Tribuna Ribeirão
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O Chile e sua literatura (8): Vicente Huidobro (2)

Abaixo, dois poemas de Huidobro:

RELATIVIDADE DA PRIMAVERA

Não há nada a ser feito contra as noites de maio
Às vezes a noite se desfaz nas mãos
E eu sei que teus olhos são o fundo da noite
Às oito da manhã nascem todas as folhas
No lugar de tantas estrelas teremos frutas
Quando alguém se vai a paisagem se fecha
E ninguém cuidou das ovelhas da praia
A primavera é relativa como o arco-íris
Poderia muito bem ser um guarda-sol
Um guarda-sol sobre um suspiro ao meio-dia
O sol foi extinto pela chuva
Guarda-sol da montanha ou talvez das ilhas
Primavera relativa arco de triunfo sobre meus cílios
Tudo está calmo à direita e em nosso caminho
O pombo é tíbio como uma almofada
A primavera marítima
O oceano inteiramente verde até o mês de maio
O oceano será sempre nosso jardim privado
Onde as ondas crescem como samambaias
Eu quero essa onda de horizonte
Único laurel para a minha fronte
No fundo de meu espelho o universo se desfaz
Não há nada a ser feito contra a noite que nasce

GLOBE-TROTTER

Teu olhar azul
Teu olhar azul
Tantas ondas tantas rochas
Para onde vão?
Em que porto deixarei minha canção?
O vento faz girar as estrelas
E o navio se afasta
Em teu olhar que treme
Por aqui passaram
Meus versos e meus anos
Nesse doce mar pradaria
Onde pascem todas as primaveras
Nesse mar naufragaram
Todos os meus barcos floridos
Marinheiro do ocaso
Olhemos os cata-ventos
Jamais irei às praias sem gaivotas
Sempre de pé
Marinheiro no fundo do céu
Com os braços abertos na proa
A fumaça de teu cachimbo inflou as nuvens
E todo o céu tem o cheiro de teu tabaco
Olha bem mais longe
Marinheiro triste
De tanto ser Cristo
Sobre os mastros
Ergamos os braços
Até o céu que nasce da água
Até essa aurora esquecida pelos pássaros
O vento faz girar as estrelas
E eu sigo seus olhos natais pescados
Entre os dedos um pouco de azul
Espuma de mar sobre o calçado
O ponto do horizonte é meu chapéu
E em todas as praias
Minha gravata ao vento é uma bandeira
Globe-trotter
Estou longe de mim mesmo
No fundo dessa neblina eu me lembro
(uma lembrança que luz como uma lanterna
Laranja na mão)
Estava no colégio, estava interno
E passava o verão
A bordo de teus olhos azuis

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