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O Chile e sua literatura (13): Enrique Lihn

De acordo com especialistas, Enrique Lihn (1929-1988) foi um dos maiores poetas chilenos do século passado. Além de escritor, foi também desenhista e artista gráfico. Apesar de ser conhecido principalmente por sua obra poética, este membro da Geração Literária de 1950 também soube exibir seu discurso ácido e cético, no campo da crítica, da narrativa, da dramaturgia, da banda desenhada e do happening, tornando-se um fecundo animador da vida literária e cultural da Santiago do seu tempo. Estudante do Saint George College, Lihn ingressou na Escola Alemã, que mais tarde relembrou no poema “Nunca saí do horrível Chile”, incluído na coletânea de poemas “Partindo de Manhattan” (1979): “Nunca saí do discurso que o Liceo alemão/ infligiu-me nos seus dois pátios como num regimento/ mordendo nele o pó de um exílio impossível/ Outras línguas inspiram-me um ressentimento sagrado/ o medo de perder com a língua materna/ toda a realidade. Nunca saí de qualquer coisa.”

Em 1942, Lihn ingressou na Escola de Belas-Artes de Santiago, como alu­no livre de desenho e pintura, concretizando uma vocação que se manteria nele, apesar do abandono da formação plástica. A partir dessa experiência, Lihn não apenas se vinculou ao grupo intelectual formado em torno da Escola de Belas-Artes, como posteriormente colaborou com diversas mídias na área gráfica, chegando a publicar “Un cómic” (1992), obra realizada em colaboração com Alejandro Jodorowsky, em que Lihn atuou como cartunis­ta. Em constante atividade, Enrique Lihn participou de inúmeros projetos editoriais, como a revista “Cormorán” (1969-1971) e a edição da colagem “Quebrantahuesos” (1952). Também colaborou com poemas, colunas e arti­gos de opinião nos jornais El Siglo, Las Últimas Noticias e La Época, assim como na Revista de Arte, Atenea, Cauce e Apsi. Da mesma forma, desenvol­veu uma intensa vida acadêmica, fundamentalmente vinculada ao Departa­mento de Estudos Humanísticos da Universidade do Chile e às Oficinas de Poesia da Universidade Católica.

Portador de uma visão crítica e austera da vida e da literatura, livros como “La pieza oscura” evidenciam marcos não só para sua própria poe­sia, mas também para o cenário poético chileno como um todo. Pela sua importância e vastidão, existem múltiplos artigos e notas críticas sobre sua obra, tanto no Chile como no exterior. Enrique Lihn despeja em sua escrita as suspeitas que guarda sobre os modos de representação da realidade na arte, assim como o constante desenraizamento que perpassa seus textos, como acontece com “El Paseo Ahumada” (1983), livro que também expressa a poesia urbana do autor. Outra das características fundamentais da sua obra é o apelo constante ao ofício de escritor e ao sentido da sua obra, linha de trabalho que desenvolve em “La musiquilla de las esferas pobres” (1969). Das suas motivações e concepções sobre literatura e arte, foram preservadas entrevistas do autor realizadas por Pedro Lastra que exploram o imaginário do poeta. Vítima de câncer, Lihn escreveu até o último momento de sua vida, apesar da doença, da qual surgiu o livro “Diario de muerte”, publicado postumamente por Pedro Lastra e Adriana Valdés.

Alguns poemas?

Velho no metrô
A pele já é trapo e embala a carne
Que desmoronou como se fosse estopa ou serragem.
A cabeça deixou de subir acima do pescoço rígido
e curvado como uma alça; mas ele viaja no metrô
em velocidades incompreensíveis para ele.
É levado por essa necessidade, meio adormecido
apegando-se a sua propriedade pessoal
pedaços de um peso que o ancora em si mesmo,
meio vazio, mais cheio de papéis do que de coisas.
Ele inventou como todos os dias para chegar
A amanhecer para outra estação da noite
pintado de rosa e branco tingido de lilás
natural, esta flor da morte
destino em movimento
compatível, mas persistente
para uma rua no fim do mundo
Hotel Welfare na Broadway:
uma cama como um poço:
morrer vivo.

Seis solidões (fragmento)
Em pé: guerreie tudo, menos eu.
Dona de casa em pé de guerra
contra o rato que o invade,
crianças em pé de seu futuro,
com uma guerra pela frente,
homens ao pé do pé de guerra
com suas insígnias e proclamações.
Menos eu, defendendo o que,
ao pé da poesia, ao pé do nada.

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