Marcus Liborio – SAP/CRN
“Nunca imaginei um dia ser professor. Me descobri aqui na prisão”. A frase é do reeducando Luciano Cabral da Silva, 44 anos, ao descrever o sentimento de conquista após receber o diploma em pedagogia durante cerimônia de colação de grau realizada no início do mês na Penitenciária I de Serra Azul. Foi atrás das grades que ele descobriu a vocação para dar aulas e não se vê mais longe dos livros. “Pretendo renovar meus conhecimentos a cada dia. Vou estudar até o fim da minha vida”, projeta.
A graduação de Luciano foi possível porque, desde 2010, o presídio tem convênio com o Centro Universitário Claretiano de Batatais para oferecer Ensino Superior a Distância. Em 2015, inclusive, a unidade prisional realizou a formatura do primeiro detento do Estado de São Paulo a concluir uma faculdade enquanto cumpria pena em regime fechado.
Preso pela primeira vez em 1994 em Cravinhos (SP), onde nasceu, Luciano foi condenado a três anos por tráfico de drogas. “Ao ganhar a liberdade, contudo, eu ainda persistia no pensamento da criminalidade”, conta.
Ele passou por outros presídios acusado de tentativa de furto e tráfico. Em 2007, voltou à prisão por roubo a mão armada. “Eu roubava para sustentar o meu vício em cocaína e crack”, lembra Luciano, que, após ser solto, em 2009, se apegou a Deus para mudar de vida.
“Larguei as drogas e não pratiquei mais crimes, mas havia vários processos em andamento e voltei para a prisão, aqui em Serra Azul, onde busquei ocupar o meu tempo trabalhando”, relata.
Educação
Após passar por vários setores do presídio, Luciano pediu vaga para faxina da escola. Quando tinha uma folga, aproveitava para ler na biblioteca. Os livros e o ambiente escolar o motivaram a retomar os estudos, que ele havia abandonado na sétima série. Na unidade, concluiu os ensinos Fundamental e Médio.
Através de projeto executado na penitenciária pela Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” (Funap), Luciano se tornou monitor da escola e teve acesso ao Ensino Superior à Distância oferecido por meio de parceria com o Claretiano.
Ganhou bolsa com 50% de desconto na mensalidade para cursar pedagogia. O restante era pago com o salário de monitor. Agora que concluiu a faculdade, faz planos para continuar na área acadêmica quando ganhar a liberdade. “Quero fazer pós-graduação”.
Completo
Luciano não conteve a emoção ao final da colação de grau: abraçou a esposa, Renata Quaglio da Silva, e as filhas de 20 e 11 anos. “Queria ser uma pessoa melhor para a minha família. Hoje, me sinto completo e pronto para reescrever uma nova história”, banca.
“Sinto muito orgulho do meu marido. Sei que quando ele sair daqui será uma pessoa renovada”, aponta Renata.
Coordenador Geral de Educação a Distância do Centro Universitário Claretiano, Evandro Luís Ribeiro cita a força de vontade de Luciano em busca de novos caminhos, apesar das dificuldades impostas pelo encarceramento. “Ver a participação dos familiares e de toda sociedade nesse evento é muito significativo e emocionante”.
Tudo é possível
A colação de grau fez parte da programação da 4ª Jornada de Cidadania e Empregabilidade da Penitenciária I de Serra Azul. Para o diretor da unidade, Reginaldo Neves de Araújo, educação é a principal ferramenta no processo de transformação de uma pessoa. “Esse curso a distância reforça para a sociedade que o sistema penitenciário é apto a qualificar o preso”, observa.
Inclusive, com a conquista, Luciano passou a ser exemplo de perseverança e de luta para outros reeducandos. “A mensagem que deixo é que sempre haverá dificuldades. Se pensar em desistir, nunca chegaremos a lugar algum. Tudo é possível. Se você acredita genuinamente em alguma coisa, ela realmente acontece”, ensina.
Quando sair da prisão, Luciano quer ministrar palestras em igrejas, escolas e casas de recuperação para contar sua história de superação. “Vou falar da fé e mostrar a força da educação”, finaliza.