O tempo é o melhor parâmetro para dimensionarmos o atraso no aprendizado de nossas crianças na educação básica. O aprisionamento a métodos de avaliações que não conseguem avaliar é um desafio intransponível. Prensados entre os que planejam e elaboram os projetos pedagógicos em suas salas refrigeradas, e os executores destes programas que estão no chão da escola – estão os educandos. E esse desencontro entre a teoria e a prática fecham os caminhos da participação e da unidade. A construção de uma educação básica de qualidade passa pelo envolvimento todos os atores neste processo – não há democracia na segmentação.
O conceito de escola criado no final do século 18 e início do século 19, que consolidou o discurso da educação como direito do cidadão e dever do Estado, no entanto na maioria das cidades brasileiras ainda é letra morta. Ao longo da história da educação básica brasileira passamos por diversos projetos que tinham por finalidade o avanço da educação básica, em alguns momentos até tivemos certa qualidade, mas era para poucos. E quando por força de acordos internacionais, como a Aliança Para o Progresso, acordo feito com o Tio Sam, em que as matrículas tinham que atingir o maior número possível de crianças na educação básica – a porca torceu o rabo.
As propagandas institucionais mostram que os índices de matrículas na educação básica estão acima de 90%, no entanto a qualidade na aprendizagem está longe do mínimo necessário. Ter duas redes públicas para atender o mesmo público não contribui para a melhoria, haja vista a discrepância que há entre as duas. Os fóruns e conferências que são realizados de tempos em tempos pelo Brasil, mostram a preocupação dos estudiosos com a qualidade do aprendizado na escola pública, mas como sempre acontece os resultados destes estudos não chegam ao ambiente escolar.
As avaliações internacionais (PISA) colocam o Brasil em uma encruzilhada, pois as avaliações feitas internamente não conseguem mensurar a real condição do aprendizado que se encontram nossos educandos. E essa falta de perspectiva desperta em alguns educadores o fantasma do saudosismo, e querem retornar as velhas práticas ultrapassadas que já fizeram parte da vida escolar, como a repetência. A pior prisão é a prisão das ideias e pensamentos, que não foram reciclados e estão guardados a sete chaves – e isso deixa o ser humano endurecido; não evolui.
A escola tem que ser um porto seguro, no entanto muitas vezes se mostra cruel com quem deveria proteger e iluminar. Os educandos que ficam pelo caminho atropelados pela evasão escolar, acabam virando estatísticas mortas – e só voltam a ser notados quando começam a figurar nos noticiários policiais. Certa vez conheci um destes meninos que foi atropelado pela evasão escolar, pois segundo a escola ele não conseguia aprender, era prisioneiro do analfabetismo. Ele frequentava diariamente uma lan house, ficava cerca de quatro horas em um computador, jogando um jogo em inglês ou chinês – e no final conseguia zerar o jogo. Aí conclui-se; “Não há aprendizagem, se não houver interesse”. A escola tem que ser libertadora, para que o aprendizado aconteça.