Por Mariane Morisawa, especial para o Estado
Os cenários da série The Good Doctor, que ocupam sete estúdios em Vancouver, no Canadá, pouco devem a um hospital de verdade – tanto que o filho de um dos atores, que tinha passado muito tempo em um, saiu correndo ao visitar o pai no set de gravação. “Os corredores são mais largos do que o normal, para caber a equipe, e as janelas e vidros são todos móveis, para encaixarmos as câmeras e escondermos equipamentos”, explicou o produtor Shawn Williamson em uma visita ao set acompanhada pelo Estadão no ano passado, portanto, antes do início da pandemia.
Algumas paredes foram derrubadas para permitir corredores extensos o bastante para as longas conversas em movimento de que o criador, David Shore (House), tanto gosta. Alguns aparelhos são verdadeiros – uma lâmpada que queimou no centro cirúrgico de mentirinha custou cerca de R$ 50 mil. “Tentamos ser 99% corretos com as questões médicas”, explicou ele. Uma enfermeira fica de prontidão no set para solucionar qualquer dúvida do elenco ou da equipe.
A segunda temporada da série termina na próxima segunda-feira, 10, às 21h, no Sony Channel, precedendo um novo episódio da primeira temporada de The Night Shift, que mantém a faixa das séries médicas no canal, às 21h55. The Good Doctor, que tem a terceira temporada exibida pela Globoplay, é um tremendo sucesso
“Eu acreditava que ia ter algum público. Afinal, ela é escrita por David Shore, de House”, disse a atriz Antonia Thomas, que faz a dra. Claire Brown. “Mas não esperávamos tanto.” Na série, o Dr. Shaun Murphy (Freddie Highmore) é um jovem médico no espectro autista, que consegue desvendar casos complexos ao mesmo tempo em que tem dificuldades de relacionamento com seus colegas e pacientes.
No dia da visita, Highmore não pôde atender a imprensa porque, além de ser o protagonista, estava dirigindo o episódio que estava sendo gravado naquela semana (Autopsy, o 16º da terceira temporada).
Antonia Thomas elogiou o colega de elenco e diretor. “É demais trabalhar com Freddie. Ele é tão inteligente. Quando está atuando e dirigindo a cena, é impressionante de ver.”
Para Will Yun Lee, que interpreta o dr. Alex Park, Freddie Highmore é o segredo do sucesso, junto com David Shore.
“Estamos condicionados a nos censurar. E aqui temos esse personagem que diz tudo o que gostaríamos de dizer na vida real. Isso permite que o público se identifique.”
Para Antonia Thomas, há outras explicações para The Good Doctor ser tão bem recebida no mundo inteiro, incluindo o Brasil. “Numa época tão difícil, a série tem uma mensagem positiva. Mas também não é água com açúcar”, disse. “David Shore tenta mostrar os dois lados da história, para que tenhamos empatia. Mesmo quando lidei com um racista na primeira temporada, os roteiristas deram um jeito de revelar num lampejo por que deveríamos ter alguma empatia por aquele personagem. Acho isso importante no momento.” Will Yun Lee concordou com sua colega. “Muita gente me diz que assiste com a família. E a verdade é que não existe mais muito espaço para um tipo de televisão que oferece esperança.”
Christina Chang, que faz a dra. Audrey Lim, acredita haver algo de reconfortante em séries procedurais, que apresentam um caso por semana geralmente. “Todos nós podemos ficar doentes. Mas, em The Good Doctor, os resultados costumam ser positivos, os médicos são comprometidos e sabem o que estão fazendo.”
Will Yun Lee viveu na pele a aflição de precisar de assistência médica, no caso, para seu filho, hoje com 6 anos de idade, que sofre de uma doença rara chamada moyamoya, em que os vasos sanguíneos que suprem o cérebro de oxigênio se estreitam, causando convulsões e AVCs. “Houve episódios que pareciam transcrições de situações que eu tinha passado. Precisava pedir um tempo para me recompor”, contou o ator.
Ele e a mulher chegaram a viver em um hospital por quase um ano. “Ganhei uma perspectiva diferente, alinhada com esta série, que tenta dar esperança. Nela, é especial ver os médicos se importando, lutando para ter mais recursos, para salvar os pacientes. E eu conheci médicos assim.”
Sua experiência fez com que admirasse cada vez mais os profissionais da saúde, especialmente o neurocirurgião Gary Steinberg. “Ele é um herói.” Uma constatação ainda mais pertinente nos dias em que estamos vivendo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.