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O ‘Bigorrilho’ Jorge Veiga

“Alô, alô, senhores aviadores que cruzam os céus do Brasil. Aqui fala Jorge Veiga, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Estações do interior de todo o país, queiram dar seus prefixos para orientação de nossas aeronaves.” Era dessa forma que o “caricaturista do samba”, na década de 1950, abria as suas apresentações em qualquer microfone do Brasil.

No início da carreira, o sambista imitava Sílvio Caldas, que na década de 1930 era um dos primeiros cantores do Brasil. Após ouvir os conselhos de Heitor Catumbi e Rogério Guimarães, o novato Jorge Veiga resolveu mudar o estilo e adotar o samba malandro, que se casava perfeitamente com sua voz anasalada e sua maneira de interpretar.

Em 1932, com o estilo sambista malandro já consolidado, Jorge fez um bom contrato com a Rádio Tupi, onde começara a se apresentar no Programa Paulo Gracindo, um dos líderes de audiência do rádio brasileiro. Foi nesse momento, segun­do o modismo da época, que Gracindo cria o slogan “Jorge Veiga, o caricaturista do samba”, que acompanhou o sambista pelo resto da vida.

A partir dos anos 1940, Jorge começa a gravar pela Odeon, tendo como um dos sambas precursores “Iracema”, de Raul Marques e Otolindo Lopes, que foi sucesso nacional em 1944. No carnaval de 1947, fez sucesso com o samba “Eu quero é rosetar!”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, amplamente executado pelas rádios.

Na década de 1950, Jorge iniciou uma parceria de sucesso com o compositor Miguel Gustavo, e com a gravação do sam­ba “Café Soçaite”, uma bem-humorada sátira ao “café soçaite” e ao colunismo social carioca daquela época, alcançou uma grande popularidade. O grande sucesso desse samba gerou um LP apenas com músicas de Miguel Gustavo, todas de sá­tiras ao “café soçaite” da época. Resolveu adotar com enorme sucesso, no rádio e na televisão, a imagem do malandro grã-fino, apresentando-se sempre de smoking.

O jeito malandro de cantar samba de Jorge, caindo para o estilo do breque, a gravação de grandes sucessos de Miguel Gustavo, compositor predileto de Moreira da Silva, acabou gerando séria rivalidade entre os dois sambistas, que o Brasil inteiro comentou. Entretanto essa disputa só abrilhantou a música brasileira, com gravações de diversos sambas maravi­lhosos dos melhores compositores do país, tais como Wilson Batista, Antônio Almeida, João de Barro, Haroldo Lobo, Zé da Zilda, Milton de Oliveiro, Heitor Catumbi e tantos outros.

Em 1959, o “caricaturista do samba” conheceu um novo grande sucesso com a regravação do samba “Acertei no milhar”, de Wilson Batista e Geraldo Pereira, que virou um marco na sua carreira. Também no mesmo ano, fez sucesso com o samba “Orora analfabeta”, de Gordurinha e Nasci­mento Gomes.

Uma marchinha de carnaval de grande sucesso, “O Bigor­rilho”, interpretada magistralmente por Jorge Veiga, marcou a minha infância pelos seguintes versos: “lá em casa tem um bigorrilho. Bigorrilho fazia mingau. Bigorrilho foi quem me ensinou, a tirar o cavaco do pau. Trepa Antonio, siri tá no pau. Eu também sei tirar o cavaco do pau”.

Salve o “bigorrilho” Jorge Veiga!

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