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O desrespeito à Constituição é o caminho da exceção

O Brasil foi construído sob a batuta dos regimes autoritários, e do coronelismo, e neste contexto antidemocrático os direitos humanos não tinham espaço, nem o advento da República, que deveria trazer consigo a materialização de uma democracia constitucional, que aliviasse o sofrimento dos mais pobres não se materializou, e como os pobres sempre viveram sob a batuta da chibata, não conseguiram entender, e nem assimilar os direitos e deveres que a Constituição determina, como a igualdade entre os cidadãos e o exercício da cidadania, mas o entendimento que a maioria tem do que seja um regime democrático é superficial, e como sempre a chibata falou mais alto e o regime democrático está sempre claudicando entre nós.

O sopro democrático que a Constituição cidadã de 1988 trouxe, e muitos achavam que finalmente seriamos um país evo­luído, desaguou no saudosismo do autoritarismo e da chibata que começaram a corroer as entranhas constitucionais como fazem os cupins na madeira. Nos últimos tempos até a corte mais alta do país trocou o conceito de constitucionalidade pelo senso comum – onde o juro que vi tem mais valor do que a letra fria da lei.

Aquele costume vezo (coisa só de Brasil) que existem leis que pegam e leis que não pegam – que circulava mais ênfase no andar de baixo subiu a ladeira, e está servindo de exemplo para os maus governantes não respeitarem as leis vigentes tripudiando em cima da população, porque de uns tempos para cá a justiça que já foi cega está enxergando e tem lado. Como se dizia no passado: “Aos meus amigos tudo, aos inimigos os rigores da lei”.

Sabem de carteirinha, que uma educação pública básica de qualidade e para todos, criaria uma nação cidadã, mas esta­beleceram no passado como política de Estado, não permitir que a tão sonhada qualidade chegasse à escola básica pública, e para isso vale tudo. O Plano Nacional de Educação, que foi promulgado em 2014, e deu o prazo de um ano para que estados e municípios adequassem os seus Planos ao Nacional, ou aqueles que ainda não tinham Planos construíssem com a participação da sociedade civil os seus Planos, mas passa­dos quase quatro anos, por conta de sofismas intermináveis, Ribeirão Preto ainda não tem o seu aprovado.

Cumprido determinação do Plano Nacional de Educação, o Conselho Municipal de Educação, juntamente com a Secretaria de Educação, e diversas entidades da sociedade civil, tendo como base o Plano Municipal de Educação construído em conferências municipais, elaborou um texto base que foi discutido e aprovado em cinco audiências públicas, que depois foi referendado pelo Conselho Municipal de Educação como manda a lei. Ao Executi­vo Municipal caberia emitir os pareceres pertinentes, com o posi­cionamento técnico, e enviar o Plano para o Legislativo Municipal para ser debatido e aprovado – mas o caminho foi outro.

Depois de tantas idas e vindas, e de adulterações indevidas e ilegais, o Executivo e a Secretaria de Educação resolveram criar uma comissão majoritariamente governista para dis­cutir um novo Plano Municipal de Educação criado pela equipe técnica, e os palacianos, totalmente antidemocráticos, segundo os mesmos, uma versão 2018, totalmente genérico, pois não determina prazos, e nem metas a serem atingidas, totalmente fora do contexto do Plano Nacional.

Desde 2008, que os governos municipais alegam que o Plano é ambicioso demais, e que vai causar um impacto financeiro esbar­rando na Lei de Responsabilidade Fiscal, como vem acontecendo agora, mas não especificam como será este impacto. Não permitir que os avanços na qualidade da educação básica municipal é a principal bandeira para manter e preservar a velha política de Estado que produz as desigualdades, e mantêm os miseráveis na sua miserabilidade. Não se faz democracia desrespeitando as leis.

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