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O Equador e sua literatura (17): Lupe Rumazo 

Lupe Rumazo (1933-…), escritora e crítica literária equatoriana, nasceu em Quito, filha do historiador e escritor equatoriano Alfonso Rumazo González e da pianista Inés Cobo Donoso. Seus livros foram prefaciados por autores como Ernesto Sabato, Juana de Ibarbourou e Benjamín Carrión. Sua obra, que abrange os gêneros narrativo e ensaístico, sendo finalista do Prêmio Internacional Rómulo Gallegos de Novela de 1989, com o romance “Peste blanca, peste negra”, menção honrosa na Bienal de Literatura José Rafael Pocaterra (1980), pelo livro “Carta larga sin final”, e candidata ao Prêmio Internacional Gabriela Mistral – Menção Literatura e Filosofia, convocada pela OEA em 1995 e indicada ao Prêmio Nacional Eugenio Espejo do Equador, 2008 e 2010. 

De acordo com o jornalista cultural Fausto Rivera , um dos estudiosos de sua obra, Rumazo, apesar de ter uma vasta obra ensaística e novelística, que tem sido celebrada por autores da estatura de Leopoldo Zea, Juana de Ibarbourou ou César Dávila Andrade, ainda é pouco conhecida e pouco analisada no Equador. “Um paradoxo lamentável considerando que Lupe Rumazo é fundamental na história da literatura latino-americana”. Ernesto Sábato, romancista, ensaísta e artista plástico argentino, seu terceiro livro de ensaios, “Papel beligerante”, assim se referiu à autora: “Que coragem intelectual, quanta honestidade espiritual cada uma de suas páginas! Eu penso que pontuará um marco decisivo na crítica continental e que, a partir de então, teremos que ter muito cuidado com aquele macaneo pretensioso com que o leitor de língua espanhola é dominado”. 

Para especialistas, curiosidade, avidez por conhecimento e obsessão em usar a palavra corretamente são três características que definem Lupe Rumazo. Tal como a de Sábato, a sua vida é marcada por perseguições (o pai teve de se exilar quando ela era criança e o marido também é exilado). “O exílio foi decisivo na minha existência e constitui uma das razões vitais da minha formação intelectual. A escrita do meu livro “Viver no exílio, esculpir nas nuvens”, não foi coincidência. Mais ainda, tive maior consciência dessa realidade ao ler o que o incomparável Mestre escreveu sobre mim. Entendi que no exílio nada do que se cria se perde e portanto não é “um entalhe nas nuvens” pois tudo permanece. E isso produz uma força ainda maior. Contudo, e isto é preciso dizer, o Equador não reconhece absolutamente a pátria que está distante, o criador que reside fora. Isto é quase inexistente. As ‘Oito Grandes Biografias’ de Alfonso Rumazo González ainda não circulam aqui e já estão na UNESCO. Nem seu grande romance ‘Justiça, o palavrão’, que foi finalista do Rómulo Gallegos, elogiado por Leopoldo Zea e Claude Fell da Sorbonne”. 

Sobre o gênero ensaio afirmou: “Não vejo o ensaio como gênero, pois superei o conceito de gênero. Todorov refere-se neste sentido a Blanchot e antes dele a Mallarmé. É a literatura ou o ‘Livro’ que importa. Interesso-me sobretudo em elucidar, compreender, chegar ao fundo de um tema que me imponho com todos os sentidos, questões e interrogações possíveis. Procuro, e nisso cito Heidegger, a coisidade do ente, isto é, a essência. Depois passo para outro ponto. Em suma, faço exercícios literário-filosóficos, que aprendi com Juan David García Bacca.” As décadas de setenta e oitenta, na sua história pessoal, foram marcadas pela morte (da mãe, do marido). Isso lhe deu uma nova visão em seu processo como escritor: “Eles não apenas marcaram definitivamente minha vida, mas também produziram “uma reviravolta” em minha obra literária. Era preciso dizer tudo o que significa a morte e da morte avançar para a condição humana, para a razão de existir. Escrever então foi minha catarse. Em 2003 perdi meu pai Alfonso Rumazo González e esse colapso devastador ainda persiste. Mas fiz 40 reedições dos seus livros e também tenho dois romances inéditos, ‘Escalera de piedra’ e ‘Temporal’, sobre essa ausência e, a partir dela, sobre o poder. O poder que aniquila e que foi imediatamente exercido sobre mim. E continua a exercer. Em termos gerais, existe um divórcio entre o poder político e o poder intelectual. Dediquei 200 páginas de ensaios ao meu pai sobre o seu trabalho no meu livro “Los Marcapasos’, que são os passos da cultura na América.” 

Escreveu Ensaios: “En el lagar” (1962), “Yunques y crisoles americanos” (1967), “Rol beligerante” (1974), “Vivir en el exilio, tallar en nubes” (1992) e “Los Marcapasos” (2011). História: “Sílabas de la tierra (1964). Romances: “Carta larga sin final” (1978), “Peste blanca, peste negra” (1988), dentre os quais quatro obras constituem a tetralogia ‘La Escalera de Piedra’, a saber: “Carta larga sin final”; “Peste Blanca Peste Negra”; “Escalera de Piedra” e “Temporal: La última llave del Destino”. É Membro correspondente da Academia Equatoriana de Línguas, do Centro de Pesquisa e Estudos Comparados Ibero-Franceses (Sorbonne Nouvelle, Paris, França), Casa da Cultura Equatoriana, Sociedade Europeia de Cultura, Instituto Internacional de Literatura Ibero-Americana ( Pittsburgh) e do Círculo de Escritores da Venezuela, onde reside. 

Sua contribuição para a língua espanhola? “Considerar e assim escrever com domínio da linguagem já que esse é o molde e a primeira estrutura e depois buscar a maior clareza dentro de um estilo barroco que me é inato. Dê ao molde a maior elasticidade num crescimento de ondas, ora imaginativas, ora simbólicas, ora acadêmicas. Em suma, quebre a possível rigidez. Quanto ao romance, unificar história com ensaio sem perder as virtualidades de um e de outro. E nunca se esqueça da universalidade da linguagem”. 

 

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