O quadrinista francês Albert Uderzo morreu na terça-feira, 24 de março, aos 92 anos, em sua residência, em Neuilly-sur-Seine, comuna às margens do Rio Sena, nos arredores de Paris. Mais conhecido por ter sido cocriador de “Asterix e Obelix”, o artista foi vítima de um ataque cardíaco sem qualquer relação com o coronavírus, segundo seu genro Bernard de Choisy relatou à AFP.
Uderzo publicou, ao lado do roteirista René Goscinny (1926-1977), 24 livros da série “Asterix”, que venderam, ao longo de seis décadas, mais de 370 milhões de exemplares traduzidos para mais de 100 idiomas em todo o mundo. Após a morte de Goscinny, a franquia seguiu adiante, rendendo adaptações live action estrelando Christian Clavier e Gérard Depardieu.
Também rendeu diversos filmes de animação e jogos de videogame inspirados nas tramas e cenários dos personagens, além, é claro, de outros álbuns em quadrinhos, sendo alguns com arte do próprio Uderzo e outros, mais recentemente, com autoria de outros quadrinistas. Entre os personagens principais de Asterix e Obelix estão o cão Ideiafix, o druida Panoramix e o chefe da aldeia gaulesa, Abraracourcix.
Desde a primeira publicação de “Asterix”, em 1959, na edição inaugural da lendária revista “Pilote”, René Goscinny e Albert Uderzo já eram reconhecidos como uma dupla bem estabelecida no competitivo mercado de quadrinhos franco-belga, talvez o mais qualificado do mundo ainda hoje.
A bande dessinée humorística de “Asterix” retratava a resistência de um vilarejo gaulês contra o irresistível avanço do Império Romano sobre suas terras no século 1º a.C. O tema pode até soar árido e mais adequado a um livro de história antiga do que ao entretenimento infantojuvenil, mas Goscinny e Uderzo provaram por décadas que eram magistrais em transformar assuntos delicados do passado em material para deleite.
Após uma bem-sucedida parceria com ninguém menos que Jean-Jacques Sempé, Goscinny trabalhou com Uderzo em “Oumpah-pah”, quadrinho que antecipa algumas das temáticas que viriam a ser aprofundadas em Asterix. Com um nativo americano como protagonista, a obra oferecia comentários ácidos a respeito do colonialismo francês na América do Norte.
Na época, “Oumpah-pah” já demonstrava a desenvoltura da dupla para trabalhar com controvérsias da história, como invasões e genocídios, por uma ótica humorística, mas nunca acrítica. Os anos 1960 foram a era de ouro da parceria entre Uderzo e Goscinny, quando as tramas mais aclamadas pelos fãs de Asterix foram publicadas, como seu encontro com Cleópatra no Egito, suas aventuras na Bretanha e seus embates com Júlio César
No Brasil, “Asterix” foi publicado pela editora Record, principalmente ao longo dos anos 1980, mas a maioria da saga permanece fora de catálogo. É possível encontrar alguns dos livros clássicos da dupla, como “A Cizânia”, “Asterix entre os Bretões”, “A Odisseia de Asterix” e “Asterix e Cleópatra”, em sebos e sites que vendem livros usados, como Estante Virtual e Amazon, por preços que variam, em média, de R$ 19 a R$ 59.
Após a morte precoce de Goscinny, no entanto, Uderzo deixou de publicar Asterix por vários anos. Eventualmente, ele mudou de ideia e teve de enfrentar críticas e controvérsias ao prosseguir com a publicação da saga como roteirista e ilustrador. Com o tempo, ele passou a convidar outros artistas para trabalhar na série, até que se aposentou de vez dos quadrinhos em 2011.