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O Equador e sua literatura (32): Gabriela Ponce 

Rosemary Conceição dos Santos* 

De acordo com especialistas, Gabriela Ponce (1977-  ) é uma escritora e dramaturga equatoriana nascida em Quito, província de Pichincha, uma das vinte e quatro províncias que compõem a República do Equador. Graduada em Sociologia e Filosofia pela Universidade San Francisco de Quito, realizou um mestrado em direção teatral na Southern Illinois University-Carbondale, graças a uma bolsa Fulbright. Iniciou sua carreira na literatura com a coletânea de contos “Antropofaguitas”, publicada em 2015 após vencer um concurso organizado pelo Ministério da Cultura do Equador. Na ocasião, o júri destacou a “ampla utilização dos recursos técnicos da narrativa em notável adequação aos conteúdos narrados e à caracterização das personagens”. 

Por sua vez, seu trabalho no campo cénico tem sido reconhecido com prémios como o Joaquín Gallegos Lara. Prêmio na categoria teatro, que ganhou em 2018 com sua peça “Lugar”. Também recebeu o Prêmio Francisco Tobar García 2017, concedido pela Prefeitura de Quito à melhor produção teatral por sua peça “Tazas rosas para el té”, em que narra o massacre perpetrado pelos trabalhadores da usina Aztra pela ditadura militar equatoriana em outubro de 1977. Intérprete e professora de teatro na Universidade São Francisco de Quito, Ponce questiona como são vividos os discursos que foram impostos para viver o afeto romântico e a maternidade, bem como, se isso se reflete no ritmo das palavras e da linguagem. 

Em “Sanguínea”, num ambiente de natureza selvagem e de relações selvagens, o protagonista entra e sai de cavernas e corpos, espaços fantasmagóricos habitados ou desabitados, laços atravessados pela perda, pela negação do futuro e pela desesperança. Um registro de seu fluxo de consciência e de uma crise íntima: a história de uma mulher que desliza de patins por caminhos íngremes e tenta enfrentar uma deriva no amor, uma maternidade inesperada e impossível e o mais doloroso dos distanciamentos. 

Em “Solo hay un jardín: en el fondo de todo hay un jardín”, Ponce reúne três obras dramáticas voltadas à problemática e dolorosa formação de vários universos familiares atravessados pela perda e pela morte. Em “Lugar y caída” uma multiplicidade de registos e géneros, de identidades fragmentadas em constante tensão, da construção de uma memória difusa. A linguagem, como veículo de dúvidas e confusões, revelando as vulnerabilidades de estar num mundo onde os vínculos são mediados por medos e fantasmas. Em “Lugar”, peça teatral, três mulheres colocam em ação os poderes e os limites do imaginável. Já “Antropofaguitas” reúne dez histórias que apresentam ao leitor protagonistas femininas que, enfrentando o cotidiano, recriam suas vidas, seus problemas íntimos e suas relações pessoais a partir de posições que não só implicam uma honestidade brutal, mas também expõem, e desconstroem, instituições e órgãos de controle social sobre seus corpos, ações e linguagens através de diversas estratégias e em vários níveis. 

Um trecho? “A ver cómo decirte esto. Ahora que el mar te ha tragado. Te encontré una noche calurosa. No tenía adónde regresar y adicta como soy a caminar y a mirar tras las ventanas de casas ajenas imaginando el mundo que las habita o por el puro placer de los lugares y las cosas que tienen vida ajena. Me paré detrás de esa ventana y habiéndome ese día quedado yo sin casa, quise que esa casa esquinera fuera mía, era una casa vieja pero firme, las luces prendidas, me imaginé que esa era mi casa, me imaginé que yo era otra, entré a la casa que estaba abierta y saliste tú, y me dijiste me voy contigo y yo te dije nada más que hablar, claro que te vas conmigo perra hermosa. No fue un robo. En esa casa no te querían. Estabas encerrada, estabas flaca y estabas triste. Te encontré, llena de piojos, con trozos de legañas de años pegadas en tus ojos y supe que nos salvaríamos. Llevaba yo una maleta con las pocas cosas que saqué de la que había sido mi casa. Poca ropa y unos libros. Había dejado a un amor y no tenía adónde ir y sentía el abandono inmenso, era yo incapaz de amar justamente porque cuando empezaba a amar empezaba a sentir el abandono y de ahí todo iba siempre para abajo hasta que llegaste tú. Y yo cursi como soy dije todo se va a la mierda de una puta vez por todas. Y tú me seguiste. No solo me seguiste, me miraste y me dijiste todo se va a la mierda de una puta vez por todas. Tú no podrás faltarme cuando falte todo a mi alrededor”. 

 

Professora Universitária* 

 

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