Na média do ano passado, 66,5% das famílias brasileiras estavam endividadas, 2,8 pontos percentuais acima do registrado na média de 2019, conforme estudo especial com base na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), calculada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). É o maior nível para uma média anual da série da Peic, iniciada em 2010.
A Peic considera como endividamento quaisquer tipos de dívidas, incluindo o uso corriqueiro do cartão de crédito. Assim, o crescimento do endividamento sinaliza expansão do crédito e não é necessariamente preocupante. Embora tenha atingido o recorde em 2020, o crescimento arrefeceu em relação ao avanço de 3,3 pontos no endividamento médio em 2019 ante 2018.
A qualidade do crescimento do endividamento passa pela dinâmica da inadimplência. Na média de 2020, segundo a Peic, a proporção de famílias com contas ou dívidas em atraso ficou em 25,5%, 1,5 ponto acima da média de 2019. Aumentou também o percentual das famílias que declararam não ter condições de quitar os débitos no mês seguinte e que, portanto, tendem a seguir inadimplentes, atingindo 11% na média de 2020, 1,4 ponto acima de 2019.
Segundo a CNC, a pandemia de covid-19 marcou a evolução do endividamento no ano passado. A proporção de famílias com dívidas ou contas em atraso começou 2020 abaixo do registrado no fim de 2019, mas houve sucessivas altas ao longo dos meses de pandemia. Em agosto, a inadimplência atingiu o ponto máximo da série histórica iniciada em 2010, com 26,7% dos entrevistados declarando ter contas em atraso.
“Esta porcentagem passou a cair durante o segundo semestre, influenciada pelo conjunto de medidas de combate à pandemia que ajudaram os consumidores com relação à capacidade de pagamento de parte das contas e dívidas”, diz a nota divulgada pela CNC. Além disso, como o avanço no endividamento em 2020 se deu de forma mais intensa entre as famílias com renda de até dez salários por mês, a piora nos indicadores de inadimplência foi mais expressiva para esse grupo.
Outro indicador da qualidade do endividamento é a capacidade de pagamento. Na média de 2020, as famílias entrevistadas na Peic declaram ter 30% de sua renda comprometidos com dívidas, 0,5 ponto acima da média de 2019. Já o tempo médio de comprometimento da renda com dívidas ficou em 7,2 meses, alta de 0,3 mês ante 2019, “o que reflete a maior participação de modalidades com prazos mais longos de pagamento, como crédito consignado, carnês, além dos financiamentos de carro e casa”.
“O aumento da parcela média da renda comprometida com dívidas não ocorreu, no entanto, na mesma dimensão que o porcentual de famílias com dívidas, o que evidencia o menor custo do crédito”, diz a nota da CNC. Assim como nos anos anteriores, o cartão de crédito foi apontado como o principal tipo de dívida entre os brasileiros no ano passado – 78%, na média anual. Em segundo e terceiro lugares, ficaram, respectivamente, o carnê (16,8%) e o financiamento de carro (10,7%).