O Botafogo F.C. de Ribeirão Preto, logo após a partida de Sócrates, decidiu prestar-lhe uma homenagem reeditando uma camisa idêntica à que usava nos anos 70, a famosa número oito que se tornou temerária Brasil afora, mas com um detalhe: ela vinha com seu nome nas costas acima do número que o imortalizou tanto no Fogão, Corinthians, Seleção Brasileira e por onde jogou.
O cantor Fagner, que tinha o Magrão como um irmão, ficou sabendo desta camisa, me ligou pedindo que lhe conseguisse uma como recordação, eu disse sim e combinamos que lhe entregaria num show que ele faria no Sesc Vila Mariana, em Sampa. Ele reservou dois lugares e lá fomos eu e minha primeira-dama pra capital.
Após o show, fomos em seu camarim e assim que abriu a camisa com o nome do Doutor, emocionou-se. Depois me fez um pedido: “Buenão, Sócrates foi um brasileiro honrado, correto, amigo, humilde como poucos, não deixe sua memória ser esquecida, Buenão.”
Saí de lá com o pedido do Fagner na cabeça e procuro, em datas como seu aniversário e de sua partida, dar uma agitada nas redes sociais. Por onde vou sempre falo dele, de minhas lembranças em sua companhia, procuro relembrar coisas produtivas e alegres que tive o prazer de com ele conviver. Dona Guiomar, a mãe do Magrão, a quem eu adoro, também fez o mesmo pedido de Fagner. “Bueno, fale sempre do meu filho por onde você andar.” É o que faço, com muito amor.
Dia 19 de fevereiro de 2019 foi seu aniversário – faria 65 anos. Recebi muitas coisas dele no meu Facceboock, também no meu “zap” chegaram coisas do Brasil inteiro. Aqui, em Ribeirão Preto, meu amigo Wilian Bicão criou o Grupo Trutas, formado por “corintianos raiz” cujo ídolo é Sócrates. Sua imagem está estampada em uma bandeirola enorme e ela está sempre tremulando em nossas reuniões. Nela, o Magrão, com aquele gesto de braço levantado, os Trutas me ajudam a cumprir o que prometi a Fagner, de não deixar que a memória dele seja esquecida.
Outro amigo que também abraçou essa parada é o Márcio, do Empório Brasília, que mantém a mesma mesa, no mesmo lugar onde nos sentamos por anos e anos. Na parede tem um quadro entalhado em madeira com o distintivo do Corinthians e escrito: ”Mesa do Magrão”. Essa mesa é disputadíssima, quando tento nela sentar já tem alguém a ocupando, geralmente um fã de outra cidade.
Nesta mesa vi tanta coisa acontecer e sempre que me vem na cabeça alguma lembrança anoto pra colocar no papel. Certa tarde, eu e Kaxassa, seu produtor, combinamos de nos encontrar no Empório Brasília. Ele daria carona pra gente até uma festa. Assim que o Magrão encostou seu Honda Civic, notamos que o pneu dianteiro esquerdo estava “murchinho da silva”, logo o alertamos e ele, naquela calma de sempre, respondeu: “Eu sei, tem um prego fincado nele.” Logo sugeri: “Então vamos lá no nosso amigo Negrão Azevedo, borracheiro, ele dá aquela carioca pra nós.” Ele retrucou: “Buenão, faz mais de um mês que este prego tá aí, vamos passar num posto e calibrar e pau na máquina, estamos atrasados pra festa”. Lá fomos nós.
Uma semana depois, ele me ligou e disse: “Buenão, vamos pra Sampa comigo na gravadora, te pego amanhã às oito da manhã.” Ele, pontual como sempre, chegou na hora combinada. Entrei no carro e perguntei do prego, e ele, com seu jeito habitual, respondeu: “Buenão, deixe o prego sossegado, cara, vamos embora”. Retruquei: “Eu já te disse, só vou se formos consertar essa furada”. Com muito custo, convenci o Magrão a passar lá no Negrão Azevedo, que deu aquele trato no pneu e partimos.
Assim era Sócrates, simples, amigo, correto, honesto, alma bondosa, seu coração era um salão de festa lotado de gente alegre.
Sexta conto mais.