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O Chile e sua literatura (32): Egon Wolff

Egon Wolff (1926-2016), dramaturgo e autor chileno, nasceu no Chile, em família de classe média de imigrantes alemães, filho de pais que defen­diam os valores familiares tradicionais e incentivavam a ética de trabalho tradicional. Na infância, problemas de saúde restringi­ram seu deslocamento e, para aliviar a angústia de se encontrar acamado, Wolff se dedicou à leitura dos clássicos da literatura mundial. Estas leituras acabaram por influenciá-lo a produzir seu primeiro romance, “El Ocaso”. Engenheiro Químico, Wolff complementou sua formação estudando Artes Cênicas na Univer­sidade de Yale, nos Estados Unidos. Em 1941, o estabelecimento do Teatro Experimental de la Universidad de Chile e da Fundação do Teatro del Ensayo de la Universidad Catolica elevaram a qualidade do teatro nacional, permitindo que dramaturgos como Wolff e colegas começassem a produzir e a se apresentar na década de 1950, em terreno universitário, desenvolvendo suas carreiras com rigor técnico e artístico apurados, que os diferenciavam do teatro comercial anterior.

De estilo literário único e expressivo, cheio de padrões e reviravoltas inespera­das, que levavam a primeira cena de uma peça a ser igual à última, criando um ciclo contínuo e completo, Wolff, trabalhando temas universais, aplicou-lhes um estilo próprio, repleto de referências à cultura chilena. De acordo com especialistas, o trabalho de Wolff gravita em torno do neo-realismo social, no qual ele retrata o comportamento aparentemente complexo e os conflitos entre os indivíduos, em última análise, cedendo às forças de seu ambiente. Consequentemente, sua obra abriga temas sociais, políticos e existenciais, tais como conflitos entre classes sociais e entre diferentes grupos geracionais; a decadência moral e a decadência de certos grupos sociais. Seu trabalho também aborda os efeitos negativos que as convenções sociais podem ter na existência dos indivíduos.

Em algumas obras, Wolff também apresenta dois grupos sociais que possuem ideias e situações de vida opostas e em conflito entre si, levando a, ao final da obra, apenas um deles conseguir prevalecer. Tratando da condição humana, bem como, da natureza destrutiva das forças sociais, mostra como ambas, muitas vezes, mesclam-se com o re­alismo mágico que alterna entre a realidade e a fantasia. Em uma de suas obras mais fa­mosas, “Pareja de trapos”, os dois protagonistas representam o orgulho e o preconceito da aristocracia e o oportunismo da classe média que, para ascender, se mostra capaz de tudo, inclusive de praticar atos imorais e criminosos. Por sua vez, em “Los Invasores”, uma luxuosa residência é invadida e ocupada por um grupo de mendigos sem-teto, deixando o público sem conseguir determinar se o acontecimento é real ou apenas um “pesadelo” da imaginação dos atores. Em suma, através do teatro, Wolff consegue produzir uma profunda crítica à sociedade.

Produzida em 29 países, e traduzida para 19 idiomas diferentes, o autor ganhou diversas vezes o Premio Municipal de Teatro, ingres­sando, em 1983, como membro titular da Academia Chilena de Línguas. Em 2013 recebeu o Prêmio Nacional de Artes Cênicas e Audiovisuais do Chile. De sua autoria: “Mansão de Lechuzas” (1957), “Dis­cípulos del miedo” (1958), “Parejas de trapo” (1959), “Niñamadre” (1961), “El signo de Caín” (1958, 1969), “Los invasores” (1963), “Flores de papel” (1970), “Jardim de Infância” (1977), “Espejismos” (1978), “Álamos na Azota” (1981), “El sobre Azul” (1983), “A Balsa da Medusa” (1984), “Háblame de Laura” (1985), “Invitación a comer” (1993), “Cicatrizes” (1994), “Claro Escuro” (1995), “Encrucijada” (2000), “Tras una puerta cerrada” (2000).

Em entrevista, em outubro de 1971, no Chile (Apud Elena Castedo-Ellerman, 1976, p. 15), assim se manifestou o autor: “Soy un autor de mi época… clasifico mi teatro den­tro de la corriente del “realismo estilizado”, o realismo teatralizado, para darle nombre… Como soy un firme convencido de la necesidad de la empatia como agente estimulador de vivencias teatrales, no puedo desprenderme por ello, de una cierta cuota de realismo, pero reivindico para mi el derecho de deformar ese realismo al idioma de mis propias vivencias. De aí surge entonces la estilización a que me refiero” Um trecho de sua obra? “Porque no entiendes. Tendrás que vivir conmigo hasta el día que entiendas. Puede que llegue el día que te sientes a esta mesa y le tomes el gusto a las cosas que te traigo; a esta cebolla, a estas papas, a este vino. Tengo la esperaza de que así sea”. (Apud Elena Castedo-El­lerman, 1976, p. 23). Após a morte de sua esposa em um acidente automobilístico em 1995, Wolff parou de trabalhar por cerca de cinco anos.

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