A música tem uma magia que não se explica, tanto na tristeza, como na alegria. Eu, por exemplo, digo que minha maior riqueza depois de minha família é a música. Sempre fui péssimo de ouvido, aprendi a tocar violão à moda antiga, minhas harmonias até hoje são simples. Aprendi de teimoso e me acompanho a minha maneira. Quando encontro dificuldade em “tirar” uma música, recorro ao amigo Maurício Bailoni, a quem chamo de “meu maestro”.
Tive o privilégio de ser agraciado por Deus em viver no mundo da música, assim pude compor canções dos mais variados estilos. Compor uma música é quase como pintar um quadro, pois o pintor quando mistura tintas para conseguir a cor desejada, é como o compositor trocando rimas de seus versos até conseguir aquela que vai enriquecer sua melodia.
O que seria do mundo sem música? Já li isso muitas vezes. Meu saudoso filho Lucas Bueno, músico de primeira, estudou piano uns 12 anos, e entre várias mensagens psicografadas que me mandou, numa delas disse: “Pai, aqui a música é diferente daí, tive que reaprender tudo outra vez, ela é composta em escalas pentatônicas e em semitons, mas ficam tão lindas, pai”. Fiquei orgulhoso por saber que continua com música lá onde está.
Conto agora um causo que vivi e que me deixou impressionado. Não sou de pescaria, nem eu nem minha primeira-dama, mas os amigos José Luiz e Ana Del Lama possuíam um rancho na barranca do Rio Paraná, cujo nome era Rancho Paraíso. Ficava a poucos minutos da cidade de Rosana, a última do Estado de São Paulo.
Eles armaram uma pescaria naquele pedaço do Paranazão fomos em cinco casais. O rancho era grande e nos acomodou com facilidade. Para chegar lá tínhamos de passar dentro da cidade, e depois por uma estrada de areias claras. Na beira desta tímida estrada havia um casarão enorme, quase que um quarteirão inteiro, e na fachada estava escrito com letras enormes: “Bataklan”. Perguntei ao Zé Luiz o que funcionava ali e ele, dando risadas, disse: “Buenão, aí é a zona (heheheheh)”.
Na volta até compus uma música, “Viajar é preciso”, onde cito o “Bataklan”, mas a rádio de lá não quis tocá-la justamente por isso. Vejam só o poder da música. No rancho, Zé Luiz e Ana criavam carneiros e, numa tarde, passei a mão no violão, sentamos na varanda de onde víamos os carneiros a uns 50 metros. Eles berravam e começamos a cantar. A primeira música foi “Lá no pé da serra”, que fala justamente de um rancho na barranca do Rio Paraná.
A música chegou até os carneiros, que pararam de berrar e em silêncio foram se aproximando da varanda. Quando demos conta, eles cercaram toda a varanda no maior respeito. Aquela cena deixou-me arrepiado e os amigos incrédulos. Em seguida cantamos uma música do Charlie Chaplin, “Sorry”, na versão maravilhosa de João de Barro (Braguinha). Eu olhava os olhos dos carneiros que brilhavam, pude sentir ali o poder de uma boa música. Nunca pensei que um dia cantaria para uma plateia tão seleta, tão respeitosa. Carneiros, mais uma obra-prima de Deus.
Tião do Violão me falou sobre uma figura que aparece todo mês no seu pedaço,sempre depois do dia 10. Da janela de seu apê, ele ouve uma voz cantando uma música que ninguém entende, mas pra ele é música. Tião diz que o cantor mensal se segura num postinho de ferro, destes com placas de trânsito, que o faz lembrar o personagem do filme “Dançando na chuva”.
O sujeito dá umas rodopiadas e solta o gogó. Seus agudos são ouvidos de longe, ninguém sabe de onde o cara vem nem pra onde vai. Segundo Tião do Violão, ele já passou por lá neste mês, mas acha que o cantor mensal canta por ter recebido o salário. E passa a régua: “Buenão, dinheiro e música muda o humor das pessoas”.
Sexta conto mais.