A palavra ‘favela’ apareceu pela primeira vez no mundo em um documento oficial de 4 de novembro de 1900. Em função disso, a data passou a ser reconhecida internacionalmente como o Dia da Favela, como forma de lembrar à sociedade a existência destes núcleos habitacionais urbanos sem infraestrutura de todos os tipos para seus moradores. A data é adotada em 17 países e em 200 cidades brasileiras.
Em 2006, a participação da Central Única das Favelas (CUFA) foi fundamental para que a data passasse a ser comemorada no estado do Rio de Janeiro e entrasse no Calendário Oficial da cidade. Desde então, o dia também passou a ser lembrado em outros municípios brasileiros. Atualmente a Central atua em cerca de 5 mil favelas no Brasil e em mais 17 países.
Para lembrar, a CUFA de Ribeirão Preto realizará na Favela do Adelino Simione, na zona Norte da cidade, um dia especial para os cerca de cinco mil moradores daquela comunidade. O objetivo é destacar a luta e resistência dos moradores.
O evento começará às 14 horas com atendimento em serviços básicos de saúde, cabeleireiro, roda de conversa, prevenção à saúde da mulher e realização de desenhos grafite. Já a partir das 18 horas serão realizados shows com atrações, como B-boys, encontro de DJs e artistas locais. No total, mas de 140 pessoas – entre profissionais e voluntários – estarão envolvidas na organização do evento.
Para o presidente da CUFA em Ribeirão Preto, Raphael de Paula, é preciso evidenciar a luta e persistência dessas pessoas, que diariamente, enfrentam problemas básicos para a sobrevivência. “Mas, que mesmo diante das adversidades continuam sonhando e lutando para mudar para melhor a realidade em que vivem”.
Raphael lembra que durante a pandemia a CUFA partiu para o trabalho de assistencialismo, dar comida a quem tem fome. Partindo desse princípio a CUFA Nacional desenvolveu parcerias com empresas privadas que viabilizou ações como o “Panela Cheia” e “Mães da Favela Futebol Clube”, entre outros. São projetos nacionais que alimentaram mais de 5 milhões de famílias no país inteiro, inclusive em Ribeirão Preto.
A CUFA além de pensar no alimento, também pensou em como essas pessoas estavam esquentando a comida, levando em conta o valor do botijão de gás que aumenta a cada dia. Uma parceria com a Ultragaz levou mais de 100 mil botijões de gás para as favelas do estado de São Paulo.
Outro aspecto que Raphael gosta de destacar é a substituição, pela sociedade, do termo ‘favela’ por ‘comunidade’. “Foi uma forma de a sociedade suavizar a expressão”. Para a entidade, é importante usar o termo favela em vez de comunidade, sem suavizar a palavra, pois ela causa um impacto maior. “Faz com que a sociedade enxergue de forma realista a população moradora dessas regiões, vítimas de grande preconceito, marginalização e de falta de oportunidades”.
Ribeirão tem mais de cem favelas
Levantamento da Central Única das Favelas (CUFA) revela que a cidade possui mais de 100 favelas registradas. Porém, a entidade acredita que esse número pode ser bem maior levando em conta a crise econômica que o município – a exemplo do país e do mundo -, vive há quase dois anos por causa da pandemia do coronavírus. A estimativa é que cerca de 45 mil pessoas vivam nas favelas em Ribeirão Preto.
“A crise fez com que muita gente perdesse seus empregos e não tivesse mais condições de pagar aluguel, água e luz. Isso automaticamente faz essas pessoas irem para as favelas, onde essas contas na maioria das vezes são baixas ou nem existem”, afirma Raphael de Paula, presidente da CUFA Ribeirão Preto.
Em média, a última pesquisa feita pelo “Instituto Data Favela”, apontou que existem 16 milhões de pessoas vivendo em favelas em todo o país.
Segundo Raphael é difícil apontar qual favela é mais precária em Ribeirão Preto, já que todas têm problemas específicos. Entretanto, as pesquisas realizadas pela entidade revelam que 78% das pessoas moradoras de favela dizem que o maior problema que eles estão enfrentando nesse momento é a fome. E 92% desses moradores precisam ou já precisaram de doações de alimentos para matar sua fome.
Raphael faz questão de destacar que o trabalho realizado não depende de verbas públicas, mas que o diálogo com quem está no governo é sempre importante, até porque o trabalho da CUFA vai ao encontro do trabalho do Fundo Social de Solidariedade e também da Secretaria de Assistência Social do município. “Com esses dois órgãos em questão, sempre tivemos um bom relacionamento, em que procuramos alinhar os cadastros da melhor forma com o intuito de que todos nós possamos acertar o máximo na hora de ajudar a quem precisa”, afirma.