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O dom e o tom do nosso Dom Camilo

Recentemente, a Academia Brasileira de Ortopedia e Trau­matologia escolheu quarenta profissionais ilustres, como ato de reconhecimento pelo que fizeram e fazem em suas vidas, e com eles compor a sua galeria de homenageados. Dentre eles inscreveu-se o nome de Camilo André Mércio Xavier, 96 anos. O escolhido teria de apontar o nome de alguém que lhe fora um norte, para paraninfar sua cadeira; e o fez, escolhendo o nome do professor José Paulo Marcondes de Souza, que foi seu mestre na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, e depois seu companheiro e sucessor na chefia do Departamento de Biomecânica, Medicina e Realização do Aparelho Locomotor.

Aqui, a personalidade de Camilo se expõe como a primeira virtude que assinala o bom caráter seu e de todos os que a re­velam: é virtude da gratidão. E, como se não bastasse a escolha convidou o filho, Ricardo Marcondes, como testemunha ocular dessa história.

Mas, se isso é um bom início, o que realmente nos tocou a alma, naquela sexta-feira, lá no auditório do Centro Médico de Ribeirão Preto, foi o lançamento de mais um livro de Camilo Xavier, sob um título originalíssimo: “Pausas Para não Parar”.

Camilo, médico aposentado, 96 anos, suavemente nos pro­põe, através da poesia, a vida inacabada e incansável de quem pode criar, expressar e sonhar, independentemente da idade.

O poeta confirma a natureza infinita da alma humana, sendo que das entrelinhas sai uma certeza incomparável: a de que poetas e artistas são arrastados, no dia a dia, do torveli­nho diário pela força do infinito. Disse-o ao artista plástico e professor Miguel Ângelo Barbosa, que ouviu, permaneceu em silêncio, sabendo que quem se cala consente.

“Pausas Para Não Parar” pode ser interpretada como a his­tória do caminhante do deserto, que encontra seu fiapo de água corrente, que ameniza ou mata temporariamente sua sede.
Só que a sede na simbologia da poesia é a ânsia do conhe­cimento, do saber, da harmonia, da justiça, da paz e do amor, impelido pelo infinito, que une pessoas e povos, pela força da amizade, ora por vez, traduzida como forma de respeito.

“Pausas Para não Parar” é a confissão do poeta que não está cansado da vida, que não se amedronta com a diminuição do seu horizonte, e que revela que em qualquer plano do trabalho humano existe para cada um somente uma só verdade: sempre há uma missão a cumprir.

Se age com consciência de missões que se seguem, após o final de cada uma, o intelectual se coloca como verdadeiro operário de cada construção, que se projeta em benefício de uma coletividade, que tanto precisa dessa energia criadora como incentivo. O exemplo é o projeto da Incubadora Cultural, criado por ele em 2013, adotado pela USP, para conscientizar estudan­tes das redes públicas sobre a importância da leitura e da escrita, descobrindo novos talentos. A 17ª Feira Internacional de Paraty incluiu na sua pauta uma palestra sobre essa inovação.

O Camilo tem uma sorte incomum, talvez culpada por sua sensibilidade que tanto provoca seu espírito criativo, ele é cer­cado de mulheres por todos os lados, a esposa Nilze, as filhas e as netas.

Mas ele diz, para cada um de nós, no final de seu último poema:

“Você troca tudo
Até o amor fecundo
Para entrar no outro Mundo”, quando a energia, voltando a ser a essência da essência fica disponível para novas missões, no universo insondável das estrelas.

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