Perci Guzzo *
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Buscar novas habilidades e capacidades para agir por um futuro seguro, pacífico e próspero. Não abrir mão do protagonismo de cada um de nós. Observar-se e atuar. Reconhecer-se em coletivos já existentes, ocupar espaços públicos e pautar o que é importante considerando a realidade dada. Influenciar os processos decisórios. Criar e apontar alternativas. Ser luz que conduz os caminhos saudáveis e emancipatórios.
Trago contribuições para pensarmos em ativismo climático e mobilização socioambiental. Para todas as gerações. Para todos que estão vivos.
Viver e conviver com a perspectiva da finitude. Todos os dias lembrem-se que morrerão. Assim, valorizarão a vida e o momento presente. Diminua a ilusão egóica do tempo infinito de vida. O presente é o que temos de real e é nele que atuamos.
Investir em técnicas que ampliem a plasticidade do cérebro. Descanse. Medite. Respire melhor. Permita-se a alegria de viver bons momentos. Amplie e aguce os sentidos: visão, olfato, audição, paladar, tato. Vá para ambientes naturais ou seminaturais, mesmo que localizados dentro das cidades. Faça atividade física com regularidade.
Estudar mais e melhor. Aprofunde e amplie seus conhecimentos. Dedique-se aos assuntos que mais gosta. Especialize-se, mas não leia apenas livros técnicos. Vá para reuniões e encontros sabendo ou duvidando de muitas coisas.
Rebelar-se, mesmo que tímida e incipientemente. Ensaie os primeiros passos. Não cumpra passivamente ordens e regras com as quais discorda. Argumente e contra-argumente. Se necessário, desobedeça. Sem agressão. Apenas, não acate. Medo? Sim, ele nos ronda a vida toda. Acolha-o com carinho e agradeça-o.
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”, João Guimarães Rosa.
Organizar-se; não entrar em pânico. “Em cas de pane, pas de panique” (em caso de pane, nada de pânico). A essência da organização é o planejamento, a articulação e a coordenação. Reúnam-se, conversem, ponderem, encaminhem, dividam tarefas e construam novos modos de ação. Empoderem-se e pautem o futuro do vosso território.
Solidarizar-se sempre. Na saúde e na doença; na alegria e na tristeza; na riqueza e na pobreza. Disponha-se a colaborar. Prontidão principalmente ao vulnerável, ao excluído. Na dúvida, fique do lado dos pobres.
Sensibilizar e sutilizar a existência. A razão é aliadíssima, mas não dá conta sozinha de potencializar o pensar e o agir. Como nossos ancestrais, acessemos e tomemos decisões a partir da intuição. Façamos nosso caminho espiritual a partir de escolhas individuais. “Do luar/Do luar não há mais nada a dizer/ A não ser/ Que a gente precisa ver o luar” (Gilberto Gil).
Reaproximar-se da terra. A experiência humana na cidade é árida. Cultivemos, pelo menos, um único alimento que faça parte da nossa dieta. Não esqueçamos que a terra é generosa e que abundância atrai abundância. Mãos à obra.
“Terra terra/ grãos sãos/ mãos lavoram/ mãos colhem/ tubérculos hibernam/ tatu se enterra/ sementes aladas/ germinam caladas/ os primeiros girassóis/ Terra gera/ fecunda sóis/ guarda o sal/ anteparo do céu/ imensos territórios/ tamanhas possibilidades/ também me enterram/ me cobrem/ encerra-se a vida/ morre”.
Dance no ar e sinta o vento nos braços e nas têmporas. Ensaie novos modos de estar, mas que sejam autênticos. O mundo já pede um outro patamar de humanidade e tudo começa com Mário Quintana “Todos esses que aí estão/ Atravancando meu caminho/ Eles passarão/ Eu passarinho…”
* Ecólogo e Mestre em Geociências. Autor do livro “Na nervura da folha”, lançado em 2023 pelo selo Corixo Edições