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O Capitólio Romano

Na metrópole coalhada de história e monumentos, subo em silêncio os inúmeros e largos degraus da Cordonata, a elegante passarela-escadaria projetada por Michelangelo, no ano de 1536,em direção à colina do Capitólio. Lá em cima, no começo dos tempos, ergueram-se três templos aos deuses protetores da cidade recém fundada na colina vizinha do Palatino: Júpiter, Juno e Minerva, a Tríade Capitolina e que transformariam a área no importante centro político e social da Caput Mundi (cabeça do mundo), sede do grande Império Romano, Centro da Cristandade, Roma – a Cidade Eterna.

Diz a lenda que dos amores do deus da guerra Marte com uma vestal nasceram os gêmeos Rômulo e Remo, lançados ao rio Tibre por um tio, rei tirano. As águas se recusaram a afogá-los e os jogaram às margens, onde uma loba os acolheu e os amamentou até que, crianças, foram acolhidos por um pastor. Continua a lenda que, depois de um atrito entre os irmãos, Rômulo matou Remo, fundou a cidade e se tornou o primeiro Rei de Roma, oito séculos antes de Cristo.

O local teria sido palco de uma emboscada histórica, o Rapto das Sabinas. Os sabinos eram um povo vizinho, bem estabelecido com suas famílias. Roma, ao contrário, só teria habitantes guerreiros homens. Rômulo então convida os vizi­nhos para uma grande festa e, durante a mesma, as mulheres são sequestradas e os homens expulsos da vila. Um ano de­pois, ao final de um grande preparo bélico, quando os sabinos vem resgatar suas mulheres, elas se recusam a voltar para seus antigos companheiros…

O Capitólio (Campidoglio, em italiano) compreende hoje uma magnífica praça desenhada também por Michelangelo, no século XVI, erguida onde antigamente se localizavam os templos da Tríade Capitolina e abriga o Palácio do Senado, sede do governo municipal de Roma, além do Museu Capi­tolino, iniciado em 1471, pelo Papa Sisto IV, o primeiros a ser criado no mundo. Em 1538, cópia da magnífica estátua equestre do Imperador Marco Aurélio, obra do segundo sé­culo antes de Cristo foi colocada no centro da praça. A cópia de uma pequena escultura de bronze da loba amamentando os gêmeos, de origem etrusca do século V a.C., se sobressai dentre as inúmeras obras da praça. Os originais são exibidos nos vários museus que constituem hoje o Museu Capitolino.

Milhares de anos de história se abrigam em seu entorno. Numa das extremidades da colina, numa barreira alta em frente ao rio, os traidores eram condenados a ser lançados ao abismo, daquela que seria chamada Rocha Terpeia. Foi ali também que, no século IV a.C., durante um cerco da coli­na, numa noite fria e silenciosa onde nem os cães latiam, o grasnado dos gansos sagrados do Templo de Juno advertiram os soldados de que uma invasão gaulesa estava prestes a se concretizar, o que foi evitado pelos bravos romanos.

Uma das ideias concretizadas por Michelangelo foi inver­ter a vista do Capitólio. Antigamente, a praça abria-se para as ruínas do Foro Romano, espetacular conjunto de obras do que foi a cidade como sede do Império. O genial artista voltou-a para a Basílica de São Pedro, simbolizando o poder temporal e religioso da Igreja que atingia seu ponto máximo no fim da Idade Média e início do Renascimento. Para ver­mos hoje as ruínas de Roma é preciso acessar um belvedere que fica atrás dos grandes palácios.

O Capitólio Romano sempre foi e será o centro cultural e político de Roma. Na sua grande praça, respira-se, com reve­rência a enorme tradição que dela emana.

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