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O Equador e sua literatura (5): Alfredo Pareja Diezcanseco 

Rosemary Conceição dos Santos* 

Alfredo Pareja Diezcanseco (1908-1993) foi um escritor equatoriano que cresceu na cidade portuária de Guayaquil, nela trabalhando desde a adolescência por necessidades financeiras. Adolescente, testemunhou o Massacre de trabalhadores em 15 de novembro de 1922, fato este que, segundo o autor, se tornou em um dos determinantes de sua carreira literária. Iniciando-se na literatura, suas primeiras obras foram influenciadas pelo realismo social devido ao grupo literário ao qual se uniu, o Grupo Guaiaquil, cujos escritores desenvolviam uma literatura profundamente social, nela focando temas de folclore, mitologia e história da costa equatoriana. Nele, Diezcanseco, primeiro integrante a transferir os enredos de suas obras do contexto rural para o urbano, elaborou personagens assolados pela pobreza, que recorriam ao crime, e outros, para sobreviverem. Estes personagens, representando a classe média do Equador de seu tempo. 

Desta primeira fase, “O Cais” (1933) conta a história de um migrante equatoriano em Nova York e sua esposa, e “Baldomera” (1938), traz a personagem Baldomera, funcionária de bordel na costa equatoriana, que, ao conhecer Lamparita, se apaixona por ele. Este, o mais corajoso ladrão do rio Yaguachi, seria, no entender do autor, o único homem na face da Terra, que poderia lidar com o temperamento forte desta mulher. Entretanto, uma vez casados, a situação se complica quando Lamparita é ferido pela polícia após uma tentativa de assalto. Com a única renda da família dependendo exclusivamente da venda de muffins e empanadas que a negra Baldomera vende à noite, no bairro Boca del Pozo, o marido, acamado, e os filhos nas aventuras, resta a ela o alcoolismo e o papel de mãe. Um retrato de Diezcanseco de um dos bairros mais pobres de Guayaquil na década de 1920, o Guayaquil da Grande Matanza, repleto de injustiça, abuso e violência. Publicado em 1938, é a obra-prima de Alfredo Pareja Diezcanseco e um romance fundamental do realismo social equatoriano 

Numa segunda inserção na literatura, Diezcanseco decidiu retratar a história do Equador desde o Ano Novo de 1925. Desta fase, “Las tres ratas” (1944) traz as irmãs Carmelina, Eugenia e María Luisa Parrales que, após ficarem órfãs, e perderem a fazenda da família, são obrigadas a se mudar para Guayaquil, onde devem sobreviver entre injustiças e pobreza. Considerado um dos melhores e mais emblemáticos inovadores do romance latino-americano do século XX, Diezcanseco recebeu a seguinte apreciação do crítico americano Karl H. Heise sobre sua obra: “Ao percorrermos os romances de Pareja, veremos que eles são produto de uma personalidade sensível, inteligente e criticamente observadora, que tende a considerar todos os fenômenos da vida a partir de uma perspectiva ética e histórica. A variedade e originalidade de suas experiências fizeram com que Pareja examinasse continuamente seus julgamentos e até mesmo os modificasse, em certos casos. Assim, o incessante processo de mudança que ocorre no escritor se refletiu em sua obra, dando um sentido evolutivo à sua carreira”. 

Em 1956, o autor publicou o romance “La advertência”, com o qual iniciou uma nova etapa literária conhecida como Ano Novo, na qual decidiu retratar a história do Equador a partir de 1925 e que marcou uma mudança em seu discurso narrativo, mais distante do realismo social. Retratando os acontecimentos em torno da Revolução Juliana, através de um grupo de intelectuais e trabalhadores de esquerda, que se reúnem em Quito em torno da figura de um pintor chamado Luis Salgado, foca sua atenção em vários personagens do grupo, nomeadamente na enigmática Clara del Monte e no jovem inexperiente Pablo Canelos, que começa a ver Salgado como uma figura paterna. À medida que a trama avança, os personagens testemunham como os ideais da Revolução Juliana começam a ser deformados devido a brigas pessoais e ao regionalismo. Em “El aire y los recuerdos” (1959), que retoma a história de Pablo Canelos, que hoje mora em Guayaquil, o personagem se junta a um grupo de escritores e intelectuais, incluindo membros do Grupo Guayaquil, testemunhando a Guerra dos Quatro Dias. Em 1964 foi lançado “Los poderes omnímodos”, que narra os acontecimentos políticos no Equador na década de 1930 e início de 1940 sob o olhar da personagem José María Velasco. Seus dois últimos romances, a saber, “Las pequeñas estaturas” (1970), em que Pareja conta uma história simbólica através dos diálogos internos dos personagens, principalmente Redama e Ribaldo, e “La Mantícora” (1974), obra que, ao misturar o gênero narrativo com o teatral, rompe diretamente com o modelo clássico do gênero romance para contar a história da lendária criatura que dá nome ao livro. Cumpre lembrar que alguns críticos situam essas obras mais próximas, em termos narrativos, da estética do ”boom” latino-americano. Por sua vez, o esgotamento físico causado pela escrita destas duas últimas obras, especialmente “La Mantícora”, somado ao fracasso comercial de ambas no país, levou o autor a abandonar a narrativa e a dedicar-se exclusivamente a sua função de historiador. Contrariando isso, o autor recebeu o Premio Eugenio Espejo, condecoração máxima da cultura equatoriana, em reconhecimento ao seu trabalho como escritor e historiador, sempre caminhando juntos. 

Um trecho de “Las tres ratas”? “A las cinco de la mañana, con más de media hora de retraso, la «Bella Vista», cortando de babor el viento sur de la madrugada, disminuyó la marcha y comenzó a girar a la derecha en busca del muelle en el que de ordinario atracaba. Buena y precisa fue la maniobra, a pesar de que algún pasajero novicio se sobresaltase a causa de la brusca inclinación que el viento y la virada, necesaria para atracar en contra de la corriente, imprimieron a la lancha. Pocos minutos después, se hicieron las amarras y empezó el desembarque.” 

Professora Universitária* 

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