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O Chile e sua literatura (11): Gabriela Mistral

De acordo com especialistas, Gabriela Mistral (1889-1957), poetisa, educadora e diplomata chilena, foi o primeiro nome da América Latina a vencer o Prêmio Nobel de Literatura. Pseudônimo literário de Lucila de Maria del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, Mistral nasceu em Vicuña, no Norte do Chile, no dia 7 de abril de 1889. Filha de um professor, descendente de espanhóis e índios, desde cedo demonstrou interesse tanto pela escrita como pela docência. Aos 18 anos, dedicando-se à carreira de professora, ficou abalada com o suicídio do namorado, fato, este, que marcou sua obra e sua vida. Em 1914, aos 25 anos, Mistral ganhou um concurso de poesia nos Juegos Florais de Santiago, com “Sonetos de La Muerte”, nascendo, ali, a grande poeta que viria a ser. Seu pseudônimo, criado em homenagem ao poeta italiano Gabriele D’Annunzio e ao poeta francês Frédéric Mistral, foi a assinatura de seu primeiro livro de poesias, “Desolación”, publicado em 1922, que incluía o poema “Dolor”, no qual fala do suicídio de seu amor juvenil.

Trabalhando como professora e diretora escolar, foi convidada, ainda em 1922, para trabalhar no Ministério da Educação do México, tornando-se uma referência na pedagogia, elaborando, de acordo com especialistas, as bases do sistema educacional do México, bem como, fundando escolas e organizando diversas bibliotecas públicas. Tal notoriedade ganhou seu trabalho que o mesmo a levou a desempenhar diversos cargos diplomáticos na Europa, Estados Unidos e América Latina. Em 1926, nomeada secre­tária do Instituto de Coperación Intelectual de la Sociedade de Naciones, trabalhou, paralelamente, na redação da revista de Bogotá “El Tiempo”, representando o Chile em eventos universitários em Madri e pronunciando, nos Estados Unidos, uma série de conferências sobre o desenvolvimento cultural norte-americano. Nomeada Consulesa do Chile, Mistral representou seu país em Nápoles, Madri, Lisboa e no Rio de Janeiro, sendo considerada um ícone da literatura latino-americana nas décadas de 30 e 40.

Em 1945, Gabriela Mistral recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, se tornando o primeiro nome da América-Latina a vencer essa premiação – na época, morava em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Este Nobel a transformou em figura de destaque na literatura internacional, levando-a a viajar pelo mundo e a representar seu país em comissões culturais das Nações Unidas. Logo que chegou ao Brasil, não demorou a fazer amizade com Cecília Meireles, com quem lançou um livro de poemas. De modo similar, tornando-se amiga de Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Assis Chateaubriand e de Vinicius de Moraes, Mistral conheceu Mário de Andrade através de Cecília, vindo a escrever, nessa época, para o Jornal do Brasil. Sua poesia, mística e repleta de imagens singulares e de lirismo, volta-se ao amor pelos humildes, às memórias pessoais dolorosas e às mágoas diversas, revelando um interesse mais amplo por toda a humanidade. Entre seus poemas destacam­-se: Gotas de Fel, Dá-me Tua Mão e Eu Não Sinto a Solidão:

 

Eu não sinto a Solidão
É noite desamparo
das montanhas ao oceano
Porém eu, a que te embala,
eu não sinto a solidão.
É todo o céu desamparo,
mergulha a lua nas ondas,
Porém eu, a que te embala,
eu não sinto a solidão
É o mundo desamparo,
triste a carne em abandono.
Porém eu, a que te embala,
eu não sinto a solidão.

Dá-me Tua Mão
Dá-me tua mão, e dançaremos;
dá-me tua mão e me amarás.
Como uma só flor nós seremos,
como uma flora, e nada mais.
O mesmo verso cantaremos,
no mesmo passo bailarás.
Como uma espiga ondularemos,
como uma espiga, e nada mais.
Chamas-te Rosa e eu Esperança;
Porém teu nome esquecerás,
Porque seremos uma dança
sobre a colina, e nada mais.

Gotas de Fel
Não cantes: sempre fica
à tua língua apegado
um canto: o que faltou ser enviado.
Não beijes: sempre fica,
por maldição estranha,
o beijo a que não chegam as entranhas.
Reza, reza que é bom; mas reconhece
que não sabes, com tua língua avara,
dizer um só Pai Nosso que salvara.
E não chames a morte de clemente,
porque, na carne que a brancura alcança,
uma beirada viva fica e sente
a pedra que te afoga
e o verme voraz que te destrança.

Ainda segundo estudiosos, Mistral, atenta aos problemas de seu tempo, anali­sou, na obra “Pecados: Contados a Chile” (1957), diversos temas, como, por exem­plo, a condição da mulher na América Latina, a valorização do índio, a educação e a necessidade de diminuir as desigualdades sociais no continente. Mais tarde, seus ensaios educacionais foram reunidos em “Magistério y Niño” (1982). Falecendo em Nova Iorque, Estados Unidos, no dia 10 de janeiro de 1957, seu retrato ilustra a nota de cinco mil pesos chilenos.

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