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Nova visão sobre a independência

Acabo de ler “Guerras Europeias, Revoluções Americanas”, livro que abrange de maneira muito interessante as maquinações diplomáticas nos reinos da Europa, quando da independência das colônias espanholas e do Brasil.

Seu autor, Marcelo Raffaelli, embaixador aposentado, fez extensa pesquisa na correspondência oficial diplomática dos reinos euro­peus, onde se constrói uma opinião, a princípio divergente e depois unânime, acerca dos movimentos e resultados que separariam a América do Velho Mundo.

A independência das Américas Espanhola e Portuguesa ocor­reu no início do século XIX, precedida de eventos que mudaram a história mundial. A Revolução Americana de 1776 havia subver­tido o status quo das monarquias absolutas e criado um sistema pioneiro de República, que serviria de base para a moderna orga­nização dos governos.

Curioso que à Revolução Francesa de 1789 nós brasileiros damos mais importância, esquecidos de que foram os americanos os autores do sistema democrático representativo, coroado pela rotatividade do poder, ideia absolutamente revolucionária num mundo de reis e príncipes. Além disto, se a Revolução Francesa abalou de vez as estruturas absolu­tistas, gerou vários inconvenientes, que atrasaram a implantação de um regime democrático, que mais tarde se espalharia pelo Velho Mundo.

Portugal e Espanha já haviam perdido a condição de países cen­trais, abrigando o terror religioso da Inquisição e deixando-se dominar pela Igreja Católica, enquanto os outros países europeus iniciavam-se na Revolução Industrial e universalizavam o conhecimento através da alfabetização geral e o desenvolvimento das ciências.

Os novos poderes europeus de então, embora amedrontados pelas ideias republicanas da antiga colônia britânica e a possível ex­tensão delas para todas as Américas e mesmo para a Europa, analisa­vam a possibilidade de ajudar a Espanha a retomar suas possessões. Entretanto, os europeus estavam esgotados por guerras seguidas e relutavam em bancar uma aventura bélica cara e muito longe.

Portugal já era praticamente colônia da Inglaterra, para onde enviava o rico ouro brasileiro, quando ocorreu a transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, em decorrência da invasão napoleônica, fazendo surgir um Reino rico e forte nos trópicos. Isto parecia apontar a solução: aceitar a independência das colônias americanas, desde que adotassem um sistema monárquico com um Rei de alguma das famílias europeias reinantes.
Mas, a ideia não prosperou. A influência dos Estados Unidos já se fazia sentir, materializada na Doutrina de seu Presidente Monroe, “A América para os Americanos” e no sucesso do modelo de seu governo.

Na vasta correspondência, é interessante o cuidado com que os diplomatas, já decidida a separação, procuravam administrar este fato, convencendo a Espanha e Portugal de que ela era inevitável. Os governos já haviam decido apoiar a independência, mas mantinham negociações para que ela fosse decorrente da vontade espanhola e portuguesa e não imposição dos reinos europeus.

As iniciativas dos libertadores das colônias espanholas e o gesto de D. Pedro, acompanhados de vitórias militares, convenceram os governos europeus que era muito caro intervir nas Américas. Só restou a Portugal e Espanha aceitar o fato consumado. No nosso caso, pesaram as relações de parentesco e a grande indenização que pagamos.

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