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O Chile e sua literatura (15): Gonzalo Rojas

Gonzalo Rojas Pizarro (1916-2011) foi um poeta chileno que, jovem, alfabetizou os mineiros do Atacama e participou no grupo surrealista Mandrágora, vanguarda estética radical na época. Sete anos depois, Rojas escreveu “La miseria del hombre” (1948), seu primeiro livro de poemas, provocando reações diversas na crítica oficial. Em 1952, tendo obtido a licenciatura em Filologia Clássica, lecionou Literatura Chilena e Teoria Literária no Departamento de Espanhol da Universidade de Concepción, onde permaneceu até 1970, quando foi nomeado Conselheiro Cultural na China, pelo Presidente da Repú­blica Salvador Allende.

Durante sua permanência na universidade, organizou e dirigiu importantes atividades culturais, como as Escolas Internacionais de Verão, nas quais foram realizados o Primeiro Encontro Nacional de Escritores (1958) e o Primeiro Encontro de Es­critores Americanos (1960). Para Carlos Fuentes e José Donoso, esses encontros teriam sido o início do boom latino-americano, pois abriram um espaço de reflexão -como o próprio poeta propôs-, em torno das imagens da América Latina e do homem moderno, atividade acadêmica, essa, que, apesar de intensa, não o impediu de praticar a poesia, que deu origem a sua obra “Contra la muerte” (1964), livro unanimemente celebrado pela crítica.

Com o golpe militar chileno (setembro de 1973), a história de seu país sofreu uma violenta reviravolta, refletindo-se também em sua vida. O poeta é agora um exilado, um “indocumentado”, que não só foi demitido de seu cargo diplomático, mas também expulso de todas as universidades chilenas por representar um perigo para a ordem e a segurança nacional. Na Universidade de Rostck -Alemanha Oriental- Rojas foi acolhido como professor, sofrendo a situação perturbadora e incômoda da perseguição. Partindo para a Venezuela (1975), o autor foi contratado pela Universidade Simón Bolívar, onde morou com Hilda, sua segunda esposa, e seu filho, Gonzalo.

Publicando em Caracas seu terceiro livro de poemas, “Oscuro” (1977), a partir desse momento sua poesia, escrita sem pressa, começou a ser lida das profundezas do conti­nente, sendo aplaudida sem reservas pela crítica internacional. Recebendo convites para ler sua criação poética, dar conferências e cursos em universidades norte-americanas e europeias, Rojas é objeto de homenagens e seus livros começam a ser publicados no Mé­xico, Madri e Nova York. As edições se sucedem: “Transtierro” (1979), “Antología breve” (1980), “50 poemas” (1980), “El alumbrado y otros poemas” (1987), “Antología personal” (1988), “Schizotext and Other Poems” (1988), “Materia de Testamento” (1988), obras, estas, que figuraram dentre os livros mais vendidos na Madrid da época. Sua literatura, convergindo velhos e novos poemas, passando, então, a se apresentar em três vertentes: o numinoso, o erótico e o súbito. Exemplos dessa união de vertentes são as obras “Desocu­pado lector” (1990), “Antología de aire” (1991), “Las hermosas. Poesías de Amor” (1991), “Zumbido” e “La miseria del hombre” (edición crítica: 1995).

Retornando ao Chile em 1979, escolhe o Chile como local de residência permanente, de lá seguindo para lecionar nas universidades da Alemanha, Estados Unidos, México e Espanha. Em 1992, recebendo o Primeiro Prêmio Reina Sofía de Poesia Ibero-americana e o Prêmio Nacional de Literatura, prêmio máximo que o Chile concede a seus escrito­res, Gonzalo Rojas não cessou mais de receber reconhecimentos internacionais por sua obra, a qual se reveloa parte da tradição continuada das vanguardas literárias latino-a­mericanas do século XX. Dois poemas seus?

AL SILENCIO
Oh voz, única voz: todo el hueco del mar,
todo el hueco del mar no bastaría,
todo el hueco del cielo,
toda la cavidad de la hermosura
no bastaría para contenerte,
y aunque el hombre callara y este mundo se hundiera
oh majestad, tú nunca,
tú nunca cesarías de estar en todas partes,
porque te sobra el tiempo y el ser, única voz,
porque estás y no estás, y casi eres mi Dios,
y casi eres mi padre cuando estoy más oscuro

¿QUÉ SE AMA CUANDO SE AMA?
¿Qué se ama cuando se ama, mi Dios: la luz terrible de la vida
o la luz de la muerte? ¿Qué se busca, qué se halla, qué
es eso: ¿amor? ¿Quién es? ¿La mujer con su hondura, sus rosas, sus volcanes,
o este sol colorado que es mi sangre furiosa
cuando entro en ella hasta las últimas raíces?
¿O todo es un gran juego, Dios mío, y no hay mujer
ni hay hombre sino un solo cuerpo: el tuyo,
repartido en estrellas de hermosura, en partículas fugaces
de eternidad visible?
Me muero en esto, oh Dios, en esta guerra
de ir y venir entre ellas por las calles, de no poder amar
trescientas a la vez, porque estoy condenado siempre a una,
a esa una, a esa única que me diste en el viejo paraíso.

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