Rosemary Conceição dos Santos*
Edna Iturralde (1948 -…) é uma autora equatoriana que ficou órfã de pai quando tinha um ano de vida, sendo criada pelo avô, que lhe contava histórias, e pela mãe, que lia para ela. Sem irmãos, Iturralde fez para suas bonecas e cachorros essa mesma contação de estórias enquanto brincava nos balanços do jardim de sua casa. Segundo especialistas, quando Iturralde cursava a quinta série, sua turma foi selecionada para apresentar uma peça na assembleia da escola. Mas, sem que os professores encontrassem uma peça apropriada, ela foi para casa, sentou-se e escreveu uma. Apresentada, foi um sucesso aplaudido por todos, revelando a veia literária da pequena autora. Os colegas passaram, então, a pedir que ela lhes escrevesse histórias sobre o nascimento de um novo irmão ou irmã, uma viagem às montanhas e a morte de um animal de estimação, entre outros. Ela o fazia com a mesma satisfação que tinha para escrer no jornal da escola. Em 1967, tornou-se a primeira menina a ganhar o Prêmio Presidencial Nacional de Oratória do Equador e o prêmio de oratória do Município de Quito
Sem poder cursar a universidade, Iturralde trabalhou como guia turística da Metropolitan Touring no Equador, e suas histórias divertiram tanto os turistas que estes a elegeram a melhor guia turística da América do Sul do Grupo IntravTravel. Alugando um quarto em uma casa antiga, pintando-o e decorando-o, ali abriu Ela abriu a primeira boutique de Quito, chamada Carnaby Street, vendendo a crédito as roupas e joias de cobre e prata que ela própria desenhava. Casando-se aos vinte e dois anos, logo se tornou mãe em tempo integral de quatro filhos, a estes repetindo as histórias de ninar que um dia ouvira da mãe e do avô. Assim, quando o Panorama, suplemento do jornal El Comercio, de Quito, solicitou-lhe histórias infantis, a Panorama não apenas escolheu sua história, mas também pediu que ela contasse uma história toda semana. Um ano depois, em 1982, Iturralde fundou La Cometa (A Pipa). Mas, nesse mesmo ano, seu marido morreu em um acidente de avião. Edna continuou escrevendo La Cometa, a primeira revista infantil semanal publicada no Equador que, durante os onze anos seguintes (1982-1993), alcançou sucesso junto ao público. Nela suas próprias histórias, romances seriados, quadrinhos e jogos, ora assinados por ela, ora por pseudônimos, para que as pessoas pensassem que a revista tinha uma equipe maior. Distribuída gratuitamente com o jornal Diario Hoy, aumentou consideravelmente a sua circulação, servindo de modelo para várias outras revistas infantis gratuitas sul-americanas.
Em 1985, casando-se novamente, Iturralde teve mais dois filhos. Em 1993, contratada pelo Fundo de Emergência das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pelo Ministério da Educação do Equador para escrever sobre os valores que as crianças deveriam aprender, Iturralde escreveu as 60 histórias divertidas dos três volumes de “Ser e Compartilhar”, para três faixas etárias diferentes. Ela também foi consultora da PLAN International, para a qual escreveu um livro humorístico, mas útil, sobre relações sociais. De 1996 a 1998, foi representante no Equador do Centro de Desenvolvimento Educacional (EDC). Utilizou o Método de Instrução da Rádio Interativa para escrever, produzir e testar 15 programas gratuitos de educação a distância intitulados “Vamos Brincar de Teatro”. O programa orienta professores de pré-escola, ou cuidadores, durante sessões de 20 minutos, no desenvolvimento da inteligência emocional e na resolução de conflitos, apelando à imaginação das crianças pequenas. Em 1996, Edna fundou o Sindicato dos Escritores de Literatura Infantil (UDELI), com a ideia de ajudar escritores de literatura infantil e juvenil a publicar. As editoras internacionais que operavam no Equador na época comercializavam apenas livros infantis de escritores hispânicos ou traduções de outras línguas. A associação publicou uma antologia de histórias de Natal, permitindo que novos escritores e ilustradores ganhassem exposição e impulsionando a literatura infantil no Equador.
Em 1998, a Editorial Santillana, seguida pela Editorial Norma, relevantes editoras internacionais do Equador, selecionaram a literatura de Iturralde para publicação, encorajando-se a publicarem mais autores infanto-juvenis equatorianos. De 2000 a 2002, Iturralde ministrou um curso de Escrita Criativa na Universidade San Francisco de Quito no Programa Internacional. No início de 2016 começou a escrever uma coluna semanal para a Family Magazine, suplemento do jornal El Comercio. Sua literatura se desenvolve em um contexto multicultural, étnico e social, buscando entrelaçar as histórias ficcionais destes três extratos, concentrando-se, nos últimos anos, em elaborar narrativas baseadas na etnia, sendo a pioneira do gênero na literatura infantil do Equador. Com livros publicados na Colômbia, México e Espanha, e distribuídos nos Estados Unidos, Peru e Bolívia, Iturralde ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais, sendo considerada a figura mais importante da literatura infantil e juvenil de seu país. Atualmente é presidente da Academia Equatoriana de Literatura Infantil e Juvenil, associada à Academia Latino-Americana de Literatura Infantil e Juvenil.
Professora Universitária*