Meu querido amigo Feres Sabino – colega no Otoniel Mota e na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco – publicou, semana passada neste espaço, saborosa crônica sobre Antoine de Saint-Exupery e seu livro O Pequeno Príncipe, que povoou e povoa a imaginação e o encantamento de muitas gerações.
Peço licença para continuar no tema, falando do Baobá do Poeta, existente em Natal (RN), árvore que teria servido de inspiração para o escritor. Saint-Exupery, além de escritor, foi também aviador do Correio Aéreo francês e, em 1939, se encantou com o baobá existente no terreno da casa onde se hospedou, em sua passagem pela capital potiguar.
E colocou a espécie em seu livro como perigosa para o pequeno planeta do príncipe, tão grande que era. Alertava que ele devia eliminar as mudas tão logo nascessem, pois cresceriam tão grandes que não caberiam no mundo imaginário do personagem.
Anos atrás, numa reunião em Natal de um grupo de concessionários VW que se encontram bianualmente para troca de experiências, manifestei para nossa anfitriã minha vontade de conhecer a árvore. Para minha surpresa, ela nunca tinha ouvido falar dela, embora nativa e moradora da cidade há muitos anos. Com a gentileza que a caracteriza até hoje, ela movimentou seus conhecimentos e, logo na manhã seguinte, fomos, minha mulher e eu, conhecer o Baobá do Poeta.
Na parte alta do bairro Lagoa Nova, e onde se avista o belo mar da cidade, está o baobá gigantesco, de mais de 20 metros de altura e oito metros de circunferência. Quando se procedeu a urbanização daquela parte da cidade, cogitou-se em derrubar a árvore, que foi salva pela iniciativa do advogado e professor de Direito, Diógenes da Cunha Lima, atual presidente da Academia Norte-riograndense de Letras. Ele comprou o terreno de 700 ms onde se localiza a árvore, cercou-o e doou-o para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte com a condição que se preservasse a árvore.
É um espetáculo belíssimo de se ver, o enorme vegetal de vasto tronco, que parece ter sido plantado ao contrário – as raízes no alto, a copa na terra. Há poucos baobás no Brasil. Diz a lenda que suas mudas e sementes foram trazidas pelos sacerdotes escravos, que consideravam a árvore própria para seus cultos e ritos.
O baobá é nativo da África, vive mais de 2.000 anos, é parente distante de nossa paineira, cujo tronco com ela se assemelha em algumas espécies. Este assume várias formas, desde toletes carrancudos de 10 metros de diâmetro, com poucos galhos e raras folhas até formas de bombonas, troncos gordos e inchados. É considerada árvore sagrada naquele continente.
Prática antiga, os chefes de tribos que se destacavam eram enterrados no seu caule, que mumificava o cadáver. Como vivem muitos anos, era o mausoléu ideal para os falecidos.
O meu também querido amigo Sérgio Roxo da Fonseca, em várias matérias, fala da existência de um baobá na praça XV de Novembro de nossa cidade e que teria desaparecido. Como é testemunha insuspeita e autoridade em nossa história, fico pensando sobre a perda que tivemos da possibilidade de contar com uma árvore milenar, que guarda um pequeno microcosmo de insetos e animais, além de ser testemunha das transformações que ocorreram em nossa cidade.
O respeito que temos por seres tão longevos – além dos baobás, o milenar jequitibá-rosa de Vassununga, em nossa região – talvez seja a forma de projetar o que desejaríamos que fosse nossa curta vida dentro da vasta existência da humanidade.