As maravilhas que estão registradas nos documentos oficiais que regem a educação básica brasileira, não conseguem se materializar nas escolas públicas, com algumas e raras exceções – ficam feitos satélites que permanecem em órbita, mas não ultrapassam os seus muros, e o tempo vai passando, e a velharia acumula não abre espaço para o novo aluno do século 21, que tem outras prioridades.
Há uma cisão social permanente no Brasil, que foi construída pela aristocracia rural e escravocrata, que estigmatiza o pobre e o negro, e com isso a escola pública que deveria ser de qualidade e para todos foi sucateada e destinada às camadas mais pobres – e para atender a elite e a classe média, e manter os velhos costumes – investiram na rede privada básica, para preparar seus rebentos e garantir seus lugares nas melhores universidades – que são públicas. Mas são escolas conteudistas, e não preparam os alunos para o exercício da cidadania, e para uma sociedade mais igualitária.
Os grandes estudiosos da educação básica mostram que um país para ser evoluído tem que ter uma educação pública com qualidade e para todos, e não apenas para uma pequena parcela de privilegiados. Apesar das nuvens cinzentas que sobrevoam a escola pública – existemalguns projetos exitosos em comunidades pobres que mostram que é possível construirmos novos caminhos para a educação básica pública, e não são apenas projetos preocupados com os conteúdos – são projetos que constroem a cidadania na prática da cidadania.
Um destes projetos é o Projeto Âncora que foi eleito em 2017, um dos dez melhores projetos educacionais do mundo, neste projeto o aluno tem liberdade para aprender a aprender, os valores estabelecidos para a convivência são cinco: respeito, afetividade, responsabilidade, solidariedade e honestidade – são regras de ouro, que todos respeitam. No inicio do dia cada aluno junto ao seu tutor faz o planejamento e o roteiro do seu projeto, não há salas de aulas e nem séries ou anos como ocorre no ensino tradicionalista, os projetos são de acordo com os interesses dos educandos.
Quem visita o projeto fica intrigado com o silêncio, e perguntaonde estão as crianças, pois não há salas de aulas tradicionais, no velho modelo de confinamento, e não se ouve aquela algazarra típica das escolas públicas de periferia pobre – não há séries ou anos todos aprendem com todos, de acordo com os seus interesses e prazer em aprender. A plataforma usada é a de aprendizagem e não a do ensino. Mas este projeto que faz sucesso no mundo não interessa aos gestores das escolas públicas – manter tudo como sempre foi é imprescindível.
A qualidade do ensino público não interessa aos governantes de plantão. Mas a rede privada sempre está de olho nas “novidades”, que possam agregar valores aos seis projetos educacionais e ampliar os seus lucros. O que não serve para a pública serve para a privada. Já têm escolas privadas usando os mesmos planejamentos educacionais difundidos no Âncora, pois viram que podem agregar valores de cidadania, coisa que desprezavam, mas com um diferencial – são bilíngues.
Enquanto isso alguns estados querem entregar para a Policia Militar o controle disciplinar das escolas públicas das periferias pobres, pois acham que só com disciplina militar e chicote vão mudar a realidade cruel, e criar novos cidadãos. E são esses pensamentos retrógados que substanciarão a frase do epitáfio da nossa educação básica. “Fizemos a nossa parte; eles é que não quiseram aprender!”.