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O Chile e sua literatura (29): Juan Radrigán Rojas

Juan Radrigán Rojas (1937-2016) foi um dramaturgo chileno que lecionou em várias universidades de seu país, recebendo o Prêmio Nacional de Artes Cênicas (2011) e Altazor (2005-2014) por seu trabalho, além de ter sido selecionado várias vezes na Mostra Nacional de Dramaturgia. Filho de pai mecânico e mãe profes­sora, Rojas teve três irmãos, todos, assim como ele, alfabetizados pela mãe. De acordo com estudiosos, após o golpe militar no Chile (1973), o autor preci­sou trabalhar como livreiro, vendedor, balconista, embalador e outros para sobreviver. Mas, nas horas vagas, nunca deixou de lado o exercício de escrever. Dedicação, esta, que lhe permitiu, em 1975, publicar a coletânea poética “El día de los muros”, seguida de sua primeira peça “Testimonio de las muertes de Sabina”, alguns anos depois, apresentada em várias cidades do país.

Com o passar dos anos, Rojas dedicou-se à dramaturgia, cuja produção foi reunida, e publicada, em 1984. Ainda em 1981, “Hechos Consumados” foi eleito pelo Círculo de Críticos de Arte como a melhor obra do ano, o mesmo ocorrendo, no ano seguinte, com “El toro por las astas”, reconhecida pelo Prêmio Municipal de Literatura de Santiago, em 1983. Nesse mesmo ano Rojas partiu em turnê de seis meses pela Europa com a companhia El Telón, levando as duas peças premiadas, e mais uma “El invitado”. Convi­dada oficialmente pelo Festival de Teatro de Nancy, a companhia também se apresentam na Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Holanda, Inglaterra, Luxemburgo e Suécia. Novas viagens, desta vez ao Peru e ao Equador (1985), à Colômbia e Costa Rica (1986) e para Su­íça, Holanda, França, Itália, Inglaterra, Suécia, Escócia e Alemanha (1988), o tornaram mundialmente conhecido. Em 1986, sua peça “Hechos consumados” ganhou versão cinematográfica, também sendo elogiada pela crítica e pelo pú­blico. Em 1990, a democracia retornou ao Chile e sua obra se popularizou, espalhando-se por todo o país.

Em 1996, estreando sua ópera-teatro “El encuentro” com música de Patricio Solovera e direção de Willy Semler, o autor inaugurou a terceira fase de sua carreira, trabalhando diferentes formas de escrever teatro, como mostram suas obras “Beckett e Godot” e “Amores de cantina”, nas quais Rojas enveredou-se por várias linhas estéticas. Firmando-se no teatro chileno como um ícone incontornável da dramaturgia, o autor viu suas aulas na faculdade e a popularidade de suas peças aumentarem, influenciando a nova geração de dramaturgos e sendo extensivamente premiado. Sua peças tratam da marginalidade social, associada ao contexto político, econômico e cultural da ditadura militar chilena, com a crítica especializada comparando sua obra com a dramaturgia de Samuel Beckett e Arthur Miller e, a nível nacional, com o teatro social de Antonio Acevedo Hernández e Isidora Aguirre. Sua escolha por personagens subproletários, mendigos, prostitutas, entre outros, e pela atmosfera existencial, que evidencia o destino trágico do ser humano e sua desesperança, fê-lo se destacar como o primeiro dramaturgo a transformar párias sociais em personagens principais de uma peça chilena. A linguagem de suas obras, se aproximando da linguagem das classes sociais mais baixas, permitiu-lhe criar um teatro que luta, reflete e dignifica.

Sobre “El encuentro”, Juan Radrigán destacou: “Em todos esses anos, en­contrei a lenda do mulato Taguada e Don Javier de la Rosa, que muitos dizem não ser verdade. Ninguém sabe ao certo onde aconteceu. É um confronto que continua até ago­ra. Eu vi assim, como duas entidades que se en­frentam para sempre, que para mim são o bem e o mal. Através disso, me ocorreu que o duelo não acabou e isso é o mais próximo de uma resposta que poderia ser dada ao público. Quando percebi isso, só consegui escrever de novo.” (“Juan Radrigán: sou um inconformista”, El Nortino, Iquique, 1996). Aos 79 anos, pouco depois de ser diagnosticado com câncer metastático na coluna vertebral, o autor veio a falecer, sendo seu corpo velado no Teatro Sidarte, no bairro de Bellavista, em Santiago, onde o ministro da Cultura, Ernes­to Ottone , anunciou que o governo decretaria luto oficial por sua morte.

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