André Luiz da Silva *
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No dia 21 de março, celebramos o Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial. Essa data foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1966, em memória ao trágico massacre de Shapeville, em Johanesburgo, na África do Sul, ocorrido em 1960.
É importante pensarmos sobre esse tema e convidar você para uma reflexão. Muitas vezes, em ambientes de trabalho, escola e até mesmo em família, evitamos discutir sobre o assunto. Um dos grandes problemas do racismo, do preconceito e da discriminação é a negação deles por parte dos que os praticam e a tentativa de evitar debates profundos. Um exemplo disso foi o veto em alguns lugares ao livro “O Avesso da Pele”, escrito por Jeferson Tenório, vencedor do Prêmio Jabuti 2021 e indicado pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) para escolas públicas em todo o Brasil.
Uma das características do nosso país é a prática velada. Aqui, a legislação tem progredido, criminalizando qualquer ato resultante de discriminação ou preconceito baseado em raça, cor, etnia, religião ou origem nacional. No entanto, diariamente, vemos muitos casos que mostram que ainda estamos longe de alcançar a sociedade ideal que almejamos.
Com o aumento do acesso às redes sociais e outros meios de comunicação, o racismo estrutural torna-se mais evidente. Vemos também pessoas racistas agora se desculpando publicamente e adotando discursos politicamente corretos, muitas vezes produzidos por profissionais de assessoria. Por outro lado, há aqueles genuinamente interessados em ouvir e reconhecer o sofrimento alheio, comprometendo-se com a mudança e a evolução para uma sociedade verdadeiramente inclusiva.
Recentemente, a cantora Wanessa Camargo, ex-participante do BBB 24, usou as redes sociais para se desculpar por atitudes racistas contra Davi, um dos participantes do reality show, alegando desconhecimento sobre o racismo estrutural e prometendo mudar. Esperamos que seja sincero. Enquanto muitos ficaram chocados com as atitudes preconceituosas da artista, milhões se identificaram com o jovem baiano e os estereótipos revelados.
Poucos negros e negras escapam da discriminação e exclusão em situações cotidianas, como abordagens policiais, tratamento em órgãos públicos ou no comércio, no entanto, uma forma perigosa e cruel de discriminação é a sutil, que se manifesta de maneira discreta e subjetiva, como microagressões, estereótipos raciais, preconceitos implícitos e discriminação institucionalizada, inclusive no âmbito religioso. É alarmante ver denominações cristãs atacando e propagando ódio contra religiões de matriz africana, ao invés de promoverem amor e fraternidade, como preconizado por Cristo.
Investir em educação antirracista e inclusiva desde
a infância é uma das principais estratégias para combater a discriminação racial, desmantelando estereótipos e preconceitos. Isso inclui ensinar história afro-brasileira e africana nas escolas, além de promover espaços de diálogo e reflexão sobre o tema.
Os meios de comunicação, empresas, governos, legislaturas e fóruns de participação devem ser aproveitados para conscientizar e sensibilizar as pessoas. As políticas de ação afirmativa também são essenciais para avançarmos rumo a uma sociedade brasileira livre de discriminação racial.
Para quem pratica ou já praticou discriminação racial, segue um roteiro básico para mudança: Reconhecer o erro, colocar-se no lugar do outro, ouvir com empatia, sem buscar justificativas para sua ação, se desculpar e ficar atento para não repetir o erro.
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista