Por Beatriz Bulla, correspondente, e Ricardo Leopoldo, enviado especial
O presidente Jair Bolsonaro chegou às 15h40 (16h40 em Brasília) deste domingo, 17, aos EUA, onde se encontrará na tarde de terça-feira (19) com o presidente americano, Donald Trump. Um grupo de 60 manifestantes protestou em frente à Casa Branca contra a visita do brasileiro. No Twitter, quando pousou em Washington, ele disse que a união entre Brasil e EUA “assusta defensores do atraso e da tirania”.
“Pela primeira vez em muito tempo, um presidente brasileiro que não é antiamericano chega a Washington. É o começo de uma parceria pela liberdade e prosperidade, como os brasileiros sempre desejaram”, escreveu Bolsonaro. O grupo já havia se desmobilizado no momento da chegada de Bolsonaro ao local onde se hospedará.
Bolsonaro ficará na Blair House, residência de hóspedes do governo americano, em frente à Casa Branca. O local também recebeu os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff em suas visitas ao país. No Twitter, Bolsonaro disse que essa é uma “honraria concedida a pouquíssimos chefes de Estado”.
O primeiro compromisso do brasileiro foi um jantar na noite de domingo com representantes do movimento conservador americano. Entre eles, estava Steve Bannon, ex-assessor de Trump que rompeu com o presidente americano – essa proximidade causa desconforto em parte do governo americano. Outro convidado era Olavo de Carvalho, escritor que indicou vários integrantes do governo. Em um jantar no sábado, Olavo disse amar Bolsonaro, mas se mostrou pessimista quanto à administração. “Se tudo continuar como está, já está mal. Não precisa mudar nada para ficar mal. É só continuar isso mais seis meses e acabou”, afirmou. Olavo também chamou o vice, Hamilton Mourão, de idiota.
Em discurso durante o jantar deste domingo, Bolsonaro enalteceu o que vê como aproximação entre Brasil e Estados Unidos e criticou o “antigo comunismo”. Segundo o porta-voz da presidência, general Otávio Rêgo Barros, Bolsonaro apresentou ideias de “fortalecer o comércio, reconhecendo que os EUA são o segundo mercado para os produtos brasileiros, reconhecendo que a diplomacia de fortalecer a democracia neste lado do Ocidente é importante, reconhecendo que aspectos relativos ao antigo comunismo não podem mais imperar”.
O cardápio foi composto por mousse com ovas de entrada, “bife Wellington” como prato principal e quindim na sobremesa. Bannon sentou-se à esquerda do presidente e acompanhou a recepção com um fone para tradução simultânea. Olavo de Carvalho ficou à direita de Bolsonaro.
O jantar aconteceu na residência do embaixador do Brasil nos EUA, Sérgio Amaral. Bolsonaro já indicou que o embaixador será substituído, ao sugerir na semana passada que diplomatas brasileiros seriam os responsáveis por sua imagem ruim no exterior. Segundo o porta-voz, contudo, Amaral foi “muito fidalgo” com Bolsonaro. O diplomata Nestor Forster, que apresentou o chanceler Ernesto Araújo a Olavo de Carvalho, é cotado para o posto. Bolsonaro encontrará nesta segunda-feira, 18, empresários e investidores. Ele também dará a entrevista à Fox News.
Atos
Entre os manifestantes americanos e brasileiros reunidos neste domingo diante da Casa Branca, havia temor de que o relacionamento dos dois chefes de Estado possa elevar as tensões na Venezuela, com efeitos negativos para a estabilidade na América do Sul.
“Bolsonaro e Trump legitimam a extrema direita em nível global, pois assumem uma retórica perigosa contra diversos setores da sociedade”, afirmou o americano Michael Shallal, um dos organizadores do protesto, funcionário de um museu em Washington Segundo ele, um dos seus principais temores é que “os EUA poderão espalhar o imperialismo pela América do Sul, sobretudo com um golpe à Venezuela, com intervencionismo militar.”
Para Barbara Silva, tradutora e professora de português e espanhol, Bolsonaro defende “um discurso de ódio” embasado em preconceitos contra mulheres, negros e apoiadores do movimento LGBT.
Ao sair da Blair House para o jantar com integrantes do movimento conservador, Bolsonaro ouviu os gritos de um apoiador, Daniel Carvalho de Oliveira, que tem 54 anos e mora nos EUA há 29 anos. “Bolsonaro, we love you, continue fazendo o que você está fazendo. Você está sendo o cara. Não deixe a corrupção te pegar, você não precisa”, afirmou. Bolsonaro acenou e agradeceu, em português e em inglês, dizendo “thank you”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.