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O doce dom de iludir

O sonho faz com que o ser humano tenha fé e esperança num amanhã melhor, as maiores criações da humanidade nasceram de sonhos que um dia foram sonhados, isso mostra a importância de se educar as crianças para que sonhem e consigam materializar os seus sonhos. E para que consigamos transformar a nossa realidade cruel e desumana do cotidia­no é preciso transformar o atual modelo educacional que se pratica na educação básica.

Mas por motivos ideológicos, os governantes dos três níveis preferem manter as mesmas práticas medievais na edu­cação básica, e com isso manter-se eternamente no poder. E usam os sonhos das comunidades carentes como ferramenta e expertise, para impingir o velho dom de iludir – traçam as metas, escamoteiam os argumentos, e com isso convencem a maioria de que as suas atitudes administrativas estão corretas.

Em Ribeirão Preto o atual governo tem mostrado a sua capacidade em exercer o dom de iludir – gasta tempo e di­nheiro para tentar convencer a população, que vivemos numa das melhores cidades do País, que as reclamações dos mu­nícipes não têm razão de ser, pois não tem do que reclamar. Na campanha eleitoral, o então candidato Duarte Nogueira Júnior dizia que iria fazer mais com menos, e que tinha todos os canais abertos com o governo Estadual e Federal, e que os recursos para realizar todas as suas promessas já estavam contingenciados – o eleitor acreditou, mas a nuvem de fuma­ça se dissipou, e a dura realidade apareceu.

Ao final do primeiro ano de governo, o senhor prefeito anunciou com pompas, que havia feito à lição de casa, que co­locará as finanças do município em ordem, e havia um supe­rávit de trezentos milhões de reais, e a cidade navegaria num céu de brigadeiro no ano de 2018, mas chegamos ao final do ano e as nuvens carregadas que do ano anterior – voltaram a ameaçar com força.

Como havia dinheiro em caixa, nada mais justo que as promessas de campanha começassem a sair do papel, as AMES (Ambulatórios Médicos de Especialidades), a transfor­mação da educação infantil e fundamental, no ensino de tem­po integral, o recapeamento de mais de 150 quilômetros de ruas e avenidas, a reforma de 59 escolas, e fazer manutenção rigorosa nas restantes. O tempo passou e nada aconteceu – as escolas não foram reformadas, os buracos se multiplicaram, e as AMES continuam na fila, aquele sofisma do primeiro ano de governo caiu por terra, e o que era superávit virou déficit em poucos meses.

A morte de um aluno, supostamente eletrocutado dentro de uma escola municipal escancarou a falta de manutenção e reformas nestas unidades escolares. A maioria das esco­las municipais não tem alvará do Corpo de Bombeiro para funcionarem, e nem o habite-se, a Justiça já havia interditado uma escola de ensino fundamental por apresentar risco de incêndio, e não ter saídas de emergências, mas os incautos dirigentes da educação municipal acostumados a dar tempo ao tempo, esperando que as demandas se resolvam por si só, e que nada de mais grave vai acontecer – estão acostumados a jogar todos os problemas dentro de um armário e jogar a cha­ve fora. Mas o tempo vai cobrar – e as comunidades também.

Transformar a educação básica, criando ambientes esco­lares de felicidades, onde o educando possa sonhar, e ver o seu sonho se transformar em realidade é a principal tarefa da educação no século 21. Não podemos mais permitir que go­vernantes continuem usando de maneira sórdida o doce dom de iludir para matar os sonhos das nossas crianças e jovens.

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