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O deus dinheiro! (parte II) 

(é uma história releia brevemente a parte I para apreender seu sentido geral)

Cleison Scott *
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Por volta do ano 640 a.C. começou a cunhagem simples de metais para substituir o arcaico sistema de trocas que eram feitas até então com o peso correspondente em ouro ou prata à mercadoria desejada. Esses pesos padrões que faziam o papel de dinheiro eram chamados de talentos (Nada a ver com nossa atual acepção de talento, que como aptidão deriva do talento que advém de talentón, uma antiga moeda grega). Como o domínio do homem sobre o homem remonta a tempos imemoriais, os talentos necessários para possuir dinheiro nem sempre são os mais nobres, pois as pessoas sempre buscaram acumular riquezas mesmo que em detrimento alheio e sem nenhum mérito.

O primeiro rei a aproveitar da invenção de seu povo foi Creso que reinou entre 560-546 a.C., ou seja, 80 anos após o início da cunhagem do dinheiro. Em função da produção de perfumes e cosméticos de excelente qualidade a Lídia já era rica, mas a melhoria na fabricação e controle oficial das moedas deu ao comércio uma flexibilidade inexistente até então. Disso resultou o crescimento acelerado do comércio lídio, proporcionando ao monarca uma riqueza tão imensa que a frase ‘tão rico quanto Creso’ passou à história, enquanto rendeu ao seu povo a fama de comerciantes. Esse tipo de glória e enriquecimento exagerado levou Creso para o lugar comum: luxo, ostentação e conquistas. Como sempre, a ostentação atraiu um rei mais poderoso que aniquilou o reino da Lídia. O deus dinheiro começava a impor seu implacável domínio se imiscuindo nas relações humanas, mostrando logo quem iria comandar o mundo.

Embora fosse ainda pesado e de difícil armazenamento e transporte, sua posse era bem mais fácil e rendosa do que a retenção dos bens físicos propriamente. O deus dinheiro evoluiu das pesadas moedas para o papel moeda; deste para as letras de câmbio, as quais viram nascer suas irmãs mais jovens, as ações. A praticidade, maior segurança e baixo custo do plástico (O baixo custo do plástico decorre principalmente de sua maior durabilidade. Enquanto uma nota dura no máximo seis meses um cartão pode durar anos.) o levou a ocupar importante papel nessa evolução, e atualmente, o mais moderno e ligeiro dos dinheiros conhecidos, é o dinheiro virtual, os bits de computador.

A oportunidade desperdiçada.

Domenico De Masi traz a íntegra da conferência proferida por John Maynard Keynes, em junho de 1930, em Madri, como apêndice de seu livro ‘Desenvolvimento sem Trabalho’(Editora Esfera, 1994.)Colocar a conferência de Keynes como apêndice de seu ensaio mostra a coerência de De Masi, pois este, escrito em 1994 amplia a ideia da falta de trabalho para todos com o advento do computador, alcançando até as tarefas executivas. Traz também um perfeito arrazoado de o porquê o fazer e várias sugestões de como fazê-lo.
Em sua apresentação, Keynes, reconhecido mestre dos estudos econômicos, aborda o momento pelo qual passava a economia mundial devido ao Crash da Bolsa de Nova Iorque de 1929. Genericamente pregava-se que o mundo deveria se acostumar com um crescimento econômico mais lento do que aquele alcançado no século XIX com a Revolução Industrial:

“Considero que esta seja uma interpretação completamente falha do que está acontecendo. Não estamos padecendo dos achaques da velhice, mas sim dos distúrbios de um crescimento feito de mutações rápidas demais e das dores da readaptação de um período econômico para outro”.

Afirmava que aquele era apenas um momento passageiro provocado, principalmente, porque ainda não se havia encontrado como utilizar a mão de obra descartada pela automação dos processos produtivos. Como um contumaz democrata otimista, Keynes parecia acreditar que o homem deixaria de acumular só por amor irracional ao dinheiro e concordaria em distribuí-lo de forma mais equânime, pelo menos o suficiente para a manutenção de todos. Preconizava que a automação libertaria o homem de sua faina diária e os juros compostos promoveriam riquezas tão abundantes que o bem-estar poderia ser distribuído a todos e ainda haveria sobras para serem investidas no bem comum.

A proposta de Keynes para eliminar aquela crise e todas as crises é tão simples que, ainda hoje poderia ser aplicada sem real prejuízo de ninguém. Ele alegava que o homem sofre do que chamou de síndrome de Adão e “precisa” trabalhar. Para garantir trabalho para todos a jornada semanal deveria ser reduzida para no máximo 15 horas para cada um, sem diminuição dos salários. E quem bancaria a diferença sem real prejuízo para ninguém? Os juros compostos! Mas, como? (continua)

* Administrador de empresas com especialização em Marketing 

 

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