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O Equador e sua literatura (15): Miguel Donoso Pareja 

Rosemary Conceição dos Santos* 

De acordo com especialistas, Miguel Donoso Pareja (1931-2015) nasceu em Guayaquil, Equador, falecendo na mesma cidade. Narrador, poeta, crítico, jornalista e ensaísta, Pareja obteve, em 1948, o bacharelado pelo Colegio Nacional Vicente Rocafuerte; A partir de 1955 foi professor de lógica, ética, literatura e história da América na Escola Nacional Aguirre Abad; e cinco anos depois começou a frequentar aulas na Faculdade de Jurisprudência e Ciências Sociais da Universidade de Guayaquil. Após ser preso pela Junta Militar de seu país (1963), exilou-se no México, onde publicou o livro de poemas “Primera canción del exiliado” (1964). Anteriormente, já havia lançado sua primeira coletânea de poemas, “Los invencibles” (1963), e seu primeiro livro de contos “Kreiko” (1962). 

Atuando  como coordenador da Oficina de Contos da Diretoria de Difusão Cultural da Universidade Nacional Autônoma do México (1970), o autor organizou e coordenou a Oficina Piloto de Literatura de San Luis Potosí (1975). Chefe do Departamento de Literatura da Direcção Nacional de Promoção do Instituto Nacional de Belas Artes, foi supervisor nacional das Oficinas Literárias da mesma instituição (1977) e jurado em concursos de literatura nacionais e internacionais, como o Casa de las Américas (1978) e o Concurso Nacional de Novelas Ricardo Miró no Panamá (1979). Como professor, ministrou a disciplina “Estrutura do romance” na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Nacional Autônoma do México (1974). 

A produção literária e política de Donoso Pareja no México nunca diminuiu nos dezoito anos que durou o ostracismo, pelo contrário, aumentou consideravelmente. Além de “Primera canción del exiliado”, veio à luz o livro de contos intitulado “El hombre que mataba a sus hijos” (1968) e, meses depois, seu primeiro romance, “Henry Black” (1969) ; os textos jornalísticos, “La hora del lobo” (1970); ensaios políticos “Chile, ¿Cambio de gobierno o toma de poder” (1971), em coautoria, e “La violencia en el Ecuador” (1973); bem como as antologias “Poesía rebelde de América” (1972) e “Prosa joven de América hispana” (1972), a coletânea de poemas “Cantos para celebrar una muerte” (1977) e os romances “Día tras día” (1975), que trata de seu exílio, e “Nunca más el mar” (1981), sobre seu retorno do exílio. No campo jornalístico, colaborou nos jornais La Hora (Equador) e El Día (México) e na revista Universidad de Antioquía (Colômbia, 1969). Ao lado dos mexicanos Juan Rulfo, José Revueltas, Eraclio Zepeda e do argentino Pedro Orgambide, também radicado no México na época, atuou como diretor da revista Cambio (1975). No início da década de oitenta do século passado regressou ao Equador. 

Entre as bolsas e prêmios recebidos pelo autor do ensaio “Nuevo realismo ecuatoriano” (1984), estão a bolsa da Fundação John Guggenheim (1986), com a qual pôde viajar para Barcelona, na Espanha; o Prêmio Nacional de Cultura “Eugenio Espejo” (2007) e o Doutor Honoris Causa em Letras da Universidade Eloy Alfaro de Manabí em 2012. Dois poemas do autor, traduzidos: 

 

Voltar 

(para minha mãe) 

 

Hoje estamos muito próximos e ao mesmo tempo distantes. 

Nos meus desenhos cinzentos de latitudes amargas 

deixei teus beijos enterrados no esquecimento. 

E fiquei só, olhando para a verticalidade passada 

de um poste caído (…) 

Tenho o sal do meu naufrágio, tenho 

uma pedra na alma e nos olhos 

uma ansiedade prenhe de estradas, 

uma sede implacável; Nas minhas entranhas, 

no meu coração e no meu cérebro 

tenho o açúcar da terra porque você me deu. 

Tem muitas coisas. 

Tantas verdades que escapam aos olhos 

porque um beijo prende o nosso olhar, ao longe. 

Tantas verdades que são negadas, 

porque há um mar que chora abraçado pela alma, 

… e uma dor 

e uma embriaguez em que vivo um 

mundo inacessível, inatingível, 

como o sorriso ingênuo de uma louca.(…) 

Eu venho tímido e envergonhado. 

Com a timidez e o constrangimento de um sorriso desdentado (…) 

Eu venho chorando.(…) 

Você ficará orgulhoso porque serei um homem diferente 

e matei minha triste solidão e meu choro 

e agora existem distâncias e boas ações 

e embora estejamos muito próximos e ao mesmo tempo distantes 

farei essa acidez se transformar em doçura 

e a partir disso adeus sem viagem voltaremos 

para nos beijarmos quando voltarmos. 

 

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