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Num país preconceituoso, falar de preconceito é crime

A herança patriarcal, machista e escravagista, ainda convive com muita força no ceio da sociedade brasileira em pleno século 21, e qualquer manifestação que confronte esta situação, principalmente nas casas legislativas é repelida com veemência, como se fosse um crime. Foi o que aconteceu em nossa cidade, quando a Vereadora Duda Hidalgo falou em uma manifestação que a casa de leis ribei­rão-pretana era “branca e machista”, e esta fala gerou uma reação de alguns parlamentares, deixando claro que o preconceito e o machis­mo enraizados na sociedade brasileira são refletidos nos poderes Legislativos pelo País a fora.

No Brasil, o patriarcado e a herança escravocrata criaram uma sociedade desigual racista, machista e preconceituosa, onde a mulher, mesmo sendo um dos pilares da construção familiar, sempre foi relegada ao terceiro plano. Num passado não muito distante, as mulheres não podiam escolher o seu modo de vida, eram os homens que determinavam os seus destinos. Até 1934, as mulheres não podiam votar, pois segundo o lema machista não teriam capacidade intelectual para entender como funcionavam as estruturas políticas, mas estavam errados.

Os tempos sombrios que vivenciamos atualmente colocou o ódio como o seu principal ator, e os seus efeitos estamos sentindo na pele. O século 21, segundo os astros seria o século da redenção da humanidade, e que o Brasil finalmente começaria a construir o caminho da fraternidade com o fim da pobreza extrema. No entanto a construção de uma sociedade mais justa e equânime, passa pela igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres, sem distin­ção, e isso ainda não aconteceu.

Assassinar uma mulher, e alegar legitima defesa da honra era a principal tese dos advogados que defendiam os praticantes destes crimes, até 2015 quando foi Promulgada a Lei 13104/2015, que tipifica o crime de feminicídio, a impunidade prevalecia, mas a aprovação da Lei não trouxe tranquilidade, pois o STF teve que se manifestar para enterrar de vez esta prática infame. A Lei 11340/2006, chamada de lei Maria da Penha, que protege as mulheres contra a violência domestica, só foi aprovada após a intervenção da OEA (Organização dos Estados Americanos) determinando que houvesse um processo reformatório do sistema legislativo nacional, para pôr um fim na violência doméstica contra as mulheres, no entanto as mulheres continuam sofrendo, atualmente a cada seis horas uma mulher é assassinada no Brasil, se isso não for machismo – o que será?

A fala da Vereadora retrata a realidade dos legislativos brasi­leiros, que são compostos majoritariamente por homens brancos e ricos, que representam os pensamentos machistas, racistas e precon­ceituosos que a maioria da sociedade brasileira professa, portanto, o parlamento é reflexo da sociedade – preto não vota em preto, pobre não vota em pobre e mulher não vota em mulher, pois a consciência de classe não existe, ainda impera a visão míope e estreita que diz: “manda quem pode, e obedece quem tem juízo”, e neste diapasã qualquer movimento que leve a luz é considerado um ato criminoso. Entre 1948 e 2020 as mulheres ocuparam 18 vezes uma cadeira no Legislativo Municipal, contando as reeleições, já os homens ocupa­ram 342 vezes – os números comprovam que precisamos mudar.

Ao invés do Presidente do Legislativo, e alguns vereadores se ofenderem e saírem atacando a Vereadora, dizendo que a instituição foi aviltada, deveriam aproveitar a oportunidade para iniciar junto à sociedade ribeirão-pretana um amplo debate para mudar esta si­tuação, afinal 54% do eleitorado é feminino, e isso deveria se refletir no Parlamento Municipal. Há uma máxima no futebol, que diz: ”a melhor defesa é o ataque”, no entanto a convivência humana mostra que a harmonia é o melhor caminho. O machismo, o preconceito e o racismo precisam ser abolidos com urgência do nosso cotidiano, e para isso temos que falar desses assuntos todos os dias – afinal combatê-los não é crime – é luz!

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