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O Equador e sua literatura (4): Pablo Palácio 

Rosemary Conceição dos Santos* 

Pablo Palácio (1906-1947) foi um poeta, contista, romancista e advogado equatoriano cujo pai só quis reconhecê-lo como filho quando o soube abastado e literariamente reconhecido, o que foi repudiado pelo autor. Aos três anos sofreu uma queda no rio, por descuido de sua babá, ficando muito ferido. Vindo sua mãe a falecer, quando ele ainda era criança, o luto por esta perda gravou-lhe o psiquismo, impregnando sua obra por este luto. Criado pelos tios maternos viu reconhecida sua inteligência maior que a mediana, chegando a frequentar a universidade e nela se destacar. Aos 14 anos, alcançou sua primeira publicação: o poema “Ojos Negros”, publicado na Revista da Sociedade de Estudos Literários da Escola Lojano, onde concluiu os estudos secundários. Em 1921, Palácio também recebeu menção honrosa nos Jogos Florais locais com o conto “El huerfanito” muito elogiado pelo júri. Acadêmico, em Quito, participou ativamente do clima de agitação política e social que prosseguiu e acompanhou a Revolução Juliana de 1925, liderada por um grupo de jovens militares de tendência progressista. O autor, juntamente com outros artistas da época, iniciou, então, um questionamento sistemático dos valores sociais e estéticos que as elites impunham na esfera cultural e literária da época, tanto em Quito como no resto do país. Em 1926, ano de fundação do Partido Socialista Equatoriano, Pablo Palácio, após uma análise aprofundada, inclinou-se para o socialismo revolucionário de natureza marxista. 

Em 1927, publicando a coletânea de contos “Un hombre muerto a puntapiés” e o conto “Débora”, deu continuidade à carreira publicando, também, alguns fragmentos do romance subjetivo “Vida del ahorcado”. No conto homônimo, que dá título à primeira obra, o narrador fica sabendo pela imprensa local do assassinato de um homem chamado Octavio Ramírez, classificado como “cruel”. Passando a inferir os motivos do crime, chega à conclusão de que Ramírez foi assassinado pelo pai de uma adolescente que tentou seduzir. Segundo a crítica, trata-se de uma das obras mais notáveis de Palácio, além de ser a primeira obra literária equatoriana a tratar abertamente a questão da homossexualidade. Em “Débora”, o Tenente, personagem que nunca é completamente definido na obra, durante um passeio pelas ruas de Quito, busca uma conquista amorosa, ou qualquer acontecimento relevante, através do fluxo de consciência e da metaficção. Alguns estudiosos da obra sugerem que a personagem do Tenente é um desdobramento esquizofrênico do próprio narrador. Outros veem o Tenente como uma metáfora da criação literária e do processo de escrita, o que explicaria o momento em que o narrador o expulsa de dentro de si e as constantes divagações do narrador sobre a forma dos romances. Nessa interpretação, a personagem Débora simbolizaria o ideal literário impossível de ser alcançado e os insultos contra a protagonista surgiriam do conflito interno do autor em relação à sua obra. Desafortunadamente, o final da novela mostra o Tenente morrendo de forma absurda, justamente quando Débora, a musa imaginária que dá nome à obra, entra em cena. Seus dois primeiros livros são considerados obras características do movimento de vanguarda latino-americano. 

De acordo com especialista, após a Guerra dos Quatro Dias (1932), travada nas ruas de Quito, Manuel Benjamín Carrión Mora nomeou Pablo Palácio como Subsecretário de Educação que, nessa época, também fazia jornalismo no jornal socialista La Tierra . Em 1936, Palácio foi nomeado professor da Faculdade de Filosofia da U. Central e publicou o seu conto “Sierra”. Antirromântico, em seus textos de combate ao romantismo, ao parodiar os clichês dessas tendências literárias, multiplicou os efeitos da ironia. Alcançando a reitoria da Faculdade de Filosofia e Letras, e já professor de Literatura e Filosofia da mesma, atuou como Subsecretário do ramo, bem como, segundo secretário da Assembleia Constituinte e subsecretário do Ministério da Educação. Em 1939, acometido de transtornos mentais e de distúrbios estomacais, buscou uma “cura milagrosa” que, infelizmente, terminou em envenenamento. Descansando e tratando-se em Salinas, voltou com boa aparência física, porém, logo se manifestando fugas, amnésias repentinas, desaparecimento de palavras que cortavam suas frases, distrações prolongadas, ausências em que a realidade circundante lhe foi escondida, nervosismo, irritabilidade desmotivada e muita inquietação, tudo o que ele nunca tinha sido. Alguns meses descansando em uma clínica psiquiátrica melhorou o estado geral e recebeu alta. Ajudado pelos amigos, logo passou a sofrer longos períodos de apatia, seguidos de outros de violência, tornando-se perigoso. Em 1945, internado em uma clínica psiquiátrica, recebeu, da crítica, a zombaria e o silenciamento por conta de seu estado mental, que só não sobreviveram porque toda sua obra fora escrita enquanto são. Falecendo em 1947, em um hospital psiquiátrico de Guayaquil, aos 40 anos, deixou vivos a esposa. Carmen Palácios Cevallos, “a rainha do mundo intelectual da capital”, e dois filhos, um menino e uma menina, esta última com retardo mental. 

 Professora Universitária* 

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