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O Brasil na cadência de quem?

O Brasil cresceu mais do que qualquer outro país, no período de 1930 a 1980?

Essa é pergunta que se pode sugerir a qualquer pessoa, que tenha o mínimo de curiosidade cívica, o mínimo de compromisso com o país, seus contrastes, suas riquezas do solo, do subsolo, de águas, de clima, de florestas?

Essa é a pergunta que pode ser dirigida à qualquer pessoa, civil ou militar, ou a qualquer associação, essa no seu sentido mais amplo, para que seus associados tenham a consciência de que cada Asso­ciação tem obrigação de exercitar a preocupação permanente com o Brasil, como integrante do sistema capilar da sociedade, que se constrói como democrática, e com suas leis e instituições. A rigor, e em regra, essas associações de classe estão alienadas do lugar res­ponsável, que ocupa institucionalmente.

No entanto, o Brasil perdeu o impulso desenvolvimentista, e essa re­alidade deveria espezinhar o espírito da cidadania, individual e coletiva. Essa liderança perdida deixou um vazio, que sugeriu ao mestre Roberto Mangabeira Unger a pergunta “como ter um empresariado?”, em seu artigo de 02/10/2001(in Depois do Colonialismo Mental-repensar e reorganizar o Brasil, ed. Autonomia Literária, 2018, 1ª edição).

E ele o inicia assim: “Pergunte a qualquer grande empresário brasileiro nacional. Em geral responderá constrangido, que não existe mais. Muitos já venderam suas empresas a estrangeiros ou se preparam para fazê-lo. Trocaram ou trocarão produção por dinhei­ro. Quem cansa ou malogra como produtor pode viver de renda com os juros altos que só o governo pode pagar”.

Perderam-se e se perdem indústrias, sem as quais não existe de­senvolvimento econômico nacional e social nacional autônomo, que tenha vértebra para receber o capital estrangeiro. Perde-se a estrutu­ra do Estado de bem estar, atualmente sob o influxo do verbo vender do entreguismo deslavado.

A tarefa torna-se dia a dia mais difícil, já que a mudança de rumo implica na necessidade de um movimento da cidadania orga­nizada, que tenha clareza do futuro redentor do país, e do esforço individual e coletivo que exige.

Mangabeira Unger, esse professor genial, sinaliza para a de­mocratização de oportunidades e pela capacitação de nossa mão de obra, numa política de incentivo empresarial à manutenção do emprego, mediante desoneração da folha de salários. Estes seriam pagos pelos impostos gerais, e num Estado que não se prenderia só nas políticas de compensação para os mas pobres, mas nas que vin­culassem as classes médias, inclusive a emergente, na sua formulação e seus eventuais benefícios.

E invertendo a primazia do viver de juros, para a certeza de apli­car-se na produção remunerada com justiça, e em cujo pensamento a escola pública, sua organização e conteúdo, condicionariam à rede de escolas privadas.

A obra de Mangabeira Unger segue além, na simplicidade de seus artigos, eles mesmos trazendo nas suas curtas extensões a densidade de quem conhece a realidade nacional no contexto da realidade internacio­nal, sua geopolítica, seus ditames ideológicos, que servem de vesti­menta para interesses econômicos, sempre insaciáveis.

Para ele o povo brasileiro, criativo mas anárquico, precisa or­ganizar sua força de criação, para construir o Estado que precisa e merece e pode.

E o inicio dessa obra é urgente, pois, a indústria de hoje, não é a indústria de 1980, e o impasse está pronto no solo brasileiro. Afinal, a ciência e a tecnologia dos países ricos crescem em proporção geo­métrica, enquanto o nosso país vive a inimaginável situação de um governo que professa o negacionismo da ciência e do saber analítico.

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