partir do final dos anos noventa, o número de barracas foi diminuindo. Atualmente, segundo números da Fiscalização Geral da Prefeitura e da Secretaria Municipal da Fazenda, órgãos responsáveis pelo controle e fiscalização do setor, existem apenas 248 feirantes cadastrados em Ribeirão Preto. O que, segundo a própria Secretaria, não significa que todos eles estejam trabalhando em uma das cinco feiras diurnas, ou na noturna, existentes no município. No total, estas feiras estão distribuídas em 35 locais ao longo da semana.
Um exemplo que evidencia como este tipo de comércio tem diminuído pode ser constatado na feira, realizada todos os domingos, na Avenida Portugal, no bairro Jardim Macedo, região centro Sul. Considerada uma das maiores da cidade, ela chegou a ter 218 barracas, mas hoje, segundo dados do setor, tem cerca de oitenta.
De acordo com o Sindicato dos Feirantes de Ribeirão Preto, apesar de terem parado de atuar, muitos comerciantes mantém o cadastro ativo para fins de contribuição previdenciária, junto ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), ou porque ainda sonham em voltar ao mercado. Este éo caso do próprio presidente do sindicato da categoria, Atílio Danese, que comanda a entidade desde 1977.
Afastado da feira livre há cinco anos, desde que sua esposa teve problemas de saúde e não pôde mais acompanhá-lo ao trabalho, Danese decidiu dar um tempo. “Como minha esposa era meu braço direito e quem me ajudava, tive que parar provisoriamente”, conta. Para ele, além da concorrência dos varejões, as feiras estão encolhendo em função da falta de interesse dos filhos dos feirantes em assumirem o negócio da família e por causa da mudança de comportamento dos consumidores. “A maioria dos filhos dos feirantes tem outras profissões, geralmente mais lucrativas e menos desgastantes. Além disso, hoje em dia, poucas pessoas têm tempo para ir à feira. Mesmo assim tenho certeza que as feiras não acabam”, diz. Vale lembrar que, para estar com a barraca montada às seis horas da manhã, como determina a legislação municipal, o feirante geralmente acorda às 3 horas da madrugada para preparar os produtos e chegar até o local de trabalho.
Terceira idade
Com a forte concorrência e a mudança no perfil do consumidor, as feiras se tornaram um local eminentemente de pessoas mais idosas. Tanto no que diz respeito aos trabalhadores como no quesito consumidor. No caso do cliente, isso se deve ao fato de que, regra geral, por serem aposentados, eles têm mais tempo livre para frequentar este tipo de comércio, que faz parte de seu cotidiano há muito tempo.
Já no caso dos feirantes, a permanência tem como principais fatores a complementação da renda familiar e a manutenção de uma atividade que os faça se sentir ativos profissionalmente. Este é o caso de Albino Sergio Rodrigues, de 70 anos, e de sua esposa Maria Margarida, de 68. Feirantes há 46 anos, eles não pensam em parar. “Gostamos muito do que fazemos e trabalhar nos faz sentir úteis”, dizem com orgulho. Foi graças à feira que eles conseguiram fazer com que os quatro filhos estudassem e fizessem faculdade.Em média, um feirante que está no mercado há muito tempo e, portanto, já tem uma clientela fixa, consegue uma renda mensal de cerca de R$ 2 mil reais.
Um dos feirantes jovens encontrados pelo Tribuna e que aposta todas as suas fichas profissionais no setor é Ronaldo Domingos Alves Filho, de 18 anos. Há cinco meses ele assumiu uma barraca onde comercializa pamonha e outros produtos feitos a partir do milho verde, na feira livre da Rua Marcondes Salgado, na região central de Ribeirão Preto. Desde os dez anos de idade Ronaldo trabalhava com o pai, que também é feirante. Entretanto, com a aposentadoria do tio, decidiu assumir o ponto que era dele e investir no próprio negócio. “Ainda não estou tendo lucro, mas sei que é um investimento para o futuro”, aposta Ronaldo que, aos domingos, vende pamonha na feira da cidade de Barrinha. “Lá, vendo muito e consigo ter lucro”, afirma. Barrinha tem 32 mil habitantes e segundo moradores da cidade, um dos principais hábitos da população, nas manhãs de domingo, é ir à feira livre.
Lei tentou dar desconto para imóveis de feiras livres
No ano passado, uma lei, aprovada pela Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto, tentou dar desconto de 50% no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para os imóveis localizados nos trechos de ruas onde são realizadas as feiras livres. De autoria do vereador Orlando Pessoti (PDT) a proposta foi aprovada, mas vetada pelo prefeito Duarte Nogueira (PSDB). Na época, os vereadores derrubaram o veto do prefeito, a lei foi promulgada e a Prefeitura deverá ingressar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) para reverter a decisão.
Segundo o autor da lei, a proposta aprovada visa compensar os prejuízos e impactos causados pelas feiras-livres às portas das casas destes contribuintes, seja pelo bloqueio de suas ruas, dificuldades para ingressar nos edifícios, perdas ou redução dos clientes no comércio do dia, montagem e desmontagem de barracas no horário comercial, acúmulo de lixo, poluição sonora, entre outros. Ele lembra, contudo, que as feiras-livres são muito importantes para a população, além de ser uma cultura já sedimentada no cotidiano das cidades. “Pela importância das feiras livres, mas sem prejudicar aqueles proprietários de imóveis localizados no trecho da rua onde ocorrem as feiras livres, o poder público tem o dever de promover essa compensação”, garante.
As ruas das feiras livres
FEIRA 1 Abrange as ruas Visconde do Rio Branco (Centro), Paulo de Frotim (Vila Virginia), Barão do Cotegipe (Vila Tibério), Bahia (Ipiranga), Goiás (Campos Elíseos) e a Avenida Portugal (Vila Seixas)
FEIRA 2 Acontece na Travessa Ceconi (Ipiranga), Comandante Marcondes Salgado (Centro), Olavo Bilac (Vila Seixas), Tereza Cristina (Campos Elíseos), Franca (Jardim Paulista), José Venâncio (Vila Virginia) e rua Dois de Julho (Vila Tibério).
FEIRA 3 É realizada nas ruas Humberto de Campos (Campos Elíseos), Bonfim (Sumarezinho), Paschoal Bardaro (Jardim Irajá), Daniel Ferrante (Jardim Castelo Branco Novo), Capitão Osório Junqueira (Jardim Independência) e Major Rubens Vaz (Campos Elíseos).
FEIRA 4 Ocupa as ruas Vereador Orlando Victaliano (Adelino Simioni), Gabriel G. Gabo (Presidente Dutra), Campinas (Quintino Facci I), Japurá (Ipiranga), Sete de Setembro (Bonfim Paulista) e Vereador Orlando Jurca (Quintino Facci II).
FEIRA 5 Acontece na rua Afonso Milena (Ribeirão Verde), Doutor Eugênio Casilo (Parque Ribeirão), Antônio Ferreira Andrade Filho (Parque Flamboyant) e Antônio Fernandes Figueiroa (Lagoinha) . Já a feira noturna é realizada na rua Marino Paterlini (Presidente. Médice), Domingos Padovan (Jardim Anhanguera), Anselmo Marques (Manoel Penna), Leopoldo José Leornade (Dom Mielle), Elpídio Faria (José Sampaio) e Fernando Mendes Garcia (Ribeirão Verde)
FEIRA NOTURNA É realizada na Rua Marino Paterlini (Jardim Presidente Médici), Rua Domingos Padovan (Jardim Anhanguera), Rua Anselmo Marques ( Bairro Manoel Penna), Rua Leopoldo José Leonarde ( Dom Miele), Rua Elpidio Faria (José Sampaio) e Rua Fernando Mendes Garcia ( Ribeirão Verde)