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O desafio de estudar ansiedade (6)

A aprendizagem humana envolve mudanças duradouras na cognição, ou no comportamento, provocadas, em ambos os casos, pelas experiências ambientais. De acordo com os teóricos da aprendizagem, ansiedade é mais bem compreendida em termos das respostas comportamentais resultantes dos enfrentamentos contextuais acumulados ao longo do tempo. Assim considerando, parece razoável assumir que uma pessoa pode aprender através de uma série de vivências infelizes em lugares e eventos, ou com pessoas percebidas como ameaçadoras. Como conseqüência, essas vivências resultam em respostas de ansiedade. Desta forma, os princípios científicos e os modelos de aprendizagem humana podem ser úteis em explicar, em parte, a aquisição de comportamentos ansiosos de um indivíduo em resposta a certos estímulos ambientais.

Os princípios do condicionamento clássico podem explicar tanto a aquisição das reações ansiosas a certos tipos de estímulos, bem como, a manutenção dessas reações ao longo do tempo. A essência dos modelos da teoria da aprendizagem é que a ansiedade e o medo são adquiridos por condicionamento ou outros processos de aprendizagem que, por sua vez, geram comportamentos de fuga e de evitação. A ansiedade e o medo persistem, em parte, porque eles são parcialmente bem-sucedidos em levar a comportamentos de fuga e evitação, seguidos, por sua vez, de uma redução significativa de ansiedade ou medo.

Para a teoria da aprendizagem, qualquer estímulo neutro é potencialmente capaz de ser convertido em um estímulo evocativo de ansiedade, via condicionamento a um estímulo não condicionado, promovendo a habilidade de evocar subsequentemente, e por si próprio, medo e ansiedade. Na terminologia do condicionamento clássico, um estímulo não condicionado é um estímulo automático e não aprendido, que elicia uma resposta não condicionada (resposta automática). Um estímulo condicionado é um estímulo neutro, emparelhado a um estímulo não condicionado e, eventualmente, que vem a provocar uma resposta condicionada, bastante similar em natureza a uma resposta não-condicionada.

Uma vez estabelecidas, as reações de ansiedade condicionada tomam propriedades motivadoras. Numa tentativa para reduzir a ansiedade, as pessoas engajam-se em comportamentos de evitação e fuga, como, por exemplo, evitando interações no trabalho. Se este comportamento é seguido de redução na ansiedade, ele se torna potencializado, ou reforçado, e as reações de ansiedade se encaminham para a extinção. Assim, os indivíduos que são repetidamente expostos às experiências aversivas circundando situações sociais, naturalmente aprendem a associar contextos sociais com ameaças e perigo, sendo prontamente condicionadas a responderem a tais situações sociais com níveis elevados de ansiedade. Ademais, as respostas de ansiedade podem ser generalizadas para uma variedade de outros estímulos, tais como, atender a eventos sociais, bem como, ministrar palestras e aulas, entre outros.

Algumas respostas de ansiedade condicionadas podem, portanto, ser o resultado de simples eventos traumáticos ou subtraumáticos, envolvendo fortes reações do sistema nervoso. Essas respostas condicionadas, que são reforçadas, são potencializadas; aquelas não condicionadas, são extinguidas, desaparecendo.

Modelagem parece ser um mecanismo particularmente importante nesse processo, para entender a relação entre os relacionamentos interpessoais de um indivíduo e seus comportamentos com o desenvolvimento da prontidão para a ansiedade e para as reações no contexto social. De modo similar, padrões de respostas emocionais complexas, tais como reações de ansiedade elevadas, em situações de perigo físico, ou socialmente ameaçadoras, podem ser adquiridas por observação, testemunhando eventos de tensão preocupantes provocadores de ameaças físicas ou imaginárias.

A pessoa socialmente ansiosa constrói um modelo interno de como as situações sociais se desenvolvem e, como estas, possuem ameaças que são difíceis para ela manejar ou controlar. O impacto do estímulo social é filtrado via esse sistema de crenças internas, ainda que ele possa ser não realístico. Em suma, aprendizagem é importante na ansiedade, mas nós não podemos satisfatoriamente explicar toda a ansiedade humana nos baseando num simples mecanismo de aprendizagem.

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