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O Coringa que te habita

Não é surpresa que o filme “Coringa”, de Joaquim Pho­enix e Todd Phillips, tenha obtido 11 indicações ao Oscar. Este é um dos filmes que, no mínimo, gostando ou não, intrigam cada um de nós. Assim que o filme foi lançado, seu impacto causou tanta estranheza que muitos se pergun­taram: quem é e onde está o Coringa da vida real? Conse­quentemente, muitos dedos foram apontados: aos políticos, aos marginalizados, etc.. A resposta mais convincente foi dada por um colega da Psicologia, José Balestrini, que pon­tuou que o Coringa é, simplesmente, o coringa: ou seja, uma máscara que cabe em todos nós.

A outra face do Coringa é o palhaço Happy, traduzindo para o português: o Feliz. Ele quer trabalhar, é dedicado, tenta ganhar o seu dinheiro, sonha em ser um astro, ou melhor, ter reconhecimento, isto é, como sinônimo disso tudo: ser feliz. Esta descrição corresponde à grande parte da sociedade atual. A busca da felicidade como sinônimo de sucesso, dinheiro e poder é um imperativo no mundo.

Porém, a busca da felicidade gera uma expectativa tão grande na sociedade, que muitos indivíduos, hoje, ao não conseguirem alcançá-la, fazem uso equivocado de medica­mentos, como o clonazepam, para suportar a frustração de suas vidas. A questão é que felicidade não é sinônimo de dinheiro, sucesso ou poder. A Psicologia Analítica entende que não é possível estar em um estado de felicidade sem, frequentemente, enfrentarmos um estado depressivo. E, quem nega as próprias tristezas, frustrações, entre outros sentimentos que julgamos negativos, acaba por torná-los mais frequentes e maiores. O clonazepam ajuda a anestesiá­-los, mas não os elimina.

Quando a negação destes sentimentos já não é mais suportada, eles nos tomam de uma vez só. Por isso, é muito comum vermos popstars que conquistam uma rápida fama enfrentarem um quadro depressivo logo em seguida. Se acei­tássemos nossas tristezas em pequenas doses diárias, conse­guiríamos também ser felizes em doses diárias.

Quando Happy veste a máscara do Coringa, ele não aceita em si todas suas dúvidas, frustrações e tristezas, o que seria o caminho certo, psicologicamente falando. Ele rompe com o próprio Happy em si, ele cinde, e é engolido por todos estes sentimentos sombrios. Isso faz nascer o Coringa. Nós não somos diferentes: todos temos tristezas, frustrações e dúvi­das. Resta-nos entender as nossas e não apontar dedos para as do indivíduo ao lado. O lado sombrio e negativo da vida é inevitável. A única coisa possível de se fazer é escolher o que fazer com elas.

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