Uma pequena grande obra: assim pode ser descrito o livro do Professor Doutor Luiz Mors Cabral, da Universidade Federal Fluminense e que trata da forte presença brasileira nos estudos que levaram à Teoria da Evolução. Denominado “O Brasil de Darwin” é livro de leitura obrigatória para nós brasileiros, muitos do quais nunca tínhamos ouvido falar do assunto, como este escriba.
Nos anos 1800, especulava-se sobre a origem das espécies: teriam mesmo sido criadas por ato divino? As que desapareceram da face da Terra, foram substituídas também pela ação de Deus?A discussão sobre o assunto dominava os debates nas sociedades naturalistas da Europa e a noção de que uma espécie-mãe teria dado origem a todas as outras já era percebida por alguns cientistas.
A forte oposição religiosa a esta tese inibia o seu desenvolvimento, até que, em novembro de 1859, Charles Darwin publica sua obra “A Origem das Espécies por meio da Seleção Natural”, provocando enorme revolução no pensamento científico.
O grande cientista havia passado pelo Brasil, vinte e sete anos antes do lançamento do livro, permanecendo em nosso país por quatro meses, quando visitou Salvador e Rio de Janeiro e, extasiado pela exuberância de nossa natureza, realizou várias expedições, em busca de espécimes da fauna e da flora.
Apesar da primazia de Darwin em lançar sua obra, vários outros cientistas vinham trabalhando na teoria da evolução, notadamente os ingleses Alfred Russel Wallace e Henry Bates. Ambos passaram longos anos no Brasil, na selva amazônica, onde coletaram amostras de animais, insetos e plantas, comprovando a tese de que todos os seres viventes sobrevivem de acordo com a evolução.
Wallace e Bates eram jovens idealistas que se encantaram com a floresta amazônica e as enormes fauna e flora nela contidas. Sob a sombra de suas árvores, nos igarapés e nos rios, encontraram a comprovação de suas teses. Viajaram milhares de quilômetros, interagiram com a população ribeirinha e colheram amostras das mais variadas. Ficaram por aqui mais de dez anos e, de volta à Inglaterra, publicaram seus achados em estudos reputados como essenciais para a consolidação da nova teoria.
A esses cientistas ingleses, acrescente-se o alemão Fritz Muller. Formado em Medicina, não conseguiu colar grau, pois recusou-se a invocar Deus no seu juramento profissional, o que inviabilizou sua vida naquele país, pois pertencia a proeminente família protestante. Decidiu-se então vir para o Brasil, especificamente para Blumenau, sendo acolhido pela colônia alemã.
Além de cuidados médicos aos imigrantes, dispôs-se a lecionar em escolas da cidade, e, para isso, naturalizou-se brasileiro. Por mais de trinta anos, desenvolveu notável trabalho de pesquisa para comprovar a tese da seleção natural, pesquisando principalmente os crustáceos, abundantes na costa de Santa Catarina, além de outros animais e vegetais. Publicou vários livros sobre o assunto e correspondia-se assiduamente com Darwin, Wallace e Bates.
Na leitura do livro, pode-se acompanhar, em detalhe, as descobertas feitas em terras brasileiras pelos cientistas, cada um em seu campo de pesquisa, numa linguagem muito acessível aos leigos, confirmando a grande contribuição deles na formulação e comprovação da Teoria da Evolução.
Os fatos narrados e as observações do autor embasam a importância que o Brasil teve na gestação e confirmação da teoria.