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O Chile e sua literatura (17): Isabel Allende

Isabel Allende (1942 – ) é uma escritora e jornalista chilena nascida em Lima, no Peru, filha de pai diplomata e mãe dona de casa. Em 1945, com a separação dos pais, Allende e seus dois irmãos voltaram com a mãe para Santiago, capital do Chile, ali pas­sando sua infância e parte de sua juventude. Com o novo casamento materno, em 1953, a autora foi com a família morar em La Paz, na Bolívia, ali estudando em uma escola americana e, por ocasião de mudarem-se para Beirute, no Líbano, Allende ingressou em uma escola inglesa. Em 1958, de volta ao Chile, Isabel Allende ingressou no curso de jornalismo, época, esta, em que começou a escrever contos infantis e peças para o teatro. Em 1960, entrando para a seção chilena da Organização das Nações Unidas (FAO), a autora traba­lhou pela melhoria do nível de vida da população carente. Em 1962, contraindo matrimônio, Isabel teve dois filhos. Cinco anos depois, iniciou oficialmente sua carreira literária, passando a escrever para uma revista feminina e também para uma revista infantil. Em 1970, trabalhando na televisão, a autora passou a apresentar um programa de entrevistas, estreando sua peça de teatro, “O Embaixador”, em 1972. Em 1973, o golpe militar no Chile, encabeçado pelo general Augusto Pinochet, depôs o presidente Salvador Allende, tio da autora. Instaurando-se a ditadura militar no Chile, e ocorrendo a morte de Salvador Allende, Isabel deixou o país, junto com sua família, refugiando-se em Caracas, na Venezuela.

Em 1981, com o avô muito doente, e impossibilitada de voltar ao Chile, Allende começou a escrever uma carta para o mesmo, que era visto como uma figura paterna para ela, uma vez que não tinha memórias do seu pai. Esta carta, ponto de partida para o livro “A Casa dos Espíritos”, publicado em 1982, permitiu-lhe narrar um enredo baseado nas lembranças de sua infância e juventude passadas no velho casarão familiar, onde, vivendo com seus avós e seus tios, a autora via-se envolta em uma atmosfera liberal. De acordo com especialistas, “A Casa dos Espíritos” traz a família Trueba que, vendo um golpe militar depor um presidente socialista, e instalar uma ditadura militar, semelhante ao que se passou no Chile entre 1973 e 1990, retoma a época em que o Chile viveu sob o “punho de ferro” de Augusto Pinochet. Nessa obra, a fantasia da escritora, desdobrando-se em meio aos principais acontecimentos políticos da história, leva o leitor a se situar nos dramáticos períodos de perseguição e terror da san­grenta ditadura militar. Publicada em 1982, logo se tornou um best-seller em diversos países da América do Sul e da Europa, consagrando Isabel Allende como uma das grandes escritoras chilenas. Onze anos depois, adaptada para o cinema pelo sueco Bille August, as filmagens contaram com a colaboração da es­critora e com a participação de atores consagrados, como Meryl Streep, Jeremy Irons, Glen Close, Antônio Banderas, Vanessa Redgrave e Winona Ryder.

Dois anos depois da publicação de “A Casa dos Espíri­tos”, Isabel Allende publicou “De Amor e de Sombra” (1984), romance sobre uma história de amor de dois jovens jornalistas forçados a se exilarem depois de investigarem o desaparecimento de uma mulher numa ditadura militar. Segundo estudiosos, a obra relata a descoberta de um cemitério clandestino, em uma mina no norte do Chile, onde estavam sepultados os desaparecidos durante a ditadura. Próxima do chamado “realismo mágico, que mistura fantasia com realidade, “De Amor e de Sombra” recebeu elogios dos leitores e da crítica o que veio selar o êxito internacional da escritora.

Vivendo na Venezuela até 1987, ano em que se divorciou do marido e se mudou para os Estados Unidos, Allende, já morando nos Estados Unidos, em 1991, descobriu que sua filha Paula tinha uma grave doença neurológica e, depois de um longo período em coma, esta acabou morrendo. Durante o coma da filha, Isabel começou a escrever a obra “Paula”, na qual o luto e a depressão levaram a escritora a relatar os fatos ocorridos durante a grave doença. Publicada em 1994, “Paula” foi seu primeiro trabalho de não ficção e muitos críticos consideram essa a melhor obra de Allende. Após a morte de sua filha, e da publicação da obra “Paula”, a escritora passou por um forte bloqueio criativo e aceitou o convite de uma amiga para conhecer a Índia na tentativa de superar o luto. Na Índia, Isabel viveu um momento que mudaria sua vida,
quando uma mulher lhe entregou uma criança recém-nascida. O bebê lhe foi oferecido porque o nascimento de uma menina não era bem aceito na sociedade local. Depois do choque da experi­ência, a escritora decidiu criar a “Fundação Isabel Allende”, para ajudar mulheres e crianças em situação de risco.
Morando nos Estados Unidos, e ainda escrevendo, suas obras estão sempre nos primeiros lugares da lista dos livros mais vendidos nas Américas e na Europa. E nestes, alguns personagens de “A Casa dos Espíritos” voltaram a aparecer nos romances “Filha da Fortuna” (1998) e “Retrato a Sépia” (2000), o que resultou em uma trilogia não oficial. No livro “Para Lá do Inverno” (2017), a autora escreveu sobre os flagelos da imigração ilegal e dos refugiados. Em “Longa Pétala de Mar” (2019), Allende se ins­pirou na história dos refugiados espanhóis que chegaram ao Chile a bordo do navio Winnipeg. Premiada diversas vezes, suas obras foram traduzidas para vários idiomas.

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