Tribuna Ribeirão
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O Aquífero Guarani

Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Há 220 milhões de anos, movimentos no solo de nosso planeta começaram a formar sedimentos arenosos, que resultariam nos arenitos, rochas porosas e permeáveis que permitem o acúmulo de água em seu interior. Foi neste tipo de solo que se formou uma das maiores reservas de água do planeta, o Aquífero Guarani, estendendo-se pelo sudeste do Brasil e abrangendo ainda terras da Argentina, do Uruguai e do Paraguai. Dois terços de sua extensão encontram-se em nosso país.

O surgimento deste reservatório subterrâneo decorre da filtragem das águas da chuva pelos vãos das rochas, num processo lento e milenar.  À medida que esta água é utilizada, é reposta pelas chuvas, bem como há ligações com bacias fluviais, por onde ela se escoa regularmente.

Assim, o aquífero é como uma caixa d’água, um balanço entre entrada e saída da mesma. Com o intenso uso da água subterrânea, já se constata a diminuição do reservatório, o que acende o alerta para melhor gestão de seu uso.

A cidade de Ribeirão Preto é exemplo importante de urbe servida somente pela água do aquífero, através dos poços artesianos, hoje muito controlados e fiscalizados. Entretanto, na rica região agrícola que nos cerca, este controle ainda é precário.

Em virtude de projeções pessimistas, a nossa Prefeitura inicia estudos para captação de água do rio Pardo, ajudando na manutenção dos níveis subterrâneos do aquífero.

Há mais de cem anos se usa a água do aquífero no país, mas, foi somente em 1969 que a Organização dos Estados Americanos fez breve referência  sobre  sua existência como grande reservatório sul americano. Em 2006, iniciaram-se  estudos sérios no nosso país, que descobriram o tamanho do reservatório subterrâneo, classificado então com o maior do planeta.

Hoje, sabemos que este título pertence ao Sistema Alter do Chão, sob os estados do Amazonas, Pará e Amapá. Ambos os aquíferos são chamados de sistemas, pois não há um só e vasto lago subterrâneo, mas várias porções que se interligam.

Durante muitos anos usamos e abusamos da coleta destas águas escondidas no subsolo. Somente agora, começamos a nos dar conta de dois grandes problemas que ameaçam o Guarani. O primeiro, é que a retirada da água está se dando em velocidade maior do que sua reposição. Estima-se que as chuvas que caem hoje nas regiões de recarga demorem 300 anos para que sejam filtradas pela terra e rochas e atinjam  os arenitos. É preciso que controlemos com seriedade a retirada da água do subsolo, para manter uma relação de igualdade entre entrada e saída das águas. Esta urgência é maior na zona rural.

O segundo, é a constante poluição das regiões de recarga, que compromete a qualidade da água que beberemos no futuro.Em nossa cidade, a Zona Leste é o grande lugar de colheita das águas que irão se filtrar até o aquífero. A Lagoa do Saibro, por onde passo todos os dias, está cheia de papéis, plásticos e lixo, mostrando a falta de consciência ecológica. Lixo nos lugares públicos só existe porque nós o jogamos. É comum considerarmos esses lugares como depósito de coisas das quais não mais precisamos. Até móveis velhos já foram retirados da lagoa.

Também os defensivos agrícolas, se aplicados de acordo com as normas, não poluem o aquífero. Na realidade, muitas vezes estas instruções não são seguidas.

A mensagem que fica é a de que depende de nós a existência e sanidade do grande reservatório subterrâneo, que nos dá a indispensável água, vital para nossa existência.

* Advogado, empresário, presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras 

 

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