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Nós vamos escutar quando você chamar

Foi lançada nesta semana em Ri­beirão Preto, por uma rede protetiva para crianças, adolescentes e pessoas vulneráveis à violência sexual a cam­panha “Nós Vamos Escutar Quando Você Chamar”. O objetivo é conscien­tizar sobre abusos e violência, além de proteger as vítimas que ficam mais vulneráveis no contexto da pandemia do coronavírus (covid-19). Um vídeo, com autoridades e espe­cialistas no assunto foi publica­do em redes sociais, marcando o lançamento.

“Para tantos outros, estar em casa pode significar violência. Violência não facilmente detectada, oculta”, Carolina Gama, juíza de direito

O vídeo foi publicado no programa Tribuna Vittrine, apresentado por Maybí Ohana, dentro da página do jornal Tri­buna (@tribunaribeirao). Nele há depoimentos de autoridades municipais, que integram essa rede de proteção, como o da ju­íza responsável pelo Anexo da Violência Doméstica, Carolina Gama, da psicóloga judiciária, Marisley Vila Bôas Soares; da delegada da Defesa da Mulher, Luciana Renesto e da enfermei­ra e advogada Lucilene Cardo­so, que atua na área de saúde mental.

A juíza Carolina Gama que abre o vídeo salienta a necessidade de am­plificar a proteção dessas vítimas de violência e abuso durante a quaren­tena. Segundo ela, para muitos estar em casa significa segurança, tranqui­lidade, família e afeto. “Para tantos outros, estar em casa pode significar violência. Violência não facilmente detectada, oculta”.

A psicóloga judiciária, Marisley Vila Bôas Soares, ressalta que há diver­sos tipos de casos de violência que vão desde “passar a mão no corpo, moles­tar ou ao extremo de um adulto man­ter ato sexual com uma criança”. “Nem sempre deixa marcas ou vestígios, mas deixa marcas emocionais por toda a vida”, ressalta.

Marisley Vila Bôas Soares, psicóloga judiciária: “marcas emocionais por toda a vida”

A delegada da Defesa da Mulher, Luciana Renesto, manda um recado para quem conhece alguém ou quem so­fre violência doméstica, física, sexual ou psicológica: “todo o atendimento está em pleno funcionamento. Como pode­mos te ajudar?”.

“Não duvide do que a criança ou adolescente con­ta pra você. Criança denun­cie, mesmo sendo difícil não guarde pra você. Conte para um amigo e outras pessoas”, finaliza a advogada e enfer­meira na área de saúde men­tal, Lucilene Cardoso.

Violência contra mulher aumenta 44,9% em SP
os atendimentos da Polícia Militar a mulheres vítimas de violência aumenta­ram 44,9% no estado de São Paulo. Em relatório divulgado no último dia 20, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) informa que o total de socorros prestados passou de 6.775 para 9.817, na comparação entre março de 2019 e março de 2020. A quantidade de femi­nicídios também subiu no estado, de 13 para 19 casos (46,2%).

Policiais militares do Acre também fo­ram acionados mais vezes, pelo mesmo motivo, durante o mês passado, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o estado de pandemia para caracterizar o impacto global da doen­ça. Na unidade federativa, constatou-se um crescimento de 2,1% no número de chamados, que saltou de 470 para 480. Também foram registrados dois feminicídios, contra apenas um ocorrido em 2019.

Recado da delegada da Defesa da Mulher, Luciana Renesto: “todo o atendimento está em pleno funcionamento. Como podemos te ajudar?”

O Rio Grande do Norte apresentou um aumento de 34,1% nos casos de lesão corporal dolosa (quando há intenção de se ferir) e de 54,3% nos de ameaça. As notificações de estupro e estupro de vulnerável dobraram, em relação a março de 2019, de modo que o mês foi encerrado com um total de 40 casos.

Produzido a pedido do Banco Mundial, o levantamento mostra, ainda, que no Mato Grosso os feminicídios quintu­plicaram, subindo de duas ocorrências para dez. No Rio Grande do Norte, apenas um caso havia sido contabili­zado em março de 2019, enquanto se registraram quatro no mês passado.

Na análise, foram contemplados seis estados: São Paulo, Acre, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Pará. A coleta de dados foi feita ao longo da segunda semana de abril e abrangeu o quantitativo de registros de boletim de ocorrência produzidos pelas Polícias Civis de homicídio doloso de mulheres, feminicídios, estupros e es­tupros de vulnerável, ameaça a vítimas mulheres e lesão corporal dolosa decor­rente de violência doméstica; o número de ocorrências atendidas pela Polícia Militar por meio do 190 em casos rela­tivos à violência doméstica e sexual; e o quantitativo de medidas protetivas de urgência determinadas pelos Tribunais de Justiça.

Subnotificação de ocorrências
Apesar de se ter confirmado a mul­tiplicação dos crimes em diversos pontos do país, formalizar denúncia às autoridades policiais tem sido um obs­táculo para as vítimas, em virtude das medidas de quarentena ou isolamento social. Conforme explica o FBSP, se por um lado, as vítimas não têm consegui­do ir a delegacias, por outro, podem sentir medo de denunciar os parceiros, devido à proximidade que agora têm deles, com a perma­nência em casa.

“Não duvide do que a criança ou adolescente conta pra você”: Lucilene Cardoso, advogada e enfermeira na área de saúde mental

No último dia 13, o Ministério Público de São Paulo soltou nota, em que afirma que “a casa é o lugar mais perigoso para uma mulher”. Como referência, o órgão destaca dados da pesquisa Raio X do Feminicídio em São Paulo, que revelou que 66% dos feminicídios consumados ou tenta­dos foram praticados na casa da vítima.

O fórum comenta que esses são fatores que explicam a subnotifica­ção de casos e que acendem um alerta para que as autoridades promovam, logo, respostas frente ao problema. “Apesar da aparente redução, os nú­meros não parecem refletir a realidade, mas sim a dificuldade de realizar a de­núncia durante o isolamento”, escreve na nota.

No Acre, embora se observe que mais mulheres se tornaram alvo das agres­sões no último mês, os boletins de ocorrência tiveram queda de 28,6%. Na avaliação do FBSP, a redução demons­tra a série de obstáculos encarada pe­las vítimas para prestar queixa, assim como as taxas do Ceará (-29,1%), Mato Grosso (-21,9%), Pará (-13,2%) e Rio Grande do Sul (-9,4%).

A Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empodera­mento das Mulheres (ONU Mulheres) já havia feito um apelo para que as autoridades governamentais planejas­sem ações específicas para mulheres durante a pandemia, levando em conta os riscos que sofrem, como a violência doméstica. O organismo ressaltou que, nessa fase, as mulheres não somente enfrentam entraves quanto ao acesso a serviços essenciais ou ordens de prote­ção, mas que “o impacto econômico da pandemia pode criar barreiras adicio­nais para deixar um parceiro violento”. As colocações ajudam a entender por que a concessão de medidas protetivas diminuiu 32,9% no Pará, 67,7% no Acre e 37,9% em São Paulo, no intervalo de 1 a 12 de abril deste ano, ante o mesmo período de 2019.

No dia 7 de abril, o veículo oficial da ONU Mulheres noticiou que autorida­des, ativistas dos direitos das mulhe­res e membros da sociedade civil da Argentina, Canadá, França, Alemanha, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos têm reportado aumento nas denúncias de agressões contra mulheres e na demanda por abrigos de emergência. Singapura e Chipre, por sua vez, vivem um crescimento de 30% em chamadas nas linhas de apoio às vítimas. Na Aus­trália, a procura por socorro foi elevada em 40%, o que mais uma vez comprova a violência contra mulher como uma questão generalizada, presente em todo o mundo e em curva ascendente durante a pandemia.

Percepção de vizinhos
O FBSP destaca que os vizinhos das vítimas têm percebido a escalada da violência contra mulher e compartilhado o que testemunham em redes sociais. Segundo a en­tidade, os relatos sobre brigas entre vizinhos totalizaram 52 mil pos­tagens no Twitter, entre fevereiro e abril deste ano, um acréscimo de 431%. Ao se conside­rar apenas as mensa­gens que indicavam a ocorrência de violência doméstica, as menções chegaram a 5.583.

Pelo mapeamento, concluiu-se que um quarto (25%) do total de relatos de brigas de casal foi publicado às sextas-feiras e que mais da metade (53%) à noite ou na madrugada, entre 20h e 3h. Outra descoberta é de que as mulheres foram maioria entre os autores das postagens (67%).

Simplificação e engajamento
Para facilitar o registro do boletim de ocorrência, que, em geral, exige presença física das vítimas em uma delegacia, o FBSP recomenda que os governos façam adaptações no serviço, a exemplo do que fez São Paulo. O estado mudou as regras vigentes até o início da pandemia e agora permite que a vítima preste queixa mediante o preenchimento de um formulário via Delegacia Eletrônica , pela aba “Outras ocorrências”.

Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 1267/20, que visa ampliar, durante a pandemia, a divulgação do Ligue 180, disque-de­núncia do governo federal. De autoria de 13 parlamentares do PSOL, PT, PDT, Rede, DEM, PSB, MDB, Pros e PCdoB, a proposta é de se veicular um anúncio sobre o canal em “toda informação que se exiba por meio dos serviços de rádio e televisão aberta, programação audiovisual, notí­cias divulgadas na internet em portais, blogs e jornais eletrônicos, sejam de acesso gratuito ou pago, sobre episó­dios de violência contra a mulher”.

O Ligue 180 está disponível 24 horas por dia, todos os dias, inclusive finais de semanas e feriados, e pode ser acionado de qualquer lugar do Brasil. Vítimas residentes do exterior também pode utilizar o serviço, sendo que cada país tem um número de telefone cor­respondente, que pode ser conferido na página do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). As informações também podem ser forneci­das por meio do aplicativo Proteja Brasil, disponível para download gratuito, em versão para os sistemas iOs e Android. Através do Ligue 180 é possível, ainda, se esclarecer dúvidas sobre a aplicação da Lei nº 11.340/2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha, que prevê pena para cinco tipos de violência: moral, psi­cológica, patrimonial, física e sexual.

A pasta também elaborou informes, cartazes e panfletos contendo orien­tações de segurança para mulheres e informações, para estimular vizinhos das vítimas a prestar queixa das agres­sões. O material foi disponibilizado na página do ministério. Na última semana de março, os atendentes do Ligue 180 receberam 9% a mais de chamadas do que na semana anterior, segundo a ministra do MMFDH, Damares Alves.

Unicef pede garantia de segurança às crianças
Centenas de milhões de crianças em todo o mundo provavelmente enfrentarão ameaças crescentes a sua segurança e a seu bem-estar – incluindo maus-tratos, violência de gênero, exploração, exclusão social e separação de cuidadores – por causa de ações tomadas para conter a propagação da pandemia de covid-19. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) está pedindo aos governos que ga­rantam a segurança e o bem-estar das crianças em meio à intensi­ficação das consequências socioeconômicas da doença. A agência da ONU dedicada às crianças, juntamente com seus parceiros da Aliança para a Proteção da Criança em Ação Humanitária, divulgou em seu site um conjunto de orientações para apoiar as autoridades e organizações envolvidas na resposta.

Em questão de meses, a covid-19 mudou a vida de crianças e famí­lias em todo o mundo. Esforços de quarentena, como fechamento de escolas e restrições de movimento, embora considerados necessá­rios, estão atrapalhando as rotinas das crianças e os sistemas de apoio. Também estão adicionando novas formas de estresse aos cuidadores que talvez precisem renunciar ao trabalho.

O estigma relacionado à covid-19 deixou algumas crianças mais vulne­ráveis à violência e ao sofrimento psicossocial. Ao mesmo tempo, medi­das de controle que não respondem às necessidades e vulnerabilidades específicas de gênero de mulheres e meninas também podem aumentar o risco de exploração sexual, abuso e casamento infantil. Evidências re­centes da China, por exemplo, apontam para um aumento significativo nos casos de violência doméstica contra mulheres e meninas.

“De várias maneiras, a doença está agora atingindo crianças e famílias que não estão infectadas diretamente”, disse Cornelius Williams, chefe global de Proteção Infantil do Unicef. “As escolas estão fechando. Pais e mães estão lutando para cuidar de suas crianças e manter o equilí­brio financeiro. Os riscos relacionados à proteção para crianças estão aumentando. Esta orientação fornece aos governos e autoridades de proteção um esboço de medidas práticas que podem ser tomadas para manter as crianças seguras durante este período de incerteza.”

Ocorreram taxas crescentes de abuso e exploração de crianças durante emergências de saúde pública anteriores. O fechamento das escolas durante o surto da doença pelo vírus ebola na África Ociden­tal de 2014 a 2016, por exemplo, contribuiu para picos de trabalho infantil, negligência, abuso sexual e gravidez na adolescência. Em Serra Leoa, os casos de gravidez na adolescência chegaram a 14 mil, mais do que o dobro de antes do surto.

Telefones e contatos para denúncias
Disque Denúncia: 180
Disque Direito Humanos: 100
DDM – Delegacia Direito da Mulher: (16) 3610 4499
Conselho Tutelar: 0800 771 7210
Promotoria da Criança e Adolescente: (16) 3629 3848
Projeto ESPLENA: (16) 3315 4762
SEAVIDAS: (16) 3602 2699
Assistência Jurídica Municipal: (16) 3917 1702
Assistência Jurídica Estadual: (16) 3625 2012
Conselhos Municipais: [email protected]
Setor Técnico do Anexo de Violência Doméstica:
[email protected]

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