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O Chile e sua literatura (26): Isidora Aguirre

Isidora Aguirre (1911-2019) foi uma dramaturga chilena filha de pai engenheiro e mãe pintora. Já na infância, recebendo uma educação voltada para as artes, trabalhou como escritora e ilustradora de livros infantis, estudando serviço social e direção de cinema, antes de se dedicar ao teatro. De acordo com especialistas, seus primórdios na dramaturgia remontam a 1952, época em que, sob a influência de Hugo Miller, produziu suas primeiras peças teatrais, consistindo em comédias leves como “Carolina e La Dama del Canasto” Porém, com o tempo, sua obra evoluiu para um trabalho mais profundo e comprometido, que buscava refletir e questionar a situação social do país, inspirado nos postulados teatrais de Bertolt Brecht. Suas obras “Población Esperanza”, coescrita com o romancista Manuel Rojas, “Los Papeleros”, “Los que van caindo en el caminho” e “Retablo de Yumbel” se inscrevem nesta linha de teatro social, todos baseados em fatos reais e escritos a partir de um longo trabalho de pesquisa. Em semelhante veia documental, Isidora Aguirre compôs inúmeras obras de inspiração his­tórica e tradicional, como “La leyenda de las tres pascualas”, “Diálogos de fin de siglo”, “Manuel”, sobre a figura lendária de Manuel Rodríguez, um dos patriotas que mais fizeram para libertar o Chile, lançado em outubro de 1990, e “¡Lautaro!”, um de seus maiores sucessos de bilheteria.

Ainda segundo estudiosos, Aguirre, com mais de trinta peças estreadas ao longo de sua vida, foi uma das figuras mais destacadas do teatro chileno do século XX. Por mais de cinquenta anos, seu trabalho artístico desenvolveu um projeto artístico que conseguiu combinar a popularidade com uma profunda preocupação com as questões sociais e uma constante investigação sobre a identidade chilena, seja refletindo sobre os acontecimentos nacionais atuais ou revisando seu passado histórico. Alcançou fama próxima à lenda graças à sua obra “La Pérgola de las flores”, uma comédia musical lançada em 1960, que milhares de chilenos viram em uma de suas muitas apresentações, seja ao vivo ou na televisão. Este enorme sucesso ofuscou um pouco as outras realizações de Aguirre, já que ela cultivou todos os tipos de estilos, desde a farsa e a comédia, até os dramas históricos, passando por uma variedade de temas que transcendem a típica nostalgia costumbrista das obras populares. O dramaturgo foi também um importante patrocinador da formação de várias gerações de grupos de teatro, não só como professor, mas também como promotor do desenvolvimento da atividade teatral nas províncias.

“¡Lautaro!” foi escrita a partir do pedido de um amigo mapuche, para criar uma peça dramática sobre seu povo, que ajudasse a legitimar, e defender, publicamente suas reivindicações atuais. Assim, “Lautaro! Epopeya del Pueblo Mapuche”, estreada em 1982, dramatiza o conflito mapuche, reconstruindo a relação entre Lautaro e Pedro de Valdivia como a de dois per­sonagens unidos por um sentimento de afeto mútuo e admiração, cujo vínculo se rompe após a rebelião mapu­che. A versão original da peça, dirigida por Abel Carrizo e estrelada por Andrés Pérez, no papel de Lautaro, e Arnaldo Berríos, no de Pedro de Valdivia, incorporou uma série de elementos anacrônicos de profundo valor simbólico: o detalhe de que os soldados espanhóis usavam óculos escuros -numa clara alusão à repressão política dos anos da ditadura militar- e o uso, em várias cenas, de música de fundo composta por Los Jaivas, uma das bandas mais duradouras do cenário musical chileno, considerada o grupo musical chileno mais importante até hoje formado. Nele destaca-se a incorporação de instrumentos e ritmos latino-americanos a enfoques musicais moder­nos. Para preparar a escrita da obra, Isidora Aguirre conviveu, entre 1978 e 1980, com famílias Mapuche, de Chol-Chol, Lonquimay, Puerto Saavedra, Lago Ranco e Mehuín, com a intenção de captar aspectos de sua vida cotidiana e coletar histórias da tradição oral. A peça foi um sucesso, recebendo, em 1981, o prêmio Eugenio Dittborn da Universidade Católica e sendo vista por mais de 31 mil pessoas.

Tendo também se dedicado à escrita de inúmeras adaptações teatrais e vários roman­ces, tal atividade a levou a ser considerada entre as candidatas ao Prêmio Nacional de Literatura, seja por sua obra teatral seja por sua posição de mulher pioneira na promoção da dramaturgia nacional. Isidora Aguirre faleceu em Santiago, aos 91 anos.

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