Cada artigo que ouso enviar para esta TRIBUNA passa, depois de publicado, pelo crivo do meu amigo Brasil Salomão. Brinco com ele dizendo que é meu único leitor e devo respeitá-lo. Na nossa última conversa o Brasil Salomão sugeriu que eu escrevesse sobre a exportação de água pelo Brasil. Confesso que nunca havia pensado nisso, mas descobri que mandamos muita água para fora. Resolvi estudar um pouco o assunto.
A água, como muitos outros agentes químicos, segue um ciclo biogeoquímico, que mantém os níveis equilibrados em quantidade, mas nem sempre em qualidade física (sólido, líquido ou gasoso). Para manter o equilíbrio é necessário que a quantidade que entra no ciclo seja igual a que sai. Isso, em termos globais. A entrada se faz principalmente pelas precipitações pluviométricas, pelas nevascas e pelos degelos. A saída, pelo congelamento e pelos diferentes desvios.
Entre a entrada e a saída, ocorrem inúmeros fenômenos envolvendo a água em reações químicas. Como solvente universal que é, a água embebe muitas substâncias e dilui muitas outras. Quando exportamos alguma coisa um percentual variável de água acaba indo junto. O produto exportado pode ser líquido (água mineral, tintas, leite, refrigerantes, sucos, cervejas, vinhos e bebidas alcoólicas destiladas), pastoso (como cremes e sorvetes) ou sólido (carnes, grãos, manteiga e outros).
O teor de água é muito alto nos produtos líquidos exportados, superando os 90-95%. O leite de vaca tem 88% de água. Alguns produtos têm valores característicos. Assim, sólidos como açúcar de cozinha (sacarose) têm apenas 1% de água enquanto a alface, também sólida, tem 95%. A batata francesa tem 80%. As carnes apresentam um percentual intermediário de água, tanto menor quanto maior for a quantidade de gordura e a idade do animal abatido.
O percentual de água na carne gira em torno de 60%, ou seja, quando exportamos 100 Kg de carne, cerca de 60 Kg é água virtual. Há uma diferença entre machos e fêmeas, sendo estas últimas mais pobres em água, por serem mais gordurosas. Outra diferença é na idade do animal abatido, tendo os mais velhos um menor teor de água. Parece que estas variáveis não são levadas em conta quando se exporta carne. Os dados acima valem para mamíferos e são diferentes para as aves.
Conhecendo o percentual de água nos produtos e o volume que foi exportado, poderemos saber o quanto de água saiu do Brasil e foi para o Exterior. Essa água fará falta? Estamos cada vez mais preocupados com a diminuição da água potável, ficando a impressão de que ela está diminuindo. E está mesmo…
O Ciclo da Água é mantido, mas o percentual de água utilizável está realmente diminuindo. Vários fatores concorrem para isso: a poluição, a passagem pelas hidroelétricas, o aquecimento global, são alguns dos fatores que afetam as reservas de água potável. A eles podemos acrescentar, quando analisamos em nível de País, a água exportada nos alimentos, nas bebidas e nos produtos industriais. Voltaremos ao assunto…