Rosemary Conceição dos Santos*
Jorge Carrera Andrade (1903-1978) foi um poeta, historiador, autor e diplomata equatoriano, nascido em Quito, cujos escritos foram publicados na revista literária “Proteo”, iniciada em 1922. Aos 25 anos viajou pela Europa pela primeira vez, vindo a atuar, anos depois, como Cônsul do Equador no Peru, em França , no Japão e nos Estados Unidos, omo Embaixador na Venezuela, no Reino Unido, na Nicarágua, em França, na Bélgica e nos Países Baixos e como Secretário de Estado do Equador. Durante sua estadia nos Estados Unidos, Carrera Andrade desenvolveu muitas relações literárias com escritores americanos, em particular com Muna Lee, poetisa, autora e ativista americana, que se tornou conhecida, e amplamente publicada, como poetisa lírica no início do século XX, além de escritos que promoviam o pan-americanismo e o feminismo.
Desenvolvendo sua obra poética durante meio século, e publicando-a em diversos volumes por todo o mundo, Carrera Andrade a reuniu e publicou, como obras completas, em 1972, sendo grande parte traduzida para o francês, o inglês, o italiano e o alemão. Enveredando-se pelo ensaio, história e autobiografia, foi nomeado, em 1969, professor visitante ilustre na Stony Brook University, em Long Island (Nova York), onde lecionou por dois anos acadêmicos. Passou seus últimos anos em sua cidade natal, Quito, como diretor da Biblioteca Nacional do Equador. Durante sua vida e após sua morte foi reconhecido por poetas como Jorge Luis Borges, Pablo Neruda, Octavio Paz e Cesar Vallejo como um dos mais importantes poetas latino-americanos do século XX.
Em 2002 a República do Equador celebrou o século do seu nascimento, data em que um grupo de intelectuais equatorianos se reuniu em Cuenca, Equador, para examinar sua vida e obra. O compositor indonésio Ananda Sukarlan também reconheceu o valor do autor ao verter para a música alguns de seus poemas curtos, como, por exemplo, “Microgramas”, para voz média e piano. De acordo com estudiosos, tais músicas, encomendadas pela Embaixada do Equador em Jacarta (Indonésia), foram estreadas pelo próprio compositor com o tenor William Prasetyo em outubro de 2023. Alguns de seus poemas?
HOMEM DE QUALQUER TERRA
Homem de qualquer terra ou meridiano
a mão te estendo ufano
te dou com ela o sol americano.
Te dou a brava pluma
do condor, a candeia ágil do puma:
selva e montanha em suma.
Te dou a geografia
vasta e azul do dia
concentrado no fruto da ambrosia.
Te dou novo tesouro:
a pimenta e o touro
e a cúpula de ouro.
Te dou vulcão e rosa,
a chave dessa gente misteriosa
que em vasilhas repousa.
Minha mão é de oleiro
solar, de navegante, missioneiro
e livre guerrilheiro.
É mão de construtor de um Continente
mão de teto e corrente
e de amor alfabeto para a gente.
O sol americano
com a mão te entrego ufano,
homem mundial, meu mano.
Professora Universitária*