Rui Flávio Chúfalo Guião *
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O 2 de julho é dia de grande festa na cidade de Salvador, quando se comemora o fim da guerra da independência e a vitória sobre as tropas portuguesas, que não aceitavam a criação do jovem Império Brasileiro.
O Grito do Ipiranga, proferido pelo Príncipe Regente D. Pedro rompeu os laços que uniam o Reino Unido do Brasil ao de Portugal e Algarves, mas, foi só o começo de longas negociações e lutas armadas.
Na realidade, as condições para a independência surgiram quando a família real se transferiu de Lisboa para o Rio de Janeiro, fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte. A cidade tropical passa a ser a capital do Reino de Portugal e em consequência, são abolidas várias limitações impostas por Lisboa à sua mais importante colônia, bem como criam-se várias instituições que prestigiaram a sede do Reino.
Os portugueses constituíam a elite da colônia, dominavam seu comércio monopolista e tiveram mantidos seus privilégios com a presença real. Os nascidos no Brasil, entretanto, estudando em Coimbra e convivendo com as ideias da Revolução Americana, começaram a elaborar a independência. Formaram-se vários partidos: o dos que pregavam a existência de um reino dual, com duas capitais, independentes mas unidos ( o jovem imperador seria o próximo rei de Portugal );o dos que demandavam a separação, bem como os que pregavam a república.
O retorno da corte para Portugal, em 1821, atendendo a imposição da Revolução Liberal do Porto ocorrida um ano antes, que estabelecera uma monarquia constitucional, acabando com os poderes absolutos de D. João VI, bem como a intenção de limitar a autonomia do Brasil, talvez reduzindo-o de novo à condição de colônia, uniu os vários grupos, quando perceberam que a única solução seria a independência.
À declaração da independência seguiram-se dois movimentos distintos para a existência do novo Império: no âmbito internacional, urgia que as nações europeias e americanas reconhecessem o novo país. No âmbito interno, era preciso combater as províncias do Maranhão, Piauí, Grão-Pará, Cisplatina (hoje Uruguai ) e Bahia, governadas por portugueses indicados diretamente pelo Reino, autoridades estas que não reconheciam a independência.
Esta postura obrigou o jovem imperador a montar um exército, composto basicamente por mercenários, que iria ajudar os brasileiros que queriam consolidada a independência. Vários motins populares, escaramuças, revoltas ocorreram nas províncias citadas, que foram sendo vencidas pelos batalhões legalistas, composto de brasileiros, escravos e negros libertos. A última grande luta deu-se na Bahia, onde os combatentes, advindos do Recôncavo Baiano, cercaram Salvador e isolaram o comandante português daquela praça. Duas grandes batalhas permanecem vivas na memória dos baianos:a do Pirajá e a da Ilha de Itaparica, que consolidaram o cerco às tropas portuguesas em Salvador.
Em maio de 1823, a esquadra imperial brasileira, comandada pelo escocês Lorde Cochrane, chega a Salvador e ocupa a Baía de Todos os Santos. Em 2 de julho do mesmo ano, isolado, sem comida e sem munição, o exército português se rende às forças brasileiras, pondo fim às resistências à criação do novo Império.
No campo internacional, a Argentina foi o primeiro país a reconhecer nossa independência, seguida pelos Estados Unidos, Inglaterra,México e França e, em 1825, por Portugal, que concordou com a independência, desde que o Brasil assumisse sua dívida de dois milhões de libras esterlinas com a Inglaterra.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras