Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Os espanhóis chegaram à América, os portugueses à Índia e ao Brasil graças ao uso da caravela, navio pequeno, leve e de fácil manobra, inventado em Portugal. Com elas, conquistaram o mar oceano, aproximaram os povos e permitiram o notável progresso da Europa, graças ao comércio de especiarias e tecidos trazidos do Oriente e metais nobres do Novo Mundo.
Era difícil a navegação marítima nos séculos XV e XVI quando as distâncias começaram a ser vencidas e novas terras conquistadas, criando uma grande quantidade de rotas marítimas, de longa duração e bastante caras.
A caravela foi lentamente substituída por navios maiores e mais eficientes e no alvorecer do século XX a navegação marítima tornou-se fundamental para o transporte de cargas entre os cinco continentes.
A América do Sul apresentava, então, um grave problema para os navios que partiam da Europa com destino aos portos do Pacífico ou para aqueles que se originavam dos portos atlânticos, e todos necessitando contornar a ponta sul do continente, através dos perigosos Passagem de Drake, Estreito de Magalhães ou Cabo Horn.
De longa data, pensava-se na criação de um canal no istmo da América Central, que ligasse o Atlântico ao Pacífico, economizando-se assim mais de 20.000 km na jornada. As primeiras cogitações são ainda do século XVI, abandonadas por problemas de engenharia.
Uma solução provisória tentou solucionar o problema e surgiu uma ferrovia que atravessava o istmo do Panamá. Os navios desembarcavam sua carga num porto de um dos oceanos, a mesma seguia de trem até o porto do outro oceano, era recolocada em navio e seguia para seu destino.
Em 1880, Ferdinand de Lesseps, construtor do Canal de Suez, começou as obras de um canal, em terras então colombianas do que seria o Panamá, com o objetivo de ligar o Atlântico e o Pacífico, na porção mais estreita da América Central. Diferença de nível entre os dois mares, doenças tropicais desconhecidas que matavam milhares de trabalhadores, deficiências de engenharia levaram à quebra da companhia que operava a obra.
Os Estados Unidos se dispuseram a dar continuidade às obras do canal. Para tanto apoiaram financeira e militarmente os nacionalistas panamenhos, que queriam se libertar da Colômbia, recebendo, em troca, um tratado que previa a cessão vitalícia da Zona do Canal para o governo americano.
Já se sabia então que a malária, endêmica na região, era transmitida por mosquito, que foi erradicado, possibilitando a continuidade da construção.
O canal foi inaugurado em 1904 e considerado uma das sete maravilhas do mundo moderno. A grande sacada dos Estados Unidos foi criar um grande lago artificial, no meio do caminho e eclusas de ambos os lados, que elevam e abaixam os navios, vencendo assim a diferença de nível entre os dois oceanos e entre o relevo local.
Em 1977, o governo Jimmy Carter concordou em renegociar o tratado de cessão da Zona do Canal e foi estabelecido um cronograma parcelado da entrega da soberania do mesmo ao Panamá, que foi concluído em 1999.
Hoje, o canal é administrado pelo país centro-americano, que recebe quase 2 bilhões de dólares anualmente de receita, 3% de seu PIB. Para atender a navios maiores e mais largos, foram feitas reformas de adaptação no seu leito e no seu curso, de tal maneira que 95% dos navios que hoje singram os mares podem dele se utilizar.
Diariamente, utilizam-se dos 85 km. de extensão do canal cerca de 35 navios, que levam de oito a dez horas para vencer o seu trajeto.
* Advogado, empresário, presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras